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31 de ago. de 2007

Robson Sávio Reis Souza

Tragédia previsível
Há exatos dez anos, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa de Minas apontava: o sistema penitenciário do Estado era marcado pela superlotação das unidades prisionais, maus tratos e violência contra presos e seus familiares e corrupção de agente público.

Em 2001, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa mostrava, em novo documento sobre a situação prisional de Minas, que os cárceres eram caracterizados pela tortura, parcos investimentos no setor, fugas e rebeliões, tratamento prisional desumano, subutilização das penas alternativas e a ausência de um serviço de assistência jurídica ao preso.
Anos se passaram; governos se sucederam; promessas de solução foram anunciadas aos quatro ventos; planos estaduais de segurança pública prometiam a rápida resolução do problema.
A ausência de grandes rebeliões, nos últimos anos, parecia anunciar que havia uma mudança para melhor. A "paz dos túmulos" nas cadeias e penitenciárias era mera aparência. A Comissão Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte vinha recebendo inúmeras denúncias de violações dos direitos dos presos. E encaminhava às autoridades competentes pedidos de providências. Providências que foram solicitadas, também, pelo Poder Judiciário quando constatou a iminência de uma rebelião em Ponte Nova, há meses. E todos sabem o final desta história.
O sistema prisional mineiro (e brasileiro, diga- se de passagem) está falido. Tentar consertálo é como colocar um remendo novo em panos velhos. Ineficiente (o custo médio do preso, por mês, gira em torno de um mil e duzentos reais e o índice de reincidência beira aos 80%), violento (gangues disputam poder e prestígio dentro das prisões), poroso (a corrupção de agente público é constantemente denunciada) e perigoso (a qualquer momento vítimas inocentes podem ser presas fáceis desse barril de pólvora, seja em rebeliões, fugas, etc.).
Em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital, o PCC, já demonstrou, por mais de uma vez, que o crime que se organiza dentro dos presídios brasileiros, debaixo da barba dos governantes, é tão ou mais perigoso que a criminalidade nas nossas ruas, praças e cidades. Também no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho e outras organizações criminosas já demonstraram que, dentro das prisões, no modelo prisional vigente, reproduzse em escala muito maior e mais densa a violência e a criminalidade que a sociedade teme.
Portanto, governos e sociedade civil precisam discutir um novo modelo prisional: que as prisões, voltadas exclusivamente para a detenção de indivíduos de alto poder ofensivo, se transformem em locais que favoreçam a ressocialização dos detentos. Que as penas e medidas alternativas sejam ampliadas, para que crimes de baixo e médio teor ofensivo possam ser transacionados com esse tipo de medida mais eficiente e eficaz. Que o Estado invista nos programas de prevenção à criminalidade, principalmente voltados para a juventude. Que o Judiciário seja mais célere e menos seletivo ("mais vale a certeza da punição que a dureza da lei"). Que os agentes penitenciários sejam devidamente preparados para lidar com os presos. Que a corrupção e a violência do sistema sejam banidas. E que a sociedade exija que o problema prisional seja tratado como política pública e não como panfletagem de governo.
Ou partimos para uma discussão efetiva da melhoria das condições de execução das penas, no Brasil, ou pagaremos a seguinte conta: temos 420 mil presos e quase 500 mil mandados de prisão não cumpridos. Somente para cumprir os mandados de prisão, o Brasil teria que construir 1.600 unidades prisionais (cada unidade com 300 presos). E a reincidência? E a corrupção de agentes públicos? E o custo mensal para a administração desse sistema? Façam a conta e verão que o modelo atual é absolutamente insustentável.
Portanto, o argumento propalado de que a construção de prisões resolveria o problema não responde ao evidente fracasso desse malfadado sistema. Fundamental, porém, que as respostas do poder público não escondam essa dramática realidade. E que a tragédia de Ponte Nova possa significar uma verdadeira e efetiva mudança no sistema prisional mineiro.

*Professor (PUC/MG) e integrante da Comissão Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte

Fonte: Jornal O tempo - 29/8/07

29 de ago. de 2007

Salvo-conduto para matar

Um jovem negro foi morto por um segurança do banco Itaú em dezembro de 2006. O jovem era cliente do banco há 10 anos. Passados cerca de 8 meses, 18 de julho deste ano, a justiça absolveu o assassino. Disseram que agiu em legítima defesa. Mas, legítima defesa como, se a vítima estava desarmada e nem chegou a tocar no assassino?
Tenho alertado para uma cultura de "legalização" do assassinato neste país, ainda mais quando as vítimas são negros ou pobres. Há um salvo-conduto para matar distribuído para toda a sociedade brasileira. Sendo "primários", todos podem matar uma vez. Na segunda vez, pode ser que a justiça retire o salvo-conduto. Vai depender do status do assassino. Vejamos mais esta infâmia da (in) justiça brasileira.


Carta ao Brasil pede Justiça
Por: Redação - Fonte:
Afropress - 27/8/2007

Rio – Na carta lançada pela família do jornaleiro assassinado dentro da agência do Itaú , o tom é de dor e revolta pela impunidade. A família ainda não se conforma do porque os sete jurados do Conselho de Sentença – cinco homens e duas mulheres – todos brancos – declararam a inocência do segurança, alegando legítima defesa. “Esta foi a segunda morte do meu irmão”, contou Magna.
Veja, na íntegra, a Carta ao Brasil

