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Resultados da pesquisa

30 de jul. de 2007

João Baptista Herkenhoff

Manifestação recebida diante da postagem
As vinhas da ira

Subscrevo a indignação em face desta afronta ao povo humilde. Nem em Roma, na sua época mais nefanda, nem na Idade Média, no seu declínio, via-se flash tão esdrúxulo de exibição, escárnio e mau gosto.
Atenciosamente,

João Baptista Herkenhoff,
Escritor, magistrado aposentado e professor

E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.joaobaptista.com

(publicada com autorização do autor)

Indignação!

"Meu Deus, que vergonha, ler que seres humanos nas mãos de outros seres humanos, que representam a Lei e a Justiça, imploram por um pouco de sol!!! Vergonha!!! Horror!!! Barbárie!!! "

(Da professora Maria Helena Zamora, da PUC-Rio, diante da postagem Apelo por um banho de sol , de 24/7, neste blog)

29 de jul. de 2007

As vinhas da ira

O trem tá feio pro lado de Minas Gerais
A "elite" se esbalda e o povo na miséria. Ah, e a "elite" ainda reclama do tal "bolsa-família" que o governo federal dá para "esses vagabundos", expressão usada nas críticas ao programa.
O principal jornal do estado, que juntando-se aos demais, não exerce nenhuma cobrança ao governo Aécio Neves, tem várias páginas dedicadas a essas excrescências da nossa desigualdade social.
Leiam a nota de hoje, na qual se orgulham de uma mineira que ganhou do namorado bilionário, Germano Gerdau, um apartamento triplex em BH, uma cobertura na Vieira Souto, um iate de US$3 milhões e 700 mil libras para gastar no shopping londrino.


Segue a notícia copiada na íntegra do jornal Estado de Minas - Caderno EM Cultura (sic) - 29/7/07, com foto da "deusa", de acordo com os "valores mineiros":

Fábula moderna
Colunas sociais e gente ligada ao meio têm como um dos assuntos mais constantes da atualidade o namoro da mineira Ana Vitória Motta (foto) com o milionário Germano Gerdau. Tudo acaba aparecendo na imprensa: o apartamento triplex que ela ganhou aqui em BH, a cobertura da Vieira Souto, os detalhes do aniversário dele, comemorado no Rio com infra-estrutura mineira (decoração de Denise Magalhães e bufê da Maccielina), o iate de US$3 milhões, a casa em Angra, para o barco ter um pouso certo, e até as 700 mil libras que ela gastou em shopping londrino. A moça é daqui, foi casada com Sérgio Mota, sobrinho de Newton Cardoso, é filha de Jorge Motta, que já morreu e era um dos principais colaboradores do senador Eliseu Resende, e de Elizabeth Leste, que depois de viúva foi morar em Curitiba, onde se casou de novo e mantêm uma grife de jóias. O Romeu apaixonado é membro de uma das 10 maiores fortunas do país – tem grana para gastar com quem quiser...

Bandidos do mais alto coturno

Leiam artigo muito previdente, além de interessante e bem-humorado. Alerta-nos para o perigo das más companhias, "bandidos do mais alto coturno", como define o autor. Excelente para muita gente incauta, nossa burguesia e Cia, que se ilude com a falácia da imprensa de que os bandidos estão nas cadeias e presídios. Como disse certa vez Graciliano Ramos: "Se eu fosse autoridade, soltava os presos e prendia os bandidos".

