Wikipedia

Resultados da pesquisa

29 de set. de 2012

O crescente drama do sistema penitenciário


O número de vagas criadas nas prisões não acompanha o ritmo de aumento da população carcerária, e é degradante o tratamento que se dá aos presos

Os números do sistema carcerário brasileiro são a medida de uma trágica realidade, tanto pela quantidade de detentos ali recolhidos quanto pelas condições deploráveis das prisões. É um submundo de agressões — morais e físicas — à dignidade humana.
 
O país tem a quarta maior população carcerária do mundo. São mais de 500 mil presos, literalmente espremidos num complexo penal em que há um crônico déficit de 200 mil vagas. É uma equação perversa: aplicados na prática, estes números se traduzem numa desumana taxa de ocupação de 1,65 preso por vaga (relação que, na América do Sul, só é superada pela Bolívia, com 1,66).
 
Em algumas unidades a média explode: no presídio Aníbal Bruno (PE) vai a 3,6 detentos por vaga, e no complexo de Pinheiros (SP) a taxa alcança 2,9. No Presídio Central de Porto Alegre chega a 2,2, a mesma relação presos/vaga do Carandiru à época do massacre de 111 presos, em 1992.
 
São indicadores que inviabilizam programas de ressocialização de presos, um dos princípios que justificam a existência de cadeias. Neles, estão embutidas distorções que não são enfrentadas com a urgência que a questão exige. O número de vagas criadas no sistema não acompanha o ritmo de aumento da população carcerária, o que só potencializa a crítica situação de um complexo prisional já insuficiente para abrigar a atual massa de presidiários.
 
Disso resulta um problema adicional: sem vagas suficientes nos presídios, cresce o total de réus já condenados que cumprem penas em delegacias, e os chamados presos provisórios. Eles são 40% da massa carcerária, recolhidos a unidades em que as condições são ainda mais degradantes do que nas penitenciárias.
 
De 2005 a 2011, o volume de presos aumentou 74%, contra um incremento de 66% na capacidade de absorção de novos detentos. Só em São Paulo, o total de réus recolhidos a prisões foi acrescido de pouco mais 12 mil pessoas, contingente próximo ao da população de 75% dos municípios brasileiros (que têm menos de 20 mil habitantes).
 
É um problema complexo, mas com espaço para soluções mais imediatas. A principal delas é de implementação a curto prazo: construir mais presídios (o país tem uma déficit de quase 400 unidades). Isso exige investimentos públicos e vontade política. Ambos são imprescindíveis.

Fonte O Globo - opinião

24 de set. de 2012

Batismo no Presídio de Cataguases



No dia 12 deste mês, das 9h às 11h, ocorreu no Presídio de Cataguases, o Culto Evangélico de Batismo.

Promovido pela Igreja Assembléia de Deus, em missão "Restaurando Vidas em Cataguases", foram batizados 16 custodiados que contaram com a presença de seus familiares.

Para o Diretor Geral do Presídio, Sr. Giuliano de Paula, "esse momento é importantíssimo para os nossos custodiados, pois muitos não tiveram contato com qualquer Instituição Evangelizadora e Religiosa, antes do ingresso na Unidade Prisional".

O Presídio de Cataguases oferece, dentro dos princípios assistenciais que a própria Lei de Execução Penal define, parceria com várias instituições religiosas, Católicas e Evangélicas. Observando-se as normativas legais e a segurança, os parceiros trabalham no interior do Estabelecimento Prisional, às terças e quintas-feiras, pregando o Evangelho e ainda, para custodiados e familiares, ao término do horário de visitação social aos sábados e domingos.

GIULIANO DE PAULA
Diretor Geral
Presídio de Cataguases
 

20 de set. de 2012

Perseguição e condenação das obras de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato. Reprodução/CPDoc JB