CARTA ABERTA AO BRASIL
De: jonaseduardo@ brasil.com. br
Para: povobrasileiro@ brasil.com. br
Cc:bancoitau@ brasil.com. br
protegeempresadesegurança@brasil. com.br
Durante a minha vida não tive bens, nem posses. Tive apenas um valioso e inestimável patrimônio: a educação recebida dos meus pais – Antonio Salvador e Manoela Paula dos Santos - o amor deles e dos meus irmãos, minha família, e a amizade e o respeito dos amigos que me conheceram mais de perto.
Era, o que já virou definição para os que não nasceram em berço de ouro: um sem-bens, além dos arrolados acima, coisa que banco nem dinheiro nenhum podem comprar.
Neste dia 27 de agosto estaria completando 33 anos. Não terei meu jantar surpresa feito pela minha querida mãe, que tem por hábito fazer para todos os filhos. Não poderei mais comer do meu bolo de chocolate com recheio de coco e todos aqueles morangos que ela colocava em cima, junto com as minhas trinta e três velas.
De mim sempre disseram ter índole pacífica, como de fato nunca me envolvi em qualquer conflito, nem mesmo em briga de rua nos tempos de moleque. Passagem pela Polícia, nem pensar. Meus pais sempre me ensinaram a respeitar o alheio e a fazer o bem.
Era, portanto, como milhões de outros brasileiros, que vivem para o trabalho e para a família. Até que, no dia 22 de dezembro de 2.006, quase às vésperas do Natal, ao entrar numa agência do Banco Itaú, da qual era cliente havia 10 anos, perdi minha vida.
Fui brutal e friamente assassinado, em pleno centro do Rio de Janeiro, depois de sofrer as humilhações a que são submetidos, costumeiramente, as pessoas que como eu, que carregam desde o dia em que nasceram o estigma de suspeitas por serem negras.
Primeiro, fui barrado na porta giratória, essa espécie de blitz adotada pelos bancos, acionadas, - agora sei -, por controle manual; ao contrário do que divulgam, são os seguranças contratados – um dos quais disparou em mim – os responsáveis pelo seu controle.
Naquele dia, o segurança Natalício Marins, que há algum tempo demonstrava aberta antipatia a mim, exagerou: quase me obrigou a me despir; humilhou-me o quanto pôde e só consegui entrar porque a gerência do banco intercedeu.Numa situação como essa, quem não fica nervoso, quem não perde a calma? Fui cobrar explicações, mas nem para isso tive tempo. Um tiro certeiro disparado à queima roupa me atingiu em cheio no peito. Só tive tempo de ver que o mundo girava em volta e que pessoas gritavam e corriam apressadas. Caí para nunca mais me levantar e fiquei lá mesmo dentro da agência, enquanto o assassino fugia.
Acompanhei de onde estou a dor dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus amigos. Minha mãe e o meu pai – já bastante debilitados pela idade e pelos sofrimentos de uma vida difícil -, os meus irmãos Josias, Júlio, Josué, Magna, Marizia e Genaina foram os que mais sofreram.Nunca mais serão os mesmos. Sou testemunha da dor que carregarão para sempre, e que será sempre lembrada pela minha ausência. Ver um ente querido, um irmão que agente viu crescer assassinado por nada, por um motivo fútil, na porta de um banco no qual deveria estar seguro, é muito forte para qualquer pessoa.
O pior, porém, estava por vir. Passados cerca de 8 meses, no dia 18 de julho deste ano, aconteceu o julgamento do crime e, para surpresa de todos, o Conselho de Sentença absolveu o assassino. Sim, é isso mesmo! O homem que tirou a minha vida foi, simplesmente, declarado inocente. Disseram que agiu em legítima defesa. Mas, legítima defesa de quem, se eu estava desarmado e nem cheguei a tocá-lo?
Esse julgamento, na verdade, me julgou e me decretou essa segunda morte, que, creiam, é o que mais me dói porque não matam com isso só a mim, que já estou do lado de cá. Matam a esperança de todas as pessoas que ainda acreditam na Justiça. Se essa morte vier a ser confirmada será a descrença total na Justiça desse país, já bastante abalada, como se sabe.Os membros do Tribunal do Júri – influenciados pelo poder do Itaú (segundo soube pelos jornais teve um lucro médio superior a R$ 4 bilhões só nos primeiros seis meses deste ano), deram um salvo conduto, um passe livre, para que qualquer segurança de banco passe a executar pessoas – com as quais não simpatize – depois de submetê-las aos constrangimentos das portas-giratórias, como foi o meu caso.
Este julgamento, que é a consagração da impunidade e da injustiça no país precisa ser anulado e novo julgamento terá de acontecer, para que – meus pais, irmãos, minha família, meus amigos – possam, ao menos ter o consolo de seguirem com suas vidas, com toda a dor que carregam, mas em paz, por terem visto Justiça.
O Brasil não pode ser o país da impunidade e da injustiça. Não pode ser um país em que um homem honrado pode ser assassinado friamente e o seu assassino volte pra casa e ainda seja declarado inocente, como se tivesse abatido um animal feroz.
De onde estou só peço aos meus pais, irmãos, a minha família e aos amigos: pelo amor de Deus, não esmoreçam. Não descansem um minuto sequer. Levantem a voz, em todos os momentos, em todos os lugares, em todas as circunstâncias – para qualquer um que ainda não tenha perdido a capacidade de se indignar com a injustiça.Já que não puderam impedir a primeira, não deixem que essa segunda morte, se confirme! Sempre acreditei na Justiça. Um dos meus sonhos era fazer Direito. Atingiram o meu corpo, mas o meu espírito, a minha dignidade, esses continuam intocáveis. E de onde estou, quero poder acreditar que a Justiça será feita!Do lado de cá, contem sempre com o meu carinho, o meu amor e a minha força!
ASSINADO: JONAS EDUARDO SANTOS DE SOUZA
QUEREMOS JUSTIÇA POR JONAS!

1 – Que seja realizado novo julgamento onde prevaleça a Justiça e não a impunidade!
2 – Que o assassino seja condenado!
3 - Que cessem as humilhações das portas giratórias contra aquelas que são sempre, injustamente, olhadas como suspeitos preferenciais – as pessoas negras!
COMITÊ JUSTIÇA POR JONAS!
(Pai, Mãe, Irmãos, Irmãs, Parentes e Amigos de Jonas)

Transcrito do blog
Palavra Sinistra

28 de ago. de 2007

Antonio Veronese


Ressocialização e arte
(ou 600 meninos)

Antonio Veronese

Álbum Faces of Fear-New York 2001


Imaginem uma sala pequena e suarenta, quase escura, com 46 meninos dentro.
25 são negros, 12 mulatos e 9 brancos.
16 estão com piolho, 4 com escabiose, 11 com conjuntivite, um tem o corpo coberto por furúnculos.
16 tem cicatrizes massivas resultantes de agressões.
12 já foram baleados, quatro feridos à faca, três têm marcas de queimaduras.
26 são analfabetos totais, 12 só sabem escrever o próprio nome.
28 são órfãos de pai, 8 órfãos de mãe, 6 de pai e mãe.
9 deles foram violentados.
39 já fumaram maconha.
41 já cheiraram cola.
22 revelam uma grande "fissura" por chá de cogumelo.
7 têm tiques nervosos entre os quais a gagueira.
Um tem hipermetropia e catarata degenerativa,
um está com pneumonia,
um com suspeita de tuberculose,
um tem a pele da perna direita fragilizada devido a queimaduras de terceiro grau.
23 estão com algum tipo de doença venérea,
6 estão jurados de morte pelo tráfico,
11 têm desavenças sérias na própria comunidade ou no presídio,
um tem dezoito marcas de queimaduras a cigarro,
um tem um pedaço de vidro encravado na face,
e um perdeu totalmente a articulação do cotovelo esquerdo após ser amarrado a um automóvel e arrastado.
Dos quarenta e seis, 12 estarão mortos antes de completar 25 anos.
A sala, dentro de um presídio de menores, tem uma mistura de cheiros produzidos pelos desarranjos intestinais e a copiosa sudorese. Esse grupo de infelizes não incomoda mais; está retirado das ruas, não causa mais risco a ninguém. Esse grupo nasceu mal-nascido, cresceu mal-nutrido, desde pequeno apanhou como gente grande, ainda impúbere fez sexo como gente grande...
Esse grupo de desgraçados logo descobriu que uma ponta de cola de sapateiro, dez vezes mais barata do que um cachorro quente, tira a fome e ajuda a dormir...
Esse grupo de meninos, órfãos absolutos do Estado, até que tentou arrumar um emprego, mas acabou sucumbindo ao canto de sereia dos traficantes,com suas ofertas de dinheiro fácil e emoções sem limites.
Esse grupo, de trágico passado e sombrio futuro, está reunido nesta pequena sala, na modorra da tarde, para ouvir Mozart e pintar a óleo e, surpreendentemente, o trabalho que resulta desta tosca oficina encanta a todos, e revela, apesar de tudo, uma remanescente alma de criança nesses meninos de cara feia e história triste.
Pelo simples exercício de pintar e ouvir música, mais de 50% deles tem suas penas reduzidas ou comutadas, sendo considerados re-adaptados ao convívio social. Provocados por atividades estético-culturais emocionam-se e recuperam rapidamente a auto-estima e a dignidade. A violência intra-grupo cai a zero e a sua reincidência no crime é três vezes menor.
Somente no Rio de Janeiro mais de 600 meninos são assassinados a cada ano.
Outros 5.500 sofrem lesões corporais dolosas, e 60% de todas as crianças cariocas,independentemente de classe social ou geografia urbana, sofrem de doenças psicossomáticas relacionadas ao medo.
Acabo de apresentar à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas fotografias de 160 dessas crianças que trabalharam comigo, as quais têm em comum os corpos marcados por cicatrizes decorrentes da violência urbana, doméstica e policial.
Os números censitários da violência contra menores no Rio nos permitem afirmar que há um genocídio de jovens em curso no Brasil! E, disso, precisamos tratar prioritariamente! Não advogo impunidade, pois sei que muitos destes infratores têm tal septicemia moral que têm que ser afastados do convívio social. Mas o que especialmente me incomoda é a constatação de que a imensa maioria deles poderia ser salva, mas , apesar disso, está simplesmente sendo jogada no lixo.
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Sobre o autor
"Ao recolher esses meninos infratores em seu atelier Veronese os transforma simplesmente em meninos. Quando os ensina a pintar, transforma-os em artistas". Antonio Callado
Antonio Veronese, artista brasileiro de renome internacional, tem obra exposta em numerosos museus, coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Pela denúncia da violência contra menores no Rio de Janeiro, Veronese foi convidado-palestrante à Comissão de Direitos Humanos da ONU- em Genebra, e recebeu, da Suprema Corte de Justiça brasileira, a menção Honnoris Causa" Risoleta Córdula-Assustos Culturais-Embaixada brasileira em Paris.