S.O.S, sinal geral de perigo
EDUARDO ALMEIDA REIS

eduardo.reis@uai.com.br

Sabe aquele desembargador – um deles... – que apareceu preso pela Polícia Federal nos telejornais? Pois é: jantei com Sua Excelência não faz muito tempo. Festa supimpa: champanhe francês, uísque rótulo preto, garçons a montões. É o que sempre digo, baseado nos fatos e em Guimarães Rosa: viver é muito perigoso. Conviver, mais ainda...
Virgem de maracutais até ontem – o que talvez explique o fato de chegar a uma idade, digamos, provecta, dono de um carro fabricado no século e no milênio passados – ainda me enrolo numa dessas festas e posso ter meus telefones anotados nas agendas de bandidos do mais alto coturno.
É por isso que não gosto de festas; ainda assim, o sentimento é confuso, porque fico p. da vida quando não me convidam. Quando tenho notícia de que, no casamento do filho do fulano, só rolou champanhe vinificado em Reims, ou em Épernay, a frustração é quintuplicada.
A ressalva da vinificação em Reims e Épernay é mais que justificada, depois que a polícia estourou um fundo de garagem, lugar imundo, em Contagem, MG, com 700 garrafas de Veuve Clicquot e mais 400 litros de Johnnie Walker Red Label prontinhos para expedição. A propósito da indústria de Contagem, me contaram do uísque escocês que era fabricado no Barro Preto, bairro de Belo Horizonte, no tempo em que eu ainda não morava por aqui. O patriotismo de certos cavalheiros era tão grande, que viviam repetindo: “Uísque bom é o do Barro Preto".
Muitos deles só compravam uísque quando tinham a certeza de que era produzido no Barro Preto. Certa feita, procurando fazenda para morar, dei com o costado numa propriedade que me interessou. Área, topografia, localização, bela casa colonial em ótimo estado – ali mesmo, na Zona da Mata de Minas, a 10 minutos do colégio das meninas – era tudo que eu andava procurando.
O proprietário queria e não queria vender, porque não precisava de dinheiro. Conversa vai, conversa vem, explicou: “Esta fazenda não me rende, por ano, o que eu ganho por dia na cidade”. Bobo que sou, não me contive: “Ainda que mal pergunte, qual é o seu negócio na cidade?”. Resposta óbvia: “Sou bicheiro, sim, senhor”.
Alguns anos antes, passei por experiência curiosa com um vizinho de fazenda no estado do Rio, sujeito falante, simpático, prestativo, sempre disposto a mandar trazer da Europa qualquer coisa que os amigos pedissem. Foi antes da abertura nas importações, quando tudo era difícil por aqui, com exceção, talvez, do uísque feito no Barro Preto. Resumindo: o novo fazendeiro era simpático demais para ser verdade. Nem tive tempo de explorar sua simpatia esfuziante, porque o rapaz foi preso com estardalhaço: máfia italiana. Máfia mesmo, da legítima, e não dessas mafinhas que andam por aí: dos chineses, dos russos, dos japoneses, das ambulâncias, dos mensalões.
Nosso vizinho mandava e desmandava na Cosa Nostra, original de fábrica, sem essa de pirataria. Mafioso que se preza é simpático, educado, prestativo, ansioso de aceitação e reconhecimento social. É incapaz de matar uma mosca, até porque tem quem o faça melhor do que ele.
Por um átimo, questão de semanas, deixamos de conviver em nossas casas, hoje um jantar aqui, amanhã na fazenda do rapaz que já estava sendo observado pela Polícia Federal, em operação conjunta com a Interpol, o FBI e a polícia italiana. Devo confessar que andei afinzão de conhecer a fazenda do rapaz, pois me contavam que tinha mulher lindíssima, coleção de uísques e licores, pilhas de caixas de charutos cubanos.
Um dos nossos vizinhos, que se adiantou no reconhecimento do terreno, vivia contando maravilhas da cozinha do rapaz. Quando estourou o escândalo, o vizinho passou um tempão sem dormir, depois de esconder no mato, bem escondido, o arsenal que importou por meio do novo amigo.
Nas reuniões sociais, todos se apresentam com seus negócios de fachada, sem a honestidade que se tem o direito de esperar de um desembargador, como aquele que foi preso. Em vez de anunciar sua condição de magistrado, devia dizer: “Sou vendedor de sentenças”.
Bandidagem composta de gente muito burra, que não aprendeu, ainda, que o telefone não foi inventado para cuidar de negócios escusos. O bandido, mesmo quando é da polícia e da Justiça, acha que a parafernália de escuta foi montada para gravar as conversas dos outros. Não é de espantar que tanta gente seja escutada, gravada e presa.
Gosto de gente honesta e franca. Certa feita, notei que bela morena ficou desesperada quando perdeu o ônibus na rodoviária de Cataguases. Cavalheiro prestativo, ofereci-lhe carona no Opalão seis cornetas, amortecedores especiais, despinguelando atrás do ônibus, que parecia ter sido projetado pela Ferrari. Moça bonita, modelo 18, com as pernas ainda sujas do barro da bicicleta que usou para chegar à rodoviária. Conversa vai, conversa vem, contou-me que era natural de BH e trabalhava em Cataguases. Fazendo curvas a 180 km/h, o bobo do piloto do Opalão achou tempo de perguntar pelo emprego de Cataguases. Resposta honesta e franca: “Sou p., sim, senhor”.

