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7 de nov. de 2017

Método APAC

Voluntário difunde método de prisões humanizadas exportado para 19 países



Os termômetros marcam 35°C numa tarde de agosto em Timon, interior do Maranhão. Indiferentes ao calor, 50 homens condenados por crimes tão diversos quanto homicídio, roubo, estupro e tráfico de drogas entoam um hino, a plenos pulmões.

"Tire essa algema da mente, levante a cabeça e siga em frente. Diferente de antes, me sinto um humano, capaz de aprender a amar. Abra sua mente e ouça o que diz essa canção. Na Apac eu tive minha última chance. Estou em recuperação."
A cantoria celebra a entrega de diplomas de cursos profissionalizantes concluídos pelos presos da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), onde cumprem pena numa rotina rígida de palestras, cursos e jornada de trabalho.



O local não tem armas nem policiais ou carcereiros, e são os próprios internos, ali chamados de recuperandos, que guardam as chaves das celas.

Sentados diante do coral, o juiz de execuções penais, o promotor e os defensores públicos da cidade batem palmas no ritmo da música, ao lado do mineiro Valdeci Ferreira, 55, o grande artífice daquela cena.



Há 33 anos, Ferreira adotou a recuperação de criminosos como missão de vida. Sua devoção, que ele atribui a um chamado divino, multiplicou as Apacs, de uma unidade para 48, espalhadas por cinco Estados do país, que reúnem cerca de 3.500 recuperando. Elas são coordenadas pela Fbac (federação das Apacs), entidade que criou para disseminar e fiscalizar uma metodologia inovadora de humanização do sistema prisional.


Na cerimônia de Timon, os olhos satisfeitos de Ferreira ficam especialmente interessados nos 11 homens que ocupam, um tanto perplexos, o último banco do salão apinhado.Eles haviam acabado de ser transferidos da penitenciária local. E o contraste não poderia ser maior.


Horas antes, ocupavam celas lotadas e insalubres, numa rotina de ócio, drogas, tensão e hostilidade entre facções.
Foi essa combinação perversa que fez o Estado do Maranhão chocar o país em 2013, quando 62 presos foram brutalmente executados no presídio de Pedrinhas (MA), muitos deles decapitados. O episódio, de repercussão internacional, seria o prenúncio de outras barbáries e crises do sistema penitenciário nacional, o quarto maior do mundo.
"Os presídios são desertos de miséria e sofrimento. O Estado está ausente, e as facções ocupam este espaço. A sociedade, ferida por essas pessoas, esquece que aqueles abandonados atrás das grades uma hora voltam para o convívio social, e voltam piores", alerta Ferreira.


As Apacs são pequenos oásis. "Aplicamos a pedagogia da presença e caminhamos junto com aquele que cometeu o delito, oferecendo uma chance de mudança de vida", explica, entre as grades ali usadas também como suporte para vasos de plantas.