Antonio Veronese manteve durante anos, na década de 90, um projeto de oficinas de arte nos centros de recuperação de jovens infratores, utilizando a pintura como forma de reabilitação psico-pedagógica dos adolescentes entre 12 e 18 anos. Alguns dos trabalhos produzidos pelo jovens foram expostos em Genebra (Suíça), no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília, e na Universidade de San Francisco, nos Estados Unidos.

26 de ago. de 2007

Apartheid

Massacre na prisão de Ponte Nova (MG) e o racismo no Brasil
Negros choram a perda de seus familiares

As fotos do enterro dos mortos no massacre são a radiografia do racismo no Brasil. 85% da população carcerária é negra. Marcados e excluídos pela discriminação, os negros são presos por qualquer situação de suspeita, por qualquer delito, que, entre os brancos, receberia outra abordagem pela polícia e pela própria justiça.

25 de ago. de 2007

Crematório geral

CREMATÓRIO GERAL de PONTE NOVA-MG
O terceiro maior massacre nas prisões brasileiras

Severino Custódio não tivera nem mesmo uma audiência com o juiz . O juiz responsável foi procurado pela reportagem, mas "estava de férias".
Severino era um dos milhares de presos brasileiros que são jogados numa cela pela polícia e ali ficam, como lixo, na chamada prisão preventiva, esta excrescência que só vale para "severinos". “Ele trabalhava comigo na granja. Se meteu numa briga boba e foi preso”, diz o irmão de Severino, sempre olhando para baixo e com a carteira de trabalho do irmão no bolso da camisa.

Dos 25 mortos, 20 estavam em prisão preventiva.

(Lembram-se do assassino confesso, julgado e condenado Pimenta Neves? Não "pôde" ser preso porque o juiz considerou ilegal a sua prisão, uma vez que o STJ lhe havia dado o direito de recorrer em liberdade. Como a justiça é generosa com as classes "superiores". Superiores em crimes, falcatruas e privilégios, isso sim!)
A GESTAPO brasileira, o DOI-Codi da ditadura continuam perseguindo, prendendo e matando, mas, agora, são apenas "severinos", para estes não houve anistia.

Fonte das informações: jornal Estado de Minas - 25/8/07

24 de ago. de 2007

Réquiem para Severino

O primeiro da lista de mortos na cadeia pública de Ponte Nova é Severino dos Santos Custódio, de 28 anos. Cumpre-se a sina neste país de matar seus severinos.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

21 de ago. de 2007

Textos da edição 134

RECUPERANDOS DE LEOPOLDINA

MARIA APARECIDA DE PAULA CAMILO
Oportunidade
Quero recomeçar uma nova vida, mas tenho que pagar por um momento de fraqueza. Que destino!

Hoje me encontro neste lugar, cheio de aprendizagem, é como uma escola. Tudo começou tão repentino que tenho vontade de rasgar esta página de minha história, mas não adianta. Pois essa é a minha realidade.
Tive uma humilde educação, mas da melhor qualidade, com honestidade, caráter, sinceridade e dignidade. Como pude deixar isso acontecer? Agora, nesta idade? Mesmo sem pai, tive uma mãe que me educou da melhor forma possível. Errei, trouxe tanto sofrimento a todos que me respeitavam, mas fazer o quê? Hoje, o que me resta é pagar o preço aqui nesta pequena cela fria cheia de dor e sofrimento.
E a cada lágrima que cai às vezes até escondidas acompanhada da depressão e arrependimento. Como se não bastasse à noite ainda vem a solidão. Gritos de revoltas, palavrões, nomes ruins perturbando nossas cabeças. Mas é a força de expressão de alguns detentos. Sem entender as palavras de revolta, fico pensando: quanta dor e sofrimento.
Pois o espaço é pequeno para tantos detentos, alguns doentes e outros até mesmo sem o apoio da família. Fico pensando como seria se não tivesse a assistência da APAC que se dedica de forma carinhosa, fazendo com que os detentos se sintam vivos, tentando amenizar a falta de seus familiares. Enfim, a Apac se desdobra para nos sentirmos confiantes, na certeza de que sairemos daqui e teremos uma nova oportunidade.
“O choro pode durar uma noite, mas a alegria virá pela manhã”.

Amor eterno
Para minha amada MÃE...

A Senhora mãe é a razão de minha vida e quero por meio deste jornal lhe dizer como a Senhora é maravilhosa. Me lembro bem de todos nossos lindos momentos, lindos como a Senhora. Reconheço todo o amor e dedicação que a Senhora teve por mim em toda vida e continua tendo. Não tenho como expressar tanto amor, só sei que te amo muito, que a Senhora é a pessoa mais importante de minha vida.
Lembro-me do quanto sofreu e quero hoje lhe agradecer por tudo, pelo esforço dedicação e amor. Sei como ainda está sofrendo hoje e quero lhe pedir perdão e lhe dizer que iremos recuperar todo o tempo perdido, quero lhe fazer muito feliz novamente. A Senhora merece tudo de bom, pois é muito especial.
Agora quero falar dos meus filhos que tanto amo, que tanto lutei para criá-los, eu amo muito vocês. Não esqueço um minuto sequer, vocês são muito importantes para mim. Deus me presenteou com a dádiva de ser mãe. Saibam que sou orgulhosa de ser mãe de vocês, não quero que se esqueçam de todos nossos momentos, sejam de alegria ou tristeza.
Tudo que mais quero é estar ao lado de vocês, de minha mãe e nunca mais nos separar. Nós vamos vencer e juntos seremos muito felizes até o fim de nossos dias. Para minha amada mãe Carmem, meus filhos Neide, Joice, Robson, Mayra, Weslem, todo o meu amor. Amo vocês.
Saudades demais. Nós vamos vencer
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KLLOTILD GUIMARÃES PINTO

O SOL

É um aquecimento global nos meus dias, um efeito estufa nos meus pensamentos e se os seus raios ultravioletas não me abraçarem não terá mais vida no planeta coração.