Fonte: jornal Estado de Minas - caderno EMCultura - Domingo, 29/7/07

27 de jul. de 2007

Campanha "cansei"

Sobre a estranha campanha "cansei", lançada pela OAB, para protestar usando os slogans "Cansei do caos aéreo", "cansei de bala perdida", "cansei de pagar tantos impostos", o escritor Fernando Soares Campos respondeu com o artigo:

Cansaram-se?! Pois eu não me canso de bater em hipócritas!
Fernando Soares Campos

Túmulos caiados sempre querem se passar por honestos, santificados, verdadeiros, sinceros, amigos, parceiros, bons, autênticos, equilibrados, enfim, detentores de todas as verdades e portadores de todas as virtudes. Túmulos caiados têm verdadeiro pavor de contrariar os ditames morais e éticos impostos pelo establishment. Moral no papel, moral nos discursos, moral letárgica, moral morta se fazendo de viva pra enganar os coveiros.
Desde tempos longínquos os túmulos caiados adoram a moral virtual:
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a túmulos caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície” (Mateus, 23, 27-28).

Leia artigo completo no site NOVAE

26 de jul. de 2007

Protesto na Alemanha

Manifestação na Alemanha contra a violência policial no Rio e a criminalização da Rede devido aos protestos contra o Pan

Em função dos últimos acontecimentos ocorridos no Rio de Janeiro, realizamos no dia 24 de julho, uma manifestação em frente à embaixada brasileira em Berlim-Alemanha.
A manifestação contou com a presença de brasileir@s, argentin@s, nigerian@s, residentes em Berlim e também alemães. A ação foi apoiada por FelS/Departamento Solidariedade Internacional, KOP (campanha por vítimas da violência racista da polícia) e Comitê pelos Direitos Humanos nas Favelas (Suíça), movimento Ambiente Já, e pelos Grupos de Capoeira Arte das Gerais e Einfach Capoeira. Neste evento, uma comissão foi recebida por Tovar da Silva Nunes, Delegado da embaixada e pelo responsável de imprensa - Sr. Gustavo.
Neste encontro entregamos um documento, onde exigimos, em primeira instância:
- Que seja instalada uma investigação independente das recentes mortes ocorridas no Complexo do Alemão;
- Que seja retirada a acusação de uso indevido da imagem do Cauê - mascote do Pan - que vem ocorrendo contra os militantes da Rede.
Diante disso, o Delegado da embaixada, Tovar da Silva Nunes, comprometeu-se em solicitar junto a Brasília um esclarecimento dos fatos, e em nos retornar com a resposta. Nós, manifestantes, decidimos fazer uma grande mobilização aqui na Europa, que vai desde a realização de novas manifestações, até a intensificação do abaixo-assinado "Chega de Massacres".
Seguimos juntos na luta.

**********************
Algumas fotos da manifestação no CMI:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/07/388919.shtml
Link para a notícia no Indymedia Alemanha:
http://de.indymedia.org/2007/07/189111.shtml
Manifesto "Chega de Massacres":
http://www.redecontraviolencia.org/Artigos/148.html

25 de jul. de 2007

Tempos tenebrosos

Polícia intima Latuff por críticas ao PAN do Rio
Leia no NOVAE

"Era só o que faltava. O artista gráfico Carlos Latuff foi intimado ontem pela delegada Valéria de Aragão Sádio, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial, "a fim de prestar esclarecimentos referente ao procedimento em epígrafe". Desconsiderando o atentado à gramática do texto assinado pela delegada (erro básico de concordância nominal), é preciso deixar claro aos amigos leitores que o Latuff está sendo intimado única e exclusivamente por usar sua habilidade para denunciar as violências cometidas pelo Estado em nome dos Jogos Pan-Americanos - com o acobertamento vergonhoso das corporações de mídia. "

24 de jul. de 2007

Maiakowski

Por um "raiozinho de sol"
Diante da cruel realidade das prisões brasileiras, nas quais ainda é rotina manter os presos nas celas, sem ao menos o banho de sol diário (conforme reza a Lei de Execução Penal), lembro-me do poema de Vladmir Maiakowski, em que ele descreve a importância de um "raiozinho de sol" durante o tempo em que esteve preso na prisão "Oficina de pompas fúnebres". Era como chamavam a prisão pela quantidade de mortos que produzia quase que diariamente.