MONTEIRO LOBATO, UM GÊNIO, UM BRASILEIRO

Vera Vassouras*
 
 
Inventam-se formas de fazer publicidade do racismo contra brasileiros. Uma lástima. Pior, um arranjo que envolve uma instituição que tem como finalidade a luta pela extinção do racismo, sendo uma delas uma Secretaria do Governo, todos sustentados pelos impostos pagos pelo pobre, e negros.
Pergunta-se, ainda uma vez, por que essas instituições não promovem ações contra o Estado e seu racismo institucionalizado? Um jovem servidor público negro perdeu seu emprego por ter ofendido um Ministro do Judiciário com sua presença, quando à espera do uso de um caixa eletrônico. Alguma instituição decidiu processar o Ministro? Na Líbia, cidadãos negros estão sendo mortos e perseguidos por nazi-sionistas internacionais e não conheço nenhuma manifestação das instituições contra o genocídio organizado em defesa de uma raça.
Os livros escolares, secularmente, adestram as crianças para o racismo e preconceito, elogiando heróis-genocidas e mantendo na ignorância das revoluções da resistência, negando conhecimento da vida e obra de nossos heróis nacionais, índios, negros e mestiços.
O que está, realmente, por trás da perseguição à memória e à obra de Monteiro Lobato?
Nas DEZENAS de obras nas quais a criança, o jovem e o adulto têm a possibilidade de conhecer a mitologia, a filosofia dos povos, as lendas, a história e o folclore nacional, a ciência, a antropologia, enfim, a todo o leitor poderá abrir as portas ao conhecimento e, portanto, à liberdade que a verdadeira cultura promove. As Instituições são remuneradas para lutar contra o racismo, ao desconhecer a obra, limitam-se a cumprir as ordens da estrutura racista de poder, no qual, a premissa é manter o brasileiro na ignorância do trabalho desenvolvido por seus irmãos, seus iguais, seus heróis nacionais e, no caso de Monteiro Lobato, um gênio da literatura mundial, gerado em terras brasileiras.
Uma prova da perseguição e condenação das obras de Monteiro Lobato. O precioso livro “A ONDA VERDE O PRESIDENTE NEGRO” não é citado, aliás, esconde-se esta obra como o mapa de um tesouro.
Algumas frases encontradas no livro explicam a condenação dos capitães do mato a serviço da institucionalização do racismo:
No conteúdo da ONDA VERDE, Monteiro Lobato analisa e destrói toda a fantasia da exploração das terras paulistas, um grito em favor da natureza e da verdade, jamais citado pelos autodenominados verdes:
“A região era todo um matareu virgem de majestosa beleza.
Rasgara-o a facão o bandeirante antigo, por meio de picadas; o bandeirante moderno, machado ao ombro e facho incendiário na mão, vinha agora, não penetrá-lo, mas destruí-lo.”
“Desfez em decênios a obra prima que a natureza vinha compondo desde a infância da terra.”
Nada mais soberbo – e nada desculpa tanto o orgulho paulista – do que o mar de cafeeiros em linha, postos em substituição da floresta nativa.”
“Nada lhe detém a ofensiva irresistível... nem a mentalidade altista, loucamente esbanjadora, do fazendeiro.”
“A propriedade, cria-se hoje, como outrora, pela conquista do mais forte, pela espoliação levada a cabo pelo mais audacioso, pelo mais despido de escrúpulos.”
“Mas surge o grileiro e tudo se transforma... terras legitimamente, legalmente “apropriadas”. Ao partir para o sertão ele deixou em casa, na gaveta, os escrúpulos da consciência. Vem firme, vem “feito” como um gavião. Opera as maiores falcatruas; fabrica firmas, papéis, selos; falsifica rios e montanhas; falsifica árvores e marcos; falsifica juízes e cartórios; falsifica o fiel da balança de Temis; falsifica o céu, a terra as águas; falsifica Deus e o Diabo. Mas vence. E por arte dessa obra-prima de malabarismo, espoliando posseiros ou donos, sempre firmados na gazua da lei, os grileiros expelem das terras, num estupendo parigato, todos os “barbas ralas” que ali vivem parasitariamente, tentando resistir ao arranque da civilização.”
“Responde o café:
- Minha forme está acima da moral, e eu só conheço as leis do meu apetite.”
Ora, se mudarmos os cafezais por plantações de soja, milho e algodão transgênico, o assunto é o mesmo, o grilo foi transformado em agronegócio e a falsificação depende ainda dos negócios da instituição dentro do Congresso e nas lutas perdidas por tradição nos tribunais dos latifúndios.