O que acontece com o sol? Pela manhã não o vejo mais, chego pra olhar e ele não está. E com o dia nublado tenho que contemplar.
E o frio que sinto é por falta do calor que já não me aquece mais.
E quando a noite cai, fico a sonhar que pela manhã o sol possa brilhar.
Em algum outro lugar, o sol deve nascer. O tempo nublado é para eu lembrar que em algum outro lugar ele deve estar.
O dia sem sol não pode ficar, pois nas sombras dos teus raios eu quero descansar. Assim que o meu sol voltar e a mim acordar, quero teus raios fortes que secam minhas lágrimas, seu calor intenso que aquece minha alma. Quero o meu sol forte e brilhante que é o meu motivo de calor ardente.
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RÓTULOS

Muitas pessoas anônimas ou não carregam consigo o peso dos apelidos, pseudônimos ou até são rotulados de acordo com os seus feitos. E nesta convivência com pessoas diferentes, de jeitos diferentes, personalidades diferentes, pensamentos diferentes vêm consigo os rótulos.
As pessoas tendem a se adaptar, a se acostumarem com esses rótulos. Poderá uma pessoa que carrega consigo um rótulo ou um apelido se livrar dele ao modificar seu modo de vida? Uma pessoa, que desde a adolescência carrega consigo este rótulo, um apelido com que foi criado, pode perder este rótulo? Ao passar pela rua ser reconhecido pelo que é e não pelo que foi?
Será um tanto difícil, pois ninguém é reconhecido pelo que foi e sim pelo que é. E até acho que não há mudanças apesar dos seus novos atos.
Pois sim, Luiz Inácio da Silva jamais será conhecido como tal e sim eternamente como LULA, e nós seremos sempre vistos pelo que fomos, mesmo mudando de vida.
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Ione Pimenta Duarte

Para a mãe mais maravilhosa e especial desse mundo - “Didia”

Mãe, um dia...
Um dia o Amor estendeu as mãos para o nada e abriu o espaço...
Um dia, o amor se tornou vida de tua vida e eu existi...
Mãe, no céu sem fim revela-me teu amor.
A vastidão do mar fala-me da tua bondade...
As altas montanhas refletem teu heroísmo.
As profundezas dos vales espelham tua humildade...
A beleza das flores traduz teu caminho...
Tudo encerras dentro do teu grande coração...
E silenciosa, serena, sorrindo continuas labutando no cotidiano da vida.
Um dia, o Amor se tornou vida de tua vida e eu existi.
Obrigado mãe.
De sua filha que te ama e te admira muito
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Ao meu pai declaro todo o meu amor, admiração e respeito

Meu pai, hoje falecido, foi nascido e criado dentro da religião evangélica e sempre nos ensinou a seguir o bem, ele não admitia falha, por menor que seja. Qualquer coisa que eu chegasse em casa, ele ia atrás para saber ao certo onde tinha adquirido tal objeto. E hoje estou aqui.
Eu sinto uma dor dentro do meu peito, pois vim parar neste lugar por um erro meu. Um erro que nunca imaginava ter capacidade de cometer. Fui criada com muita rigidez. Quando ele separou de minha mãe, eu fiquei com ele. Meu pai era um ser humano exemplar, de uma inteligência fora do normal. Tenho o maior orgulho do pai que tive, pois era honestíssimo, todos que o conheciam sabem da sua honestidade.
Deus sabe o que faz, pois não sei se o meu pai fosse vivo suportaria tudo isso. Acho que não. Te amo, pai, nunca vou te esquecer, mesmo o Senhor não estando aqui, peço-lhe o seu perdão. Me perdoe, PAI!
Quero aproveitar e agradecer também ao jornal Recomeço por essa oportunidade e a minha amada irmã Beth pelo grande apoio, amor e carinho que tem para comigo.
Irmã Beth, para mim a senhora é muito especial, que Deus continue te abençoando e enchendo esse coração maravilhoso de amor. Saiba, irmã Beth, que aprendi a te amar em nome de Jesus. Muito Obrigado por tudo.
A toda a minha família quero dizer que amo muito vocês, obrigada por tudo.

Para meu filho
Muitas saudades, Gabriel, mamãe te ama, pois a certeza do seu sorriso, pequeno príncipe, é que me dá forças para continuar a lutar. Que Deus te abençoe, morro de saudades de você, dos seus carinhos e de ouvir você me chamar de “Mamãe você é minha rainha”. Nós vamos vencer. “O que Deus uniu o homem não separa”.

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JOSIMAR DA SILVA MIRANDA
Para Lucinha


Eu, Josimar da Silva Miranda, sou detento dessa cadeia de Leopoldina, pagando pelo erro que cometi no passado, mas isso é uma experiência que Deus me deu. Isso é uma Luz que Deus me deu. Com tudo isso, eu agradeço a Deus porque aqui eu estou aprendendo e vendo que esse não é meu caminho.
Estou escrevendo para o jornal para dizer para você, Lucinha, que você é a mulher mais linda do mundo, você é guerreira e batalhadora e objetiva, com você aprendi a valorizar mais a vida e que nós amamos é quem nos ama. Você me deu a vida de nossas: filhas Estefani e Lorana, Ana Paula e Taiene. Elas são a razão da minha vida, a luz do meu viver.
Lucinha, agradeço a Deus todos os dias por ter você como esposa e mãe dos meus filhos. Obrigado por me amar e por me fazer feliz. E com tudo isso que estou passando, você estar ao meu lado me ajudando a caminhar na vida, porque se não fosse você eu não sei o que seria da minha vida.
Amo-te eternamente Lucinha. Você é minha vida.

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François Guilherme Silva
Para o meu amor


Sou detento desta Cadeia de Leopoldina, pagando pelo erro que eu cometi, mas com tudo isso, agradeço a Deus por ter colocado na minha vida uma mulher maravilhosa e um filho mais lindo do mundo, que amo mais do que a minha vida.
Escrevo para dizer que você, Jeiseane, é a mulher da minha vida, que com você aprendi a viver, a amar e ser amado. Você me deu o presente mais lindo deste mundo: o nosso filho Flávio Gabriel. Você é tudo que tenho na vida, você é a luz da minha vida, você é batalhadora, é simples, isso é um dom que você tem: a simplicidade. Obrigado por me dedicar tanto amor e obrigado por ser minha mulher e mãe do meu filho.
Amo-te, Jeiseane, eternamente. Beijos eternos.
Assinado: seu eterno e único amor
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Samuel Teodoro
SEM CHANCE
Você que tem uma firma teria coragem de empregar um albergado ou um ex-detento?
O meu tema de hoje é sobre a liberdade. Parece que não, mas até para ganhar a LIBERDADE, nós sofremos. Quer saber como? Vou lhes dizer:
A justiça nos exige para obter a tão sonhada LIBERDADE uma carta de emprego com a declaração do empregador. Pois é nesta questão que nos aflige este grande problema.
Agora eu pergunto para os senhores Doutores Juizes, Promotores e sociedade.
Como é que um homem, estando ainda preso, sem alguém que possa ajudá-lo a conseguir esta carta de emprego, consegue ir embora?
E ainda enfrentamos mais dois problemas:
1-Leopoldina está com um índice de emprego bastante precário, onde se encontram vários chefes de família perambulando a procura de trabalho e quase todos sem sucesso.
2- E nós? Que para muitos da sociedade somos monstros que inviabilizam a ordem social, é como a maioria das pessoas pensa que nós não temos recuperação.
Eu volto a perguntar: Você que tem uma firma, teria coragem de empregar um albergado ou um ex-detento? Eu imagino o que você deve estar pensando neste momento, que é para você muito difícil, confiar em alguém como nós.
Mas eu quero lhe dizer que nós só queremos uma chance para poder reconstruir nossas vidas, mas esta oportunidade é só você que pode nos dar. Deixe de lado o preconceito e nos dê uma chance de tentarmos reparar o nosso erro com o trabalho honesto e com seriedade.
Eu só tenho um pedido a fazer ao Doutor Juiz: que tente uma maneira de facilitar a conquista desta carta de emprego.
Um exemplo: se o Senhor me permite, se o Senhor nos der um prazo de 30 dias ou menos para sairmos e procurarmos um emprego, seria mais fácil.
Ë só um exemplo, não estou dizendo que tem que ser assim. Só o Senhor, Dr. Juiz e Dr. Promotor, que podem nos ajudar, abaixo de Deus, é claro! Que Deus os abençoe e ilumine o seu trabalho e que Ele possa dar-lhes sabedoria para julgar nossas causas com carinho e dignidade.
SE DEUS É POR NÓS QUEM SERÁ CONTRA NOS?
Obrigado por sua atenção.