Eu, no entanto,
Por um raiozinho de sol amarelo
Dançando em minha parede
Teria dado o mundo todo.
_________________________________________________
Poema completo

ADOLESCENTE
Vladmir Maiakowski(1893-1930)

A juventude tem mil ocupações.
Estudamos gramática até ficar zonzos,
A mimMe expulsaram do quinto ano
E fui entupir os cárceres de Moscou.
Em nosso pequeno mundo caseiro
Brotam pelos divãs
Poetas de melenas fartas.
Que esperar desses líricos bichanos?
Eu, no entanto,
Aprendi a amar no cárcere.
Que vale comparado com isto
A tristeza do bosque de Boulogne?
Que valem comparados com isto
Suspiros ante a paisagem do mar?
Eu, pois, me enamorei da janelinha da cela 103
Da "oficina de pompas fúnebres".
Há gente que vê o sol todos os dias
E se enche de presunção.
"Não valem muito esses raiozinhos"dizem.
Eu, no entanto,
Por um raiozinho de sol amarelo
Dançando em minha parede
Teria dado o mundo todo.

Apelo por um banho de sol

Cataguases, 13 de Julho de 2007
Ao Poder Judiciário do Estado de MG
Terceira Vara Criminal de Cataguases -MG


Nós, detentos das celas 8A e 8B, conhecida como seguro, vimos pedir a atenção do Meritíssimo Juiz Dr. desta comarca, pedimos por gentileza que o Senhor pudesse nos dar o beneficio de receber um banho de sol porque já estamos aqui há bastante tempo, muitos há mais de anos dentro dessa cela sem sair para nada.
Então com muita humildade é que nós pedimos a V.Excia. apenas o direito de tirar um banho de sol e que o Senhor possa atender o nosso pedido que nos seremos muito gratos. Que o Senhor fique com Deus.
Obrigado pela atenção.
Assinado
Todos os detentos das celas 8 A e B da Cadeia de Cataguases

19 de jul. de 2007

Início da edição 133

RECUPERANDOS DE LEOPOLDINA

Esclarecimento aos leitores
Como já dissemos, o jornal Recomeço publica textos dos detentos da cadeia pública de Cataguases e Leopoldina, MG. Iniciamos aqui as postagens dos textos, de acordo com a sequência que saem no jornal impresso, publicado na íntegra no site do Recomeço. Os textos são escritos na cadeia e entregues à equipe do jornal, que faz apenas uma correção ortográfica e gramatical para o bom entendimento do leitor. Todos os textos são aceitos, por mais simples e até repetitivos em cada edição. O importante para nós é desenvolver a capacidade de expressão e elevar a auto-estima dos que escrevem. É altamente gratificante sentir a alegria e emoção com que recebem o jornal impresso na prisão, momento em que não são "presos", mas escritores do jornal.
Seguem, em sequência abaixo, os textos da cadeia de LEOPOLDINA.

Página do Kllotild

Edição 133 - Recuperando de Leopoldina
PÁGINA do Klotild Guimarães Pinto

Meu corpo esta preso, mas a minha mente não

Viajo para lugares que estive e por aqueles que quero estar. Minhas idéias não correspondem com os fatos e a realidade que fui criado? Humildade, religião, fé e força de vontade, solidariedade, perdão, ouvir e expressar. Pessoas que não têm fé, religião, idéias são humildes solidárias comedidas e ao mesmo tempo outros que falam de fé de cumplicidade de solidariedade, chegam até ser arrogantes em nome de Deus. Se Deus é um só porque há separação, discriminação, desconjuntura e desunião?
Vejo pessoas que falam de amor, sem ter amor, que falam de paz e fazem guerra, de solidariedade e não são solidários. Do perdão e são incapazes de perdoar. E se escondem atrás de palavras pra não mostrarem quem realmente são. Hipocrisia, demagogia?
Se o evangelho é um padrão de vida, como vive o hipócrita? O que alimenta a fé? O ódio disfarçado em amor? A superioridade disfarçada em humildade? Devemos ser um diante de Deus e outro perante o homem? Se fizermos cada um a nossa parte, assim seremos a imagem de Deus. Se o amor é generosidade, devemos amar uns aos outros. Piedade! Perdão pra mim pra quem não sabe perdoar.
Mas não é o que acontece, dizemos que amamos a Deus e odiamos nosso próximo.