Na mesma obra, ao tentar explicitar os mecanismos do GRILO, Monteiro Lobato afirma que o grilo é o “viveiro onde se fermenta a aristocracia dinheirosa de amanhã.”
“As velhas fidalguias da Europa entrocam no banditismo dos cruzados. Ter na linhagem um facínora encoscorado de ferro, que saqueou, queimou, violou, matou à larga no Oriente, é o maior padrão de glória de um marquês na França. Ter entre os avós um grileiro de hoje vai ser o orgulho supremo dos nossos milionários futuros. Matarás, roubarás, são os mandamentos de alto bordo do decálogo humano, eternos e irredutíveis...”
“GRILO É UMA PROPRIEDADE TERRITORIAL legalizada por meio de um título falso; grileiro é o advogado ou “águia” qualquer manipulador de grilos; terras “grilentas” ou “engriladas”, as que têm maromba de alquimia forense no título.”
“O grileiro é um alquimista. Envelhece papéis.”
“Não há exagero no cálculo de três milhões, sabendo-se que há grilos de 200, 300 e 400 mil alqueires – territórios equivalentes à metade da Bélgica, quase a Saxônia, e tamanhos como antigos ducados e principados alemães.”
“... Jeca Tatu aprenderá nela a perdoar com generosidade o erro dos fracos e a punir com dureza o crime dos fortes. E aprenderá ainda a mover-se, a correr, a nadar, a ser homem com H maiúsculo em todas as situações da vida.
O Brasil de amanhã não se elabora, pois, aqui. Vem em películas de Los Angeles, enlatado como goiabada. E a denominação yankee vai se operando de maneira agradável, sem que o assimilado o perceba.”
O PRESIDENTE NEGRO
Nesta obra, que mereceria um simpósio para discussão, Monteiro Lobato mistura conhecimento científico, a política eugenista dos americanos, exportada à América Latina, e a vitória sempre anunciada da raça branca contra uma população negra cujos cérebros perderam a capacidade do pensamento individual e solidário.
E como a denúncia de racismo contra a memória de um dos maiores brasileiros, tem por desculpa educação, verifique-se que o ano da ficção é 2228, todavia, a política da escola hospício continua em todos os continentes e tem a pretensão da imortalidade.
“A criança tinha na América de 2228 uma importância capital. Toda a vida do país girava-lhe em torno. Era a criança, além do encanto do presente, o futuro plasmável como a cera. Os maiores gênios da raça se consagravam a estudá-la, para com tão dúctil matéria prima ir esculpindo a obra única que apaixonava o americano – o Amanhã... Sua Majestade Baby era o Luiz 14 do século.
“... A raça branca, afeita à guerra como a última ratio da sua majestade, desviava-se da velha trilha e impunha um manso ponto final étnico ao grupo que a ajudara a criar a América, mas com o qual não mais podia viver em comum. Tinha-o como obstáculo ao ideal da Super-Civilização ariana que naquele território começava a desabrochar, e, pois não iria render-se a fraquezas de sentimento.
A raça ferida na fonte vital pendeu sobre o peito a cabeça como a planta a que opodador estrangula a circulação da seiva. Ia passar. Estéril como a pedra, iria extinguir-se num crepúsculo indolor, mas de trágica melancolia.
E passou...”
MONTEIRO LOBATO, UM GÊNIO
Monteiro Lobato é um gênio que está além de quaisquer acordos judiciais. Nem os denunciantes – que evidentemente desconhecem sua obra- tampouco os julga-dores que, na origem, pertencem à tradicional aristocracia ariana nascida do engodo e da ignorância, têm direito, cultura ou competência para julgar sua obra. As verdades ali contidas não podem ser aprisionadas em tempos processuais, tampouco em políticas de alienação das massas, ou suas palavras podem ser manipuladas fora do tempo e do contexto.
Esse processo contra sua memória nada mais é do que uma das facetas do arianismo psicopata que têm como finalidade manter essa artificial supremacia branca, tão nefasta ao afastar os brasileiros do espírito de solidariedade, sob a fachada do racismo, como se nada mais houvesse a fazer do que macular a honra de um sábio brasileiro que, por sua obra, denúncia com seu silêncio iluminador, os atores desse circo montado como seres imbecilizados e imbeciliza-dores.
 