20 de ago. de 2007

Textos dos detentos

A seguir os textos dos detentos da Cadeia Pública de Cataguases, publicados na edição 134 do jornal Recomeço .

Laura Bárbara Lacerda Oliveira

Carta ao Prefeito de Cataguases
Cataguases, 16 de Julho de 2007
Exmo. Senhor Prefeito Dr. Tarcísio Henriques

Venho respeitosamente através desta carta dizer que ando muito preocupada com a minha saúde e a de todos que aqui se encontram. Porque, mesmo a cadeia sendo dirigida por um delegado muito eficiente e humano, aqui nós estamos tendo muitos problemas de saúde que já causou até a morte de uma pessoa.
Então, eu gostaria de fazer um pedido que, se tiver de comum acordo com o Senhor e as autoridades, que se possível colocar um Agente da Saúde para fazer uma visita para nós, pelo menos de 15 em 15 dias. Muitos de nós não temos visita e fica difícil para marcar consulta e para conseguir os remédios que o médico nos receita.
Ficarei por aqui com os meus agradecimentos e que Jesus abençoe o Senhor, as autoridades e a todos que têm nos ajudado.
Laura Bárbara Lacerda Oliveira

Agradecemos os cobertores
Venho, em nome de todos os detentos da cadeia pública de Cataguases, agradecer primeiramente à Dora, que foi intermediaria dos pedidos de cobertores, às Assistentes Sociais e ao diretor da Cadeia Dr. Rodrigo, que distribuiu para todos que necessitavam. Agradecemos em especial ao prefeito Dr. Tarcisio que atendeu de imediato a nossa necessidade de cobrir do frio.

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Todos os detentos

INDIGNAÇÃO COM O SISTEMA DE SAÚDE DOS PRESOS DE CATAGUASES

Todos os presos da cadeia de Cataguases estão indignados com o pouco recurso de saúde, pois o preso pede escolta por estar passando mal e essa escolta só é marcada uma semana depois. Se for caso de morrer o preso, vai morrer, porque as autoridades não estão nem ai, às vezes até chegam a falar que não tem jeito, pois não tem viatura para levar o preso ao médico.
Deveríamos ter um médico e um consultório de emergência ou uma viatura disponível só para levar o preso ao médico, pois a demora pode ser fatal.
Esses são alguns dos problemas que nós temos que enfrentar, mas a sociedade não está nem ai pra nós todos. Ela tem aquele preconceito que preso tem mais é que sofrer.
Sofrendo, todos nós já estamos, não só aqui, mas em todo o país, pois somos tratados como animais. Até a comida é feita à moda Bangu: arroz cru, carne com mau cheiro, café igual à água de batata.
Nós somos seres humanos, queremos um pouco de respeito e dignidade. Se essas coisas não melhorarem já está ficando difícil, pois não há recuperação sendo tratados como animais.

Assinado:
Todos os detentos da Cadeia de Cadeia de Cataguases.
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Rodolfo de Moura Gonçalves
Não estamos sós


Meu nome é Rodolfo de Moura Gonçalves, tenho 27 anos, sou natural do Rio de Janeiro. Estou preso em Cataguases. Venho relatar o apoio e a ajuda por parte da professora Beth e da APAC na ajuda aos presos com pedidos de sete dias, no desenvolvimento de processos e, principalmente, com medidas sócio-educativas como ensino e trabalhos de artesanato.
Todos nós agradecemos a presença de vocês, porque se já é ruim com vocês e fica pior e impossível sem vocês.
Se não tivéssemos a ajuda da D.Beth, muitas crianças passariam o dia 12 sem pai para abraçar. Vou terminando fazendo um apelo para que não deixem de nos ajudar, pois têm muitos que dependem só de vocês. Desde já meus agradecimentos e de todos os irmãozinhos da Cadeia Pública de Cataguases à professora Beth.
Está aqui meu reconhecimento em saber que não estamos sós.
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Marley
Vida nova daqui pra frente

Minha vida mudou completamente depois de eu ter vindo preso, mas graças a Deus tudo está correndo bem. Um tempo atrás tinha vindo uma cadeia de 20 anos, mas Deus iluminou a minha advogada e a minha cadeia caiu para 13 anos. Se Deus quiser, eu vou tirar a minha cadeia tranqüilo e sair desta de cabeça erguida.
Começa uma nova vida daqui pra frente, se Deus quiser. Valeu!

A prisão dos pobres

Gilmar da Silva Faria*
“Vamos citar Renan Calheiros, se fosse um pobre como nós e sem influência já tinha sido condenado a mais de 20 anos de prisão, e, no entanto, ele nem sequer foi afastado da cadeira de Presidente do Senado.”
Senhores leitores, o mundo aqui, no qual nós detentos vivemos, não é um mundo muito diferente do qual a sociedade vive aí fora. Há muitas regras e leis, há aqui o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve, é igual aí fora.

Como aí, também existem leis. Quando estamos na liberdade física, não sendo diferente da chamada sociedade até mesmo porque nós fazemos parte dela, nós não damos muito valor a estas leis, assim como o resto da sociedade também não dá. Porque, na verdade, nós estamos falando de um só assunto que é a sociedade. Sociedade é o mundo inteiro o qual se encontra em liberdade e são consideradas pessoas de bem, usufruindo o direito de ir e vir.

Eu gostaria de dizer que me considero um Socialista, porque na verdade é o que sou. Eu gostaria que a sociedade não tivesse tanta discriminação contra os prisioneiros chamados detentos, até mesmo porque, hoje, na verdade, o sistema prisional contribui para esta situação.
Ele contribui com uma verdadeira escola para o mundo do crime, ele não oferece ocupações lícitas para os detentos. Aqui, como em qualquer presídio e cadeia, é uma escola, vai muito da índole de cada um, cada um aprende o que quer.
Como eu disse antes, aqui não é diferente lá de fora, até mesmo nas escolas. Na escola, alguns alunos são bons em Matemática, outros em Ciências, outros em Geografia, outros em Inglês e muitos pulam os muros das escolas, outros saem na hora do recreio e não retornam mais para a aula, contrariando seus pais. E muitas das vezes os pais não sabem dos acontecidos e, quando sabem, não aceitam que o filho não estude e tomam uma decisão radical colocando-os em um “internato”, lugar onde você sem estudo nenhum sai sabendo mais do que devia. Ainda bem que alguns alunos não aprendem, mesmo estando nesses “internatos’. Eles conseguem se esgueirar pelos corredores da vida, faltarem às aulas e não aprendem mais um capítulo do crime. É uma pena que só uma minoria que consegue realizar esta façanha”.
A gente aqui tem que contar muito com a ajuda de Deus para aprender a discernir o que devemos e o que não devemos, porque, na verdade, a maior parte da sociedade não se importa com a gente, muito por não saber o que realmente se passa dentro de um presídio.

Eu peço à sociedade que abra os olhos para a realidade porque ninguém está livre deste lugar. Você aí fora pode estar dando uma carona em seu carro, pode acontecer um acidente e matar uma pessoa, e mesmo você fazendo o bem pode acabar neste lugar. Porque é isso que acontece: as leis eram para ser iguais para todos, mas infelizmente não são. As leis são dois pesos e duas medidas, de acordo com o sentenciado. Eu posso afirmar isso.

Pois já aconteceu comigo também. Já vi um interno ser acusado de atirar contra uma pessoa, mas nem a vítima pôde afirmar que foi esta pessoa, e ela está presa aguardando julgamento durante três anos para, no final, ser condenado a, no mínimo, 12 anos de prisão. Assim como também já sei de uma pessoa matar um, ferir outro, e ficar 15 dias preso e ir embora. Quero que saibam que não estou dizendo que quem foi não deveria ir, mas sim que quem ficou, não deveria estar.