Reflexão

Sempre quis cuidar, mas não queria cuidados, sempre olhei, mas não via.
Sempre pensei no plural, mas não houve nós.
Sempre estive perto, mas criou-se a distância.
Vou cuidar, dividir, somar e não subtrair.
Ganhou-se um tempo, perdeste tempo demais.
A arrogância sucumbiu à generosidade, o coração congelou-se.
O amor trancou-se numa cúpula.
De que vale ser autêntico se há a pirataria?
Como uma árvore rara fugindo da moto serra, devastando todo o sistema, tornando a vida uma queimada, respirar o ar poluído da solidão e viver nesta floresta de sentimentos vazios.
Valorizar o que se tem antes de se poder dizer obrigado, pedir desculpas e perdão.
Os olhos são capazes de enxergar muito além do que os lábios podem falar.
As mãos abraçam mais rápidos do que os seus passos.
Ter e valorizar, doar e receber, sentir e demonstrar atitude e emoção, ação e sutileza. Que o amor precisa de um tempo pra doar e receber carinho.

O maior dos descasos

Eu já vi várias situações de descaso social, pela televisão, pelos rádios e pelos jornais. Descaso do mundo das autoridades e da sociedade. Descaso com a fome, com as guerras, com a natureza, com o clima e com a própria vida.
No entanto, o maior dos descasos, eu não só vejo como estou vivendo. O descaso com o sistema carcerário da minha cidade. A falta de diálogo entre os detentos e o poder judiciário, a falta de instalações que causa a superlotação, a falta de incentivo para que nos recuperemos, o desempenho da defensoria pela falta de condições que leva ao acúmulo de processos em que muitos já venceram as suas penas, a sua condicional, o semi-aberto e o aberto e que ainda permanecem detidos por não ter como e onde cumprir os seus benefícios.
O descaso com a nossa alimentação, com a nossa dignidade que nos revolta ao dormir amontoados. Tem que se rever, olhar mais, estudar um meio de se esvaziar as cadeias.
A APAC, a defensoria, o judiciário e a promotoria têm que se unir num mutirão para devolver os direitos, os deveres e a dignidade. Grupo como a APAC que se une, se interessa, é a minoria fazendo a sua parte, um exemplo que deveria ser seguido pela maioria.
Detentos que são esquecidos sobre o monte de processos, que não têm nenhuma informação, que esperam seus recursos que às vezes levam meses impossibilitando-nos de qualquer benefício. Tem que se mobilizar, sensibilizar os juizes, promotores, defensores, OAB, direitos humanos e todos os órgãos ligados à justiça para que se revejam as condições, as condenações e a estrutura em que se encontra o sistema carcerário.
O sistema carcerário não é uma instituição falida, só há um grande descaso e incompetência para organizá-lo. Apesar de sermos tratados como excluídos, nós não somos. Somos pessoas que merecem o direito de reintegração. Eu não sou mestrado em direito penal, sou apenas mais um detento que vive neste sistema que às vezes funciona, outras não. O que eu gostaria é de me expressar e ouvir para que se encontre uma solução e no futuro que este diálogo torne melhor a nossa integração na sociedade.
Pois não adianta o descaso, fechar os olhos, tampar os ouvidos e nem se calar. Tudo aqui é uma realidade, que tem que ser revista com clareza, seriedade e justiça.

ARTIGO 157

Rapaz bem aperfeiçoado e de boa família, bem educado e com família constituída, sorriso, choro e com boa conduta.
Na mão, uma arma e nos ouvidos crianças doentes de fome a chorar.
Despensa vazia, contas a pagar, filas enormes para no médico ir consultar.
Na mão uma arma, na mente uma idéia como cachorro louco, alguém irá pagar.
Culpa a sociedade ou culpa a si mesmo? Falta de condições ou de planejamento? Atrás da fita, na cara da vitima, um 38 resolverá?
E quando voltar pra casa alguma coisa terá pra se sustentar. E se não voltar?
Uma vez por semana a família poderá visitar. E se a morte encontrar nesta tentativa de sobrevivência, com quem poderá contar? A vida é difícil. Mas não se pensa em carregar consigo o teu artigo, a sua nota de culpa, as marcas do preconceito e as dificuldades da vida. Nem tudo é motivo pra se cometer 157, mas há outras saídas pra sustentar a família? O crime não compensa quando se cai na cadeia? A liberdade vale mais do que o bolso e a barriga cheia? Há uma escolha? Uma chance? Na recuperação de tantos que vêem o mundo com ódio e descaso?