Monteiro Lobato está além, muito além do Sítio do Pica-pau Amarelo. A moto-serra-caneta tenta derrubar sua árvore do conhecimento, mas Lobato sobrevive apesar da perseguição dos capitães do mato de todas as raças, de todos os matizes e de todas as instituições.
*Advogada

18 de set. de 2012

Convite da Pastoral Carcerária


Participe do chat da Pastoral Carcerária com Rodolfo Valente



Convidamos você para participar do chat Pastoral Carcerária em Rede, a ser realizado no dia 25/9/2012, às 14h, com Rodolfo Valente, militante da Rede 2 de outubro.

O chat tem por objetivo discutir questões relacionadas à Rede 2 de outubro e apresentar o trabalho que desenvolve no sistema prisional.

Saiba mais:

A Rede 2 de outubro é composta por um conjunto de organizações e movimentos sociais que lutam pela responsabilização do Estado e de seus agentes pelo massacre do Carandiru (e por todos os outros massacres antecedentes e consequentes).

Com a realização de debates, pesquisas, entre outras ações, a rede ajuda a denunciar as origens e o significado das terríveis condições de encarceramento, do caráter seletivo do sistema penal e prisional e do uso desmedido da violência pelo Estado.

Para participar, é necessário entrar na rede da Pastoral Carcerária — www.carceraria.org.br . O cadastro é gratuito e pode ser conectado à sua conta no Twitter, Facebook e Google.

Participe!
 

PASTORAL CARCERÁRIA NACIONAL -PCrN/CNBB
Coordenação Executiva Nacional: Pe. Valdir João da Silveira, Ir. Petra Pfaller,
Heidi Ann Cerneka, José de Jesus Filho
Tel.: 55 (11) 3101-9419 - Skype: carceraria.secretaria
E-mail: nacional@carceraria.org.br - www.carceraria.org.br

14 de set. de 2012

Parceria entre Prefeitura e Presídio promove trabalho para os apenados




 
Parceria da Prefeitura de Leopoldina com o Presídio de Leopoldina promove emprego, renda e ressocialização, abrindo as portas para um novo recomeço
A satisfação é enorme de ver esta parceria efetivada, sonhamos com isso há muito tempo.
Esta é uma das ferramentas de ressocializacão importantíssima, pois o apenado, além de receber a remição da pena, recebe pelo serviço prestado. Por onde eles passam a comunidade leopoldinense fica feliz em vê-los trabalhando. Aquela pecha de que preso tem que trabalhar forçado para pagar a pena, começa a ser diluída com esta brilhante parceria.
Parabéns ao diretor Daniel da Silva Nocceli e a Prefeitura de Leopoldina.
 

* Fonte:  Irmã Beth, professora no Presídio de Leopoldina e Cataguases

 

 
 
 
 
 
 

13 de set. de 2012

Crianças e adolescentes, vítimas de homicídios: verdadeira calamidade social


Epidemia de indiferença

Por Atila Roque*
 


O Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de "epidemia de indiferença", quase cumplicidade de grande parcela da sociedade e dos governos, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade social. Em 2010, 8.686 crianças e adolescentes foram vítimas de homicídio. Estamos falando ao equivalente a cerca de 43 aviões da TAM, como o do trágico acidente em 2007, lotados de crianças e adolescentes.

De 1981 a 2010, o país perdeu assassinadas 176.044 pessoas com 19 anos ou menos, sendo que meninos representam em torno de 90% do total. Esses dados horripilantes nos alcançaram mais uma em meados de julho, quando foi divulgado o "Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes do Brasil", do pesquisador Júlio Jacobo Waiselfisz, coordenador de Estudos sobre a Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no Brasil. Os dados e análises compilados sistematicamente nos últimos anos pelo Mapa revelam um cenário de dor e horror que não tem obtido a atenção que merece na sociedade brasileira.
 
Passados mais de uma década de governo do PT e mais de trinta anos de regimes democráticos a área de segurança pública permanece praticamente intocada. Arraigada em um modelo arcaico que não apenas relega aos Estados o grosso das responsabilidades com a implementação das políticas de segurança e que mantém um arcabouço institucional de polícia militarizado que penaliza a sociedade e, em última instância, os próprios profissionais do setor: mal remunerados, mal treinados e sistematicamente desvalorizados. Uma das consequências são os índices de violência e homicídios associados às más práticas da polícia. Somente no Estado de São Paulo, onde a taxa geral de homicídios voltou a subir depois de um período de queda, a polícia matou nos últimos cinco anos nove vezes mais que o total de mortes decorrentes da ação policial em todo os EUA. A taxa de homicídios na população entre 0 e 19 anos em 1980 era de 3,1 para cada grupo de 100 mil. Em 2010, foi de 13,8.
 