A justiça muitas vezes faz um criminoso, dependendo da sua revolta, com as injustiças que ela faz. Quem realmente é culpado não se revolta porque na verdade esta pessoa tem consciência do que fez. Mas, e quem não fez? Só Deus no coração.
Gostaríamos que a sociedade soubesse que nós temos consciência de que estamos pagando pena para alguém da alta sociedade, os quais nem mesmo podem ser presos pela polícia comum, tem que ser uma polícia especial.
Irmãos, como já disse, as leis são variadas de acordo com o suposto réu. Nós mesmos estamos cansados de acompanhar pela televisão, vamos citar o senador Renam Calheiros, não vamos nem falar do que ele está sendo acusado, porque na verdade são tantas coisas, mais vamos falar só da quantidade de notas frias que ele já apresentou. Se fosse um pobre como nós e sem influência já tinha sido condenado a mais de 20 anos de prisão, e, no entanto, ele nem sequer foi afastado da cadeira de Presidente do Senado.
Cadê o Marcos Valério, cadê o deputado Roberto Jéferson, cadê as CPIs dos correios? Nada disso existe mais e o fim do Senador Calheiros, nós já sabemos qual vai ser.
O único bem sucedido que eu vi pagando cadeia foi o Belo. Coitado, na verdade foi um bode expiatório, mas ele teve a infelicidade de não acontecer nada recente. Como agora o avião da TAM caiu, enquanto a sociedade sofre, muitos estão mais tranqüilos, os holofotes estão virados para o outro lado e as falcatruas sendo esquecidas. A sociedade tem que entender que esse dinheiro que está sendo roubado seria para contribuição de um Brasil melhor e ajudaria muito na educação de nossos filhos.

Vocês, leitores, podem tirar suas próprias conclusões, um pobre quando faz, entra com um hábeas corpus e demora 90 dias para ser julgado, o do rico é julgado com dois dias ou até menos, muitas vezes sai da prisão até mesmo na madrugada. Não estou dizendo que não está certa, mas quando um pobre vai à padaria e rouba um pão para seus filhos, ele é ladrão e vai preso. Quando é rico que faz isso, a justiça diz que ele é doente e dá o nome da doença de Cleptomania. Um exemplo é o caso do roubo das gravatas e vasos, ai eles pegam um microfone, pedem desculpas e fica tudo certo. Mas o pobre vai para a cadeia e seus filhos para as ruas.
Agradecimento
Senhores, também tenho que agradecer a boa parte dos senhores leitores do jornal Recomeço, sei que muitos estão junto com a gente aqui. Sem este espaço para nos pronunciarmos, ficaríamos mais isolados, sem poder desabafar e tentar pensar em ajudar a construir um mundo melhor.
Também quero agradecer a Irmã Beth que tem feito um trabalho sensacional conosco, com os internos de ressocialização. Além de tudo, fazendo a gente se sentir humano e recuperando a nossa auto-estima. Desde já agradeço este espaço cedido. Muito Obrigado.
*Recuperando de Cataguases-MG - Jornal Recomeço, edição 134

19 de ago. de 2007

Justiça Restaurativa

EVOLUÇÕES DO DIREITO: A JUSTIÇA RESTAURATIVA
Vinícius Lopes Martins*
Ao receber o rótulo de criminoso, o condenado tende a incorporá-lo na sua identidade. Assim, guia-se conforme o estereótipo correspondente ao papel social que lhe foi atribuído, o de criminoso. A criminalização degrada, estigmatiza. Mais ainda, o modo como atua o sistema penal não permite se apreender as reais causas dos conflitos, tratando o problema num nível por demais superficial.

No presente estágio de desenvolvimento da sociedade brasileira evidenciam-se as contradições do nosso sistema de justiça criminal. Desde meados do século XX a crítica sociológica aponta a existência de funções ocultas que acabam por liquidar os supostos fins de prevenção (geral e especial) atribuídos ao direito penal e à justiça criminal como um todo. Diz-se que o sistema penal é seletivo, pois que seleciona a sua “clientela” em meio aos estratos sociais economicamente desfavorecidos. Por outro lado, o sistema penal é ineficaz, ineficiente, inadequado. As pesquisas apontam a existência de uma exorbitante cifra negra – o número de fatos definidos, em tese, como crime, mas que sequer chegam ao conhecimento das agências formais de controle social (polícias, ministério público e judiciário). Além disso, é patente o elevadíssimo índice de reincidência (em torno de 80%) daqueles que algum dia experimentaram as amarguras do cárcere. Isso se explica, em parte, pelos efeitos da criminalização na personalidade do condenado – a hipótese do desvio secundário. Ao receber o rótulo de criminoso, o condenado tende a incorporá-lo na sua identidade. Assim, guia-se conforme o estereótipo correspondente ao papel social que lhe foi atribuído, o de criminoso. A criminalização degrada, estigmatiza. Mais ainda, o modo como atua o sistema penal não permite se apreender as reais causas dos conflitos, tratando o problema num nível por demais superficial.

A história dos sistemas jurídicos, entretanto, nos revelou já algumas evoluções no tocante ao problema criminal. A própria pena de prisão, hoje tão combatida, é tida como uma conquista histórica – em substituição às antigas penas infamantes, dilacerantes, torturantes. Hoje, fala-se da prisão como uma medida de exceção, somente aplicável aos crimes de maior gravidade, que provoquem maior alarde social – no entanto, um breve olhar sobre a nossa realidade carcerária nos revela que a pena de prisão está longe de se tornar uma exceção. Com o fito de reduzir o aprisionamento, foram criadas as chamadas penas restritivas de direito, substitutivos da pena de prisão, e criados os chamados juizados especiais, competentes para julgamento de infrações classificadas como de menor potencial ofensivo. Sem deixar de considerá-los como marcos evolutivos, devemos apontar alguns cruciais paradoxos desses institutos. A uma, porque a criação de um órgão específico e competente para o julgamento de tais infrações acabou por aumentar significativamente a criminalização de tais condutas, que muitas das vezes se resolviam em nível local, sem a intervenção do judiciário. A duas, porque os procedimentos adotados e as medidas aplicadas estão longe de dar uma resposta adequada aos conflitos que subjazem à infração da norma, gerando insatisfação e indiferença.

Nos dias presentes, parte dos teóricos e operadores do sistema de justiça criminal propõem uma nova forma de resolução de conflitos: a Justiça Restaurativa. Essa nova etapa na trilha evolutiva do sistema de justiça procura dar respostas concretas àquelas questões cruciais que eclodiram com a crítica sociológica e que tanto perturbam a consciência do operador do direito, sem, entretanto, recair num minimalismo ou abolicionismo. Seus métodos e procedimentos visam dar uma resposta efetiva e incisiva ao problema criminal, mediante a compreensão e apreensão das reais causas dos conflitos, participação ativa dos atores sociais (infratores, vítimas e comunidade), integração da emoção e demais formas de subjetividade no processo restaurativo, máximo atendimento das expectativas sociais e ampliação dos resultados possíveis de um acordo restaurativo, sempre com respeito aos direitos e garantias fundamentais do ser humano e segundo um ideal de cooperação, solidariedade e emancipação humana.

Nota Renato Sócrates que “A Justiça Restaurativa tem sido, assim, definida como uma forma alternativa e diferente do sistema tradicional de Justiça Criminal, abordando a questão criminal a partir da perspectiva de que o crime é uma violação nas relações entre as pessoas, e que, por causar um mal à vítima, à comunidade e ao próprio autor do delito, todos esses protagonistas devem se envolver num processo de restauração de um trauma individual e social”[1].

Como toda novidade, a Justiça Restaurativa enfrenta algumas barreiras para o seu desenvolvimento. Destacamos entre elas o dogma positivista de pré-determinação dos conteúdos concretos da norma jurídica, o que acaba por engessar o sistema, assim contribuindo para as supra mencionadas disfunções (ou funções ocultas) da resposta penal. Por outro lado, há uma forte barreira de cunho cultural. Não faltam aqueles que ainda levantam a bandeira da Lei e da Ordem, defendem um maior endurecimento do sistema, mediante a imposição de penas mais longas e severas, privilegiam o Estado Penal (em detrimento do Estado Social) e acabam por reduzir o direito penal a um caráter meramente simbólico. Tais discursos ganham o coro da mídia, favorecendo ao surgimento e propagação da chamada “cultura do medo”. Assim se fomenta o sentimento de vingança, o mal pago pelo mal, e se desvirtua todo o sistema.

A Justiça Restaurativa constitui nossa esperança de renovação do sistema de justiça, mediante a instituição de métodos, procedimentos e resultados que atendem a uma principiologia também renovada, lapidada de acordo com o estágio atual dos nossos domínios do saber, uma racionalidade aprimorada e integrada pela emoção – nova epistemologia. Trata-se também, no plano político, de um avanço da Democracia.

Neste mês de agosto de 2007 deve ser fundado o Instituto Brasileiro de Justiça Restaurativa, que assume a missão de difundir as práticas restaurativas no Brasil e no mundo. No Brasil já há alguns projetos-piloto em andamento. Convidamos todos a embarcar nesta idéia, este sonho, esta realidade.

* Advogado, especialista em "Estudos de Criminalidade e Segurança Pública" pelo CRISP - UFMG.

Abuso da CFLCL

Enquanto "eles" seguram o prêmio,
o povo segura vela
A concessionária CFLCL, Companhia Força e Luz Cataguazes Leopoldina, de Minas Gerais, a segunda tarifa mais cara do país, assalta o povo e ganha prêmio em "Responsabilidade Social" da Abradee. Este país não é mesmo surreal?
E o que faz o governador Aécio Neves contra o abuso e a ganância das concessionárias mineiras? NADA!!!! Como vai se lembrar da população pobre sem energia se o governador é chegado a festas e férias em Aspen ou pela Europa, de onde chegou recentemente.
NOTA
O que é Abradee? Só poderia ser mais uma entidade de "proteção" às já protegidas concessionárias, como se já não bastasse a ANEEL.
Leiam a definição que está no site:
"A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) é uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos. A Associação reúne 49 concessionárias de distribuição de energia elétrica, estatais e privadas, atuantes em todas as regiões do país, responsáveis pelo atendimento de 99% do mercado brasileiro de energia.
A Abradee foi criada formalmente em 1995, mas sua história teve início com a criação do Comitê de Distribuição (CODI), em agosto de 1975, órgão que já se dedicava ao desenvolvimento do setor de distribuição de energia elétrica no país.
A missão institucional da Abradee é contribuir para a excelência na gestão operacional e econômico-financeira de suas associadas com foco no atendimento ao cliente."
Foco no atendimento ao cliente?
Imaginem se não fosse... Faz-me rir!

17 de ago. de 2007

Nós, os pouco felizes


Parece até que Ana Miranda escreveu a sua crônica "Os pouco felizes" para os adeptos do Movimento "Cansei"...

Nós, seres humanos que vivemos em casas ou apartamentos, e não em acampamentos nem nos viadutos, nem nas favelas ou nos hospícios,
nós que vivemos em residências de cujas janelas podemos ver a cidade em seus ofícios e vícios, ou a paisagem do campo e suas luzes,
nós que temos a indústria e o comércio, e conta nos bancos,
nós que somos brancos, universitários,
nós que temos médicos e anestesia, hospitais e poesia,
nós que podemos viajar, olhar vitrines e comprar,
nós que sabemos ler e lemos livros, temos fogões em nossas casas, temos camas,
nós que temos filhos com todos os dentes, escola, agasalho e nem vivemos em Cuba,
nós que temos alvará de soltura,
nós que temos carro ou sapato sem furo,
nós que assinamos revistas e jornais, temos casa de campo, mesmo que seja a de um amigo onde há cavalos e pirilampos,
nós que jantamos à luz de velas, tomamos vinho e meio embriagados lemos poesias para as belas mulheres, ou para o ser que amamos, e amamos vários,
nós que somos amados, que vamos à praia ou não vamos mas esperamos a praia vir a nós,
nós que vestimos roupas e usamos um antigo anel de família, que tomamos cerveja, que acordamos tarde e não andamos de trem, que temos salário, ou renda fixa, emprego, família, paixão,
nós que temos corpo e estamos vivos, temos amigos, temos trabalho, fazemos exercícios, somos hedonistas,
nós que fazemos cinema, que sentimos o perfume e temos sonhos,
nós que gostamos de lareira e frio, sorvete e calor, o limpo e o macio, que sonhamos navegar tornando o mundo pequeno,
nós que usamos biquínis e tangas,
nós que desfilamos nossos seios nus nas escolas de samba,
nós que não somos da ralé nem da choldra, nem da rafaméia nem do lúmpen nem da miséria, que especulamos e ganhamos,
nós que temos raízes, diretrizes, teatro, damas atrizes, jogadores, senadoras,
ai de nós, perdoai-nos, somos os poucos felizes.

Nota:Fragmento do texto

15 de ago. de 2007

Inacreditável!!!

Namoro de mineira com Mike Tyson "honra" o estado e sai na primeira página do jornal

Dias atrás, noticiei aqui a manifestação de orgulho e honraria da "nossa elite" em ter uma mineira de namoro com um dos 10 homens mais ricos do Brasil, Germano Gerdau.
E não é que surge outra honraria para Minas Gerais: uma mineira namora o lutador americano Mike Tyson, condenado por estupro e outras violências no seu país.
A notícia mereceu destaque na primeira página no jornal Estado de Minas.
Para variar, a namorada mineira fala do namorado mão aberta: “Desde que o conheci, ele estava sempre com um monte de dinheiro no bolso. Era normal carregar US$ 30 mil. Lembro de uma vez que me levou a uma loja e disse que eu poderia escolher o que quisesse, pois queria me dar um presente. Expliquei que não precisava de nada. Acabei escolhendo um vestido, só. Ele fez um monte de compras. Gastou US$ 100 mil.”

Diante dos "valores mineiros", sempre me lembro do meu querido poeta Manoel de Barros: "Coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco'.
"Ela desatinou"
Na mesma edição, saiu a notícia que a polícia matou cinco pessoas na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro... Noticiazinha na página 5 do jornal, sem nenhuma importância, só para constar... Que está acontecendo com a nossa mídia? Desatinou, como na música do Chico Buarque?

10 de ago. de 2007

Energia dos pobres


Concessionárias de energia em Minas Gerais deitam e rolam

Enquanto as classes pobres vivem sem energia, por não suportarem a segunda tarifa mais cara do país, as concessionárias, além de causarem danos irreversíveis ao meio ambiente e promoverem o caos social, enriquecem seus acionistas. Um lucro e infame e imoral

"ENERGIA - Ganho da Cemig é de R$ 921 miA Cemig apresentou lucro líquido consolidado de R$ 921,63 milhões no primeiro semestre, um aumento de 38,57% em relação a igual período do ano passado. No segundo trimestre, o lucro líquido cresceu 58,29%, para R$ 514,99 milhões. A receita líquida teve alta de 34,67%, para R$ 2,58 bilhões, e o resultado bruto subiu 87,19%, para R$ 994,27 milhões. As despesas operacionais foram reduzidas em 27,59%, para R$ 213,25 milhões. A estatal registrou despesa financeira líquida de R$ 56,27 milhões, uma queda de 61,25% em relação ao resultado negativo obtido em igual intervalo do ano passado. O resultado operacional cresceu 230,05%, para R$ 781 milhões."(EM - 10/7/07)

Bertolt Brecht escreveu:

Eu peço com insistência
Não diga nunca - isso é natural

Sob o familiar,
Descubra o insólito
Sob o cotidiano, desvele o inexplicável

Que tudo o que é considerado habitual
Provoque inquietação
Na regra, descubra o abuso,
E sempre que o abuso for encontrado,
Encontre o remédio.

Qual o remédio para tanto abuso?

8 de ago. de 2007

João Baptista Herkenhoff

Multiplicar presídios?
Vejo, com espanto, o orgulho de Governadores de Estado e Ministros da Justiça quando anunciam a construção de novos presídios, estaduais ou federais.
São presídios cada vez maiores, sofisticados, com instrumental de segurança e até com a brutalidade do isolamento total do preso, com um bilhetinho colocado embaixo da porta: “transforme-se em fera”.
Até que presídios poderiam ser inaugurados desde que houvesse, na oportunidade, uma ressalva solene: “que pena, estamos inaugurando mais um presídio”.
Entretanto, não é em clima de pesar que se inauguram prisões, mas em clima de festa.
Rousseau, debruçando-se sobre a realidade de seu tempo, disse que “abrir uma escola é fechar um presídio”. Sua sentença permanece atual e ganha mais vigor ainda em nossa época.
Imaginemos a multiplicação de escolas neste país: escolas de excelente qualidade, escolas de tempo integral, escolas onde a criança ou o adolescente estude, brinque, alimente-se, sinta-se integrada ao mundo, tenha a abertura de horizontes, seja feliz.
Imaginemos um país onde o professor seja valorizado, onde se considere o professor como o mais nobre profissional, tão importante quanto o Presidente da República ou o Governador do Estado, exaltado em prosa e verso, digno de uma remuneração que lhe permita viver com tranqüilidade, comprar livros, viajar, participar de congressos, aperfeiçoar-se.
Escolas excelentes constroem personalidades integradas, previnem transvios, democratizam a sociedade, combatem as discriminações, são a esperança de um povo.
Prisões marginalizam seres humanos, dilaceram personalidades, produzem o crime, fecham o futuro.
Dante, na “Divina Comédia”, colocou uma frase na porta do Inferno advertindo aos que ali entrassem. Que deixassem de fora a esperança. (“Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”).
Podemos colocar a frase de Dante na porta das prisões: “vocês que entram deixem do lado de fora a esperança”.
Há, sem dúvida, prisões péssimas e prisões menos ruins. Prisão boa acredito que não haja. Nunca vi, em minha vida, alguém pleiteando ingresso numa prisão.
Há uma gama de alternativas para reduzir o aprisionamento de pessoas a casos extremos. Com um acompanhamento sério por pessoal competente, com a participação direta e pessoal dos magistrados, tanto na concessão de oportunidades que substituam o encarceramento, quanto no acompanhamento posterior da vida dos beneficiados, resultados surpreendentes podem ser alcançados.
Abertura de escolas ótimas para todos os brasileiros, destinação das verbas de presídios para escolas, educação como prioridade nacional, respeito à pessoa humana... Que belo programa para o Brasil.
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João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo – professor do Mestrado em Direito, e escritor.

6 de ago. de 2007

Festas mineiras

As festas mineiras são um acinte à nossa desigualdade social
Enquanto aguardamos a próxima edição do jornal Recomeço vou postando esta aberração do exibicionismo nas festas mineiras. Como bem expressou o Dr. João Baptista Herkenhoff :
" Nem em Roma, na sua época mais nefanda, nem na Idade Média, no seu declínio, via-se flash tão esdrúxulo de exibição, escárnio e mau gosto".
Já houve quem me questionasse sobre o que tem isso a ver com os meus temas neste blog: "sistema penal e carcerário, prisão, justiça, direitos humanos". Pois tem tudo a ver. Não tenho dúvida de que toda essa violência e os presídios e cadeias abarrotados de apenados são consequência de uma sociedade narcisista e desumana, cujos valores não incluem a partilha e a solidariedade humana.

Eu estou com Maiakovsky:
“Espero
tenho fé
que jamais
jamais passarei pela vergonha
de me acomodar.”

Vejam mais uma festa (post abaixo). Façam os cálculos dos valores gastos com tanto luxo num país onde 60 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza. Isso é uma ignomínia!
Nota
- Enquanto os jornais disponibilizam páginas e mais páginas para esse escárnio à pobreza, não sai uma linha sobre o governo Aécio neves que, aliás, adora uma festa.

A elite cansada

A elite está furiosa com um governo que fala com o povo e para o povo. E cansou! A turma está se reunindo em torno do movimento "Cansei". Somos solidários aos cansados, sabemos que não é fácil a vida dessa gente. Festa cansa! Basta ler as colunas sociais (a que venho me dedicando ultimamente para fazer uma pesquisa antropológica), como esta na postagem abaixo, e constatar que, no fim de três dias de festa, com todas aquelas comidas "saudáveis" e aquela variedade de bebidas alcoólicas, deve dar realmente uma tremenda "canseira". E o pior é que, em função do "caos aéreo", não podem mais descansar voando para Amsterdã, como está na moda ultimamente depois daquela novela da Globo (antes, era Paris, agora lá também está cheio de periferia, não dá mais).
Para melhor entenderem o movimento, posto os links abaixo:

5 de ago. de 2007

Da turma do "Cansei"

Três dias de festa. Como não cansar, gente?

Leiam a notícia na página da coluna social do jornal Estado de Minas de hoje:

Enlace
"Casamento que promete reunir figuras de proa da política e do meio empresarial brasileiro, em 1º de setembro, no Grande Hotel de Araxá, será o da ex-Miss Brasil, a mineira Iara Maria Coelho (filha de Eloiza e do magistrado José Adalberto Coelho), com o empresário Carlos Jereissati, irmão do senador Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB e ex-governador do Ceará. O noivo é dono de uma rede de shoppings centers – alguns estão entre os mais chiques de São Paulo.
A festa vai durar três dias e o hotel ficará por conta dos convidados."

(Eu é que estou cansada de tanta gastança, exibicionismo e desigualdade neste país!)

4 de ago. de 2007

Infâmia

“A nossa elite é a pior das catástrofes naturais”
Antonio Veronese

Marcos Valério (dos milhões do mensalão) se instala em fazenda a 110 quilômetros de Belo Horizonte, para criação de gado Nelore de elite. Ele diz que usa o local apenas para guardar os cavalos de sua filha (Natália, de 16 anos).
Depois de todas as falcatruas, como sói acontecer no Brasil, o sorridente Marcos Valério continua livre e solto para voar, dando-se ao luxo de comprar uma fazenda pela bagatela de R$ 6 milhões só para guardar os cavalos da filha, pois, diz ele: “Nem vou muito lá. Todo mundo sabe que não gosto de campo”. Ele nega a compra, diz ser arrendamento, mas o jornal noticia que a "transação com o empresário Benito Porcaro Filho foi registrada num contrato particular".
Como diz Millor Fernandes, o nosso analista da justiça brasileira:
"O crime, quando compensa, não é crime."

Fonte da notícia: jornal Estado de Minas - Primeira página - 4/8/07

1 de ago. de 2007

O chicote e o cacetete


Assistam ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=UMNTI_9fRl8

E depois relembrem os versos de Castro Alves, cujo espectro do "Navio negreiro" continua a nos assombrar. O cacetete substituiu o chicote, o mar é a vala comum dos cemitérios, o capitão são nossos governantes que treinam sua polícia para matar, e nós "um povo que a bandeira empresta p'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!..."

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?

...o capitão manda a manobra,
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E o poeta foi profético nos versos de outro poema, "Prometeu":

Povo ! Povo infeliz ! Povo, mártir eterno,
Tu és do cativeiro o Prometeu moderno...