Ao Dr. Dilson

ERWIN ROMMEL GOUVEA PONTES

Estou escrevendo para lhe agradecer por tudo o que você fez por mim de coração, e que Deus possa te dar muita saúde e paz para você e sua família. Fé em Deus!

Sentimentos

Recuperanda de Leopoldina
Da Gatinha AP para meu gatinho

Assim como as rosas se abrem para receber as gotas do orvalho da manhâ, espero que seu coração esteja aberto para receber minhas palavras de amor e carinho. A saudade não é má, ela apenas nos mostra o quanto é importante estar perto da pessoa desejada.
Quem deseja sofre, mas quem espera, sente, quem sente luta, quem luta vence. Você só vence quando acredita na força da vitória, por isso nunca pense negativo, não se entregue à solidão.
Na vida, seu sorriso é muito valioso para mim. Não gosto de ver você triste, a tristeza não faz parte de sua vida, sua vida é uma obra levantada por Deus e ele não gosta de ver uma obra sua no chão. Gosto do seu sorriso, gosto de ver seus dons de trabalho que você tem, são lindos, todos com perfeição. Na vida sempre temos obstáculos, mas você venceu por ser guerreiro.
Pense positivo. Só assim as tristezas irão deixar você. Eu gosto de você, você mesmo que me ensinou a ser assim.
Agradeço a Deus por ter me concedido a graça de te conhecer e hoje ter você comigo ao seu lado e unidos.
Esta tempestade vai passar, e você vai vencer, você é um ser humano maravilhoso, então estou aqui falando de coração o que sinto e desejo a você!
Não guarde rancor, eleve seus pensamentos ao céu, esqueça todo seu passado e deixa seu coração aberto, pois só maravilha receberá! Não se esqueça que tem uma pessoa que você pode contar para qualquer coisa. Não diga para Deus o tamanho do seu problema, só diga para seu problema o tamanho do seu Deus. Sei que é cedo para expressar Te AMO, mas posso falar que gosto muito de você.
Beijo de quem gosta muito de você.
Você sabe quem é o meu gatinho?
Da Gatinha AP

EDIÇÃO 133 - CATAGUASES

RECUPERANDOS DE CATAGUASES

Esclarecimento aos leitores

Como já dissemos, o jornal Recomeço publica textos dos detentos da cadeia pública de Cataguases e Leopoldina, MG. Iniciamos aqui as postagens dos textos de Cataguases, de acordo com a sequência que saem no jornal impresso, que é publicado na íntegra do site do Recomeço. Os textos são escritos na cadeia e entregues à equipe do jornal, que faz apenas uma correção ortográfica e gramatical para o bom entendimento do leitor. Todos os textos são aceitos, por mais simples e até repetitivos em cada edição. O importante para nós é desenvolver a capacidade de expressão e elevar a auto-estima dos que escrevem. É altamente gratificante sentir a alegria e emoção com que recebem as edições na prisão, momento em que não são "presos" mas escritores do jornal.
Seguem, em sequência abaixo, os textos da cadeia de Cataguases.

Minha triste história

Edição 133 - Recuperando de Cataguases
Douglas Tomaz
Minha triste história

"E agora, aos 20 anos de idade, eu preso, sofrendo e triste, arrependido e mais maduro, eu não aconselho a ninguém a ir para o crime, porque o que eu sofro não desejo para ninguém."

Sou um jovem sofredor, que precisa encontrar uma luz, uma razão de viver sem sofrimento, porque hoje, aos 20 anos de idade, eu compreendo que o crime não vale a pena. Mas, infelizmente, só quando eu retornei à prisão é que eu entendi mais, como muitos já me disseram, que entrar na vida do crime é fácil, mas o difícil é sair.
Aos 16 anos de idade, eu pratiquei o meu primeiro delito, e parei dentro de uma cadeia, de onde saí com 19 anos de idade e pensei que nunca mais eu voltaria para o crime. Mas infelizmente eu voltei e parei na cadeia outra vez.
E agora, aos 20 anos de idade, eu preso, sofrendo e triste, arrependido e mais maduro, eu não aconselho a ninguém a ir para o crime, porque o que eu sofro não desejo para ninguém.
A luz que eu queria encontrar é Jesus Cristo, que é o único que pode me salvar, porque nesta vida que estou a solução é só Deus.
Obrigado pela atenção e que todos que lerem um pouco da minha história, que possam entender que o crime na vida é uma infelicidade, que quando você vai acordar já é tarde demais.