O exemplo mais recente desse descaso do Estado brasileiro em relação à gravidade do tema foi a notícia divulgado ao final do ano passado que o tão esperado Plano Nacional de Redução de Homicídios havia sido engavetado pelo Ministério da Justiça por orientação expressa da presidente Dilma, que preferia concentrar esforços na ampliação e modernização do sistema penitenciário, no combate ao crack e no monitoramento das fronteiras, adiando mais uma vez a abordagem integrada do problema. Em fevereiro deste ano o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que a redução dos homicídios seria uma prioridade do novo Plano Nacional de Enfrentamento da Violência. Infelizmente muito pouco e muito tarde para um problema que se repete todos os anos e para o qual não faltam análises, diagnósticos e propostas colocadas em diferentes graus em debate e experimentadas em pequena escala ao longo das últimas duas décadas.
 
As chances de uma criança ou adolescente brasileiro morrer assassinado são maiores hoje do que eram há 30 anos, colocando o país na quarta pior colocação numa comparação com outros 91 países. Em 1980, a taxa de homicídios na população entre zero e 19 anos era de 3,1 para cada 100 mil pessoas. Pulou para 7,7 em 1990, chegou a 11,9 em 2000 e alcançou 13,8 em 2010. Um crescimento de 346,4% em três décadas, em contraste com a mortalidade provocada por problemas de saúde, que teve queda acentuada. Quando considerada toda a população, a taxa de homicídios em 2010 foi de 27 por 100 mil habitantes. Considera-se que há uma epidemia de homicídios quando a taxa fica acima de 10 por 100 mil.
 
De fato, o Brasil é o país com o maior número bruto de homicídios no mundo, ocupando o sexto lugar quando considerado a proporção em relação ao tamanho da população do país. E os jovens, em sua maioria crianças e adolescentes, meninos, ocupam uma parcela desproporcional dessas mortes, sem que isso vire um escândalo público nacional. Passado o momento da divulgação dos dados voltamos a situação de quase inércia em que as medidas tomadas não incorporam o sentido de urgência e emergência que a questão merece.
 
O fim trágico da vida desses jovens vem acompanhado da anulação simbólica de suas histórias, a dor das famílias e dos amigos ignorada, sonhos e trajetórias de vidas suprimidos. Isso ocorre devido à naturalização da violência e a um grau assustador de complacência em relação a essa tragédia. É como se estivéssemos dizendo, como sociedade e governo, que o destino deles já estava traçado. Estavam destinados à tragédia e à morte precoce, violenta, porque nasceram no lugar errado, na classe social errada e com a cor da pele errada, em um país onde o racismo faz parte do processo de socialização e do modo de estruturação do poder na sociedade.
 
São jovens submetidos constantemente a um processo que os transforma em ameaça, os desumaniza, viram "delinquentes", "traficantes", "marginais" ou, às vezes, nem isso, apenas "vítimas" de um contexto de violência e discriminação em relação ao qual a sociedade prefere virar às costas e olhar para o outro lado, com raras exceções.
É preciso quebrar esse padrão de violência e indiferença e compreender que o país está perdendo o melhor da sua juventude. Esses meninos não estavam destinados a morte violenta, mas sim a serem médicos, artistas, engenheiros, professores, filhos e pais, avôs e presidentes da República.
 
Precisamos criar alternativas, abrir canais de conversação na sociedade sobre essa tragédia, combater a violência armada, inclusive policial, estabelecer instrumentos de participação e controle cidadão sobre o desenho e implementação das políticas públicas de segurança. Reconhecer que isso é uma questão nacional, um problema do estado e central à consolidação da democracia. Precisamos quebrar a apatia, o silêncio e a cumplicidade passiva com o extermínio dos jovens brasileiros.
---------------
*Atila Roque - diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil
Fonte: Anistia Internacional

12 de set. de 2012

Como combater a tortura neste país?

Membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos são vítimas de prisão arbitrária

A prisão se deu quando realizavam vistoria para apurar tortura no presídio PB-1.

Os integrantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos na Paraíba (CEDH-PB) Padre Bosco (presidente) e Guiany Campos, da Pastoral Carcerária, Nazaré Zenaide, do CDH da UFPB, a ouvidora da Secretaria de Segurança e conselheira do MNDH Valdênia Paulino e e Lídia Nóbrega, da Defensoria Pública da União, foram presos arbitrariamente por mais de três horas na noite desta terça-feira (28) quando realizavam uma inspeção para apurar denúncias de tortura no presídio PB-1, em João Pessoa.
 
Os integrantes do Conselho foram detidos sob o argumento de que estavam tirando fotos de presos. O CEDH-PB sempre faz suas vistorias com máquina fotográfica, a fim de registrar o estado dos detentos. As fotos são publicadas, com descaracterização quando necessário, nos relatórios do Conselho, divulgados na internet.
 