Pedido de livro

Edição 133 - Recuperando de Cataguases

Jose Carlos
Pedido de livro de POESIA


Meu nome é José Carlos, sou menor detento da Cadeia Pública de Cataguases, gostaria de ler o livro ANTOLOGIA POÉTICA, de Vinícius de Moraes. Ficarei muito agradecido.

Para minha filha

Edição 133 - Recuperando de Cataguases
Para Raiane, com amor e carinho
CARLOS ALBERTO DA SILVA

O pai te ama muito, sei que o tempo vai estar muito diferente na sua adolescência, mas eu estou disposto a me reabilitar a tudo isso, sabe por que filha?

Filha querida, eu gostaria que essas poucas palavras pudessem lhe mostrar o quanto eu esperei pelo dia do seu nascimento.
Quando você veio ao mundo, meu coração disparou, parecia que ia sair pela boca, quando ouvi você chorar pela primeira vez.
Filha, você foi um presente de Deus na minha vida, você sua mãe e eu agradecemos a Nosso Senhor, todos os dias quando eu acordo e quando eu vou dormir, por vocês duas existirem em minha vida.
Filha, você é como o ar que eu respiro, o sol que ilumina e aquece o meu dia. Você, filha, é tão importante para mim como a lua cheia em noite de céu estrelado.
Olha, filha, eu como seu pai, espero que um dia eu venha ter a mesma importância pra você, como você tem pra mim, porque eu não quero ser só o seu pai não, quero ser muito mais do que isso pra você, quero ser seu amigo em primeiro lugar, ser seu confidente nas horas em que você poderá confiar nos momentos de felicidade em sua vida.
Raiane, o pai te ama muito, sei que o tempo vai estar muito diferente na sua adolescência, mas eu estou disposto a me reabilitar a tudo isso, sabe por que, filha?
Porque eu te amo e esse amor é maior do que tudo, filha, é amor de pai. Seu, só seu, te amo e que Deus te abençoe.

Aos meus amigos

Edição 133 - Recuperanda de Cataguases
Laura B. Lacerda

Venho através deste maravilhoso jornal, com muito carinho e humildade, expressar os meus agradecimentos a duas pessoas que para mim e para algumas pessoas que aqui se encontram e que necessitamos da ajuda delas. Elas estão me ajudando no que está em suas condições, como marcar consulta médica, com produto de higiene pessoal, etc.
E também para nós, ficamos muito contentes nos dias de visita quando elas chegam para me dar um abraço, palavras de carinho e de conforto que é muito importante para nós. São elas: Dora e Eucir
Eu quero dizer para vocês que enquanto puderem ajudar a quem precisa que continuem ajudando, porque tudo que vocês estão fazendo de bom para nós, vocês podem ter certeza que Deus irá dar a vocês em dobro. Pois a pessoa que faz o bem por sua própria vontade sempre será iluminada por Deus.
Beijos e abraços de quem gosta de Você.
Laura B.Lacerda

Pedido de lã
Quero aproveitar também esta oportunidade que este maravilhoso jornal nos concede, para fazer um pedido a quem tiver e puder doar lã para eu fazer um cachecol e toca, porque aqui é muito frio e eu não tenho condições de comprar. Ficarei muito agradecida e que Deus abençoe quem puder doar.

Dia dos namorados

Edição 133 - Recuperando de Cataguases
RONILTON DA SILVA

Procurei várias frases de amor pra expressar os meus sentimentos por você. Dizer-te que, nos momentos de raiva ou ciúme, eu pronunciei palavras que te feriram, mas é porque te amo.
O amor é assim: ele nos faz chorar, sorrir, delirar de prazer, mexe com o coração da mulher e do homem, um nasce pra viver para o outro e relacionar na alegria e na tristeza.
Hoje acordei cedo e vi as flores no campo sorrir para mim. O sereno que caía da relva da aurora, os pássaros cantavam anunciando a chegada da primavera com amor. O cachorro me sorriu latindo e de repente me vi olhando nos teus olhos e senti uma alegria que invadiu todo o meu ser.
Foi então que percebi a razão do meu sucesso, depende que eu sempre esteja ao seu lado. Estar ao seu lado é viver tudo de bom que a vida nos proporciona todos os dias. Conhecer você é o maior acontecimento na minha vida, sem você eu nada seria.
Te Amo.
Alguém que está perdida em algum canto nesta cidade.
Feliz dia dos namorados
(Texto enviado para o dia dos namorados)

Liberdade

Edição 133 - Recuperando de Cataguases

EVANDRO PEREIRA

Nós nesse mundo somos como a natureza, os bichos, os pássaros, rios e lagos e mares, e a cada dia somos impedidos pelo homem de voar, correr e respirar.
E assim caminha a raça humana se devorando um a um como se a liberdade não fosse a coisa mais importante do mundo em que vivemos.
A liberdade está no sorriso inocente das crianças, nos cantos dos pássaros, no pôr do sol, enfim tudo que diz respeito à sobrevivência.
Temos que reciclar nossas idéias, e refletirmos que tudo que estamos poluindo e destruindo, um dia, as nossas crianças, que são o futuro da nação, não vão poder desfrutar dessa beleza que é o meio ambiente.
Já temos exemplos vivos disso pelos meios de comunicação e se não acodarmos a tempo, o que é belo e livre poderá estar aprisionado sem que a gente perceba, e quando percebermos será tarde demais.
Quanto dinheiro é gasto em eventos que só favorecem quem já é favorecido e deixarmos de cuidar da natureza, que anda lado a lado com a liberdade.
O efeito global está batendo em nossa porta para nos alertar que ainda há tempo de mudarmos e açodarmos para a vida, que ainda temos chances de mudar o rumo da devastação do planeta.
O ar que respiramos, as estradas por onde andamos e os caminhos que percorremos tudo isso faz parte da nossa liberdade.
Temos que desfazer esse nó que nos aperta, nos sufocando o coração e a alma, para deixar a natureza e a liberdade fluir livremente em busca da paz.
O dinheiro nos ajuda em muitas coisas na vida, porque ele é necessário, mas na maioria das vezes ele nos traz ganância, egoísmo e muitas coisas ruins, que contribuem para a destruição da vida e a perda da liberdade.
É maravilhoso olhar para o horizonte, contemplar a vida, amar os animais, respeitar a vida e acima de tudo lutar pela liberdade.
Quando aprisionamos os animais, poluímos os rios, lagos e mares, estamos sufocando e aprisionando a nós mesmos e tirando o bem mais precioso da vida que é a liberdade.
Sem a liberdade, a gente se sente como um rio vazio, que não pode seguir seu curso ao encontro do mar, e não ver a beleza do nascer e do pôr do sol, é como se a vida não tivesse sentido e o coração ficasse sempre vazio.
Vamos crer que a esperança possa fluir na mente do ser humano, para que a liberdade um dia possa prevalecer dando um fim à destruição e à ganância que tanto nos destrói a cada dia acabando com tudo o que existe de bom no planeta Terra.
Dizem que o Brasil é um país verde e amarelo, azul e branco, mas a cada dia suas cores estão se desbotando através da destruição que nos assola todos os dias. Espero que um dia a liberdade abra as asas sobre nós e nos liberte e todos, os pássaros e que possa salvar a natureza e cantar viva a liberdade.
Portanto, vamos reciclar nossas idéias, libertar o planeta, salvar as crianças e gritar a liberdade para que o futuro fique para merecer quem vem depois.

(Redação enviada para o Concurso Literário do DEPEN)

A necessidade do saber

Edição 133 - Recuperando de Cataguases

Gilmar da Silva Faria

Eu não tive a oportunidade de levar meus estudos adiante, uma vez que só foi possível eu estudar até a quarta série.

Eu venho por meio desta conscientizar os senhores leitores da alegria do Saber, sejam senhores ou senhoras, adolescentes ou crianças, não importa, o que importa é saber. Pois me foi confiado o direito de expor a nossa necessidade de saber.
Eu não tive a oportunidade de levar meus estudos adiante, uma vez que só foi possível eu estudar até a quarta série. Senhores e Senhores leitores, nós sabemos que hoje a educação em nosso país é precária e é uma pena, porque o saber é muito importante em nossas vidas, independente das idades.
Hoje é muito importante que nossas crianças sejam incentivadas para o