Segundo informações repassadas pelo procurador da República Duciran Farena, representante do Ministério Público Federal no CEDH-PB, a ordem de prisão ilegal teria sido dada pelo diretor do presídio, Sérgio, por telefone (ele estaria em férias). Em contato telefônico com o capitão Juliemerson, que esteve no local para cumprir a prisão, o procurador, avisado pelo celular de um dos conselheiros, pode constatar o absurdo da prisão. “No primeiro contato, o capitão disse que estavam presos por tirarem fotos não autorizadas. Quando informei que tirar fotos é prerrogativa do Conselho, o capitão respondeu que a ordem de prisão não era de responsabilidade dele. Logo em seguida, passou a dizer que não havia ordem de prisão nenhuma. Mas não deixava ninguém sair”, relatou o procurador.
 
Com a chegada do promotor de Justiça Marinho Mendes, os conselheiros foram liberados, quase três horas depois de sua detenção. Não foi formalizada nenhuma acusação de crime contra nenhum conselheiro.
Para o procurador Duciran Farena, além da ocorrência de crime de constrangimento ilegal, o episódio demonstra que os órgãos de controle social não têm liberdade alguma na Paraíba, estando à mercê dos abusos das autoridades que buscam impedir as ações de fiscalização.
 
“Como o governo estadual pretende por em funcionamento o Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, se não assegura sequer aos órgãos existentes, como o CEDH-PB, a possibilidade de investigar denúncias de tortura?” questiona o procurador.
==============
Fonte: Movimento Nacional de Direitos Humanos

3 de set. de 2012

Greves do funcionalismo público

A sociedade paga a conta
 
Os constantes sinais emitidos pelo Planalto desde o início da Era Lula, de aceitação de corporações sindicais ligadas ao funcionalismo público como uma espécie de condôminos do poder, têm dado a entidades que falam em nome dos servidores uma inequívoca desenvoltura para se mobilizar em defesa de crescentes reivindicações.
 
Seja para a preservação de vantagens funcionais, a eles asseguradas por uma legislação tão paternalista quanto anacrônica, ou para a obtenção de novos privilégios, diversas categorias do Executivo não hesitam em recorrer a paralisações.
 
Contam, para isso, não só com as garantias da estabilidade no emprego, mas, igualmente, por contaminação ideológica, com usuais demonstrações de leniência das autoridades. Invariavelmente, da junção entre demonstrações de força (que levam ao fechamento de repartições) e inapetência pela repressão a abusos (um dever de quem tem a responsabilidade de exercer cargos no poder público), resulta como vítima a sociedade, tomada como refém desta aliança deletéria.
 
O modelo foi novamente colocado em prática na recente onda de greves do funcionalismo público da União. Desta vez, no entanto, o governo federal acabou saindo fora do pacto: após se dobrar inicialmente, pela inércia, a um movimento que paralisou importantes órgãos — inclusive de áreas essenciais — da administração pública, o Planalto curvou-se à evidência de que era impossível aceitar reivindicações inquestionavelmente abusivas.
Da letargia inicial, que deve ter estimulado o desdobramento e o prolongamento das paralisações, Brasília enfim endureceu com os grevistas. Mostrou-se inflexível com os pleitos acima dos índices colocados na mesa de negociações, cortou o ponto de quem se recusava a trabalhar e fechou-se ao diálogo. O recuo do funcionalismo comprovou que as greves não se assentavam em questões justas. Ao contrário, tinham a exorbitância como combustível.
 
Os movimentos do Planalto para assegurar privilégios aos servidores não se limitaram aos acenos para atuarem como sócias do poder. Desde o primeiro governo Lula têm sido generosos os aumentos a eles concedidos, de tal forma que o Executivo chega a pagar salários mais altos que os praticados na iniciativa privada.
 
Mesmo nesse paraíso salarial há distorções a serem enfrentadas. Mas isso deve ser feito com a revisão de planos de carreira, com coerência administrativa e orçamentária. É preciso também reparar uma lacuna da legislação: a regulamentação do direito de greve no serviço público, providência que o governo tomou, ao anunciar o encaminhamento ao Congresso do projeto que trata da questão.
Impor a correção de desvios pela greve é inaceitável, porque prejudica a população e deixa na conta de toda a sociedade o custo de demandas que não são dela, mas de grupos corporativos.

Fonte: O Globo - 3/9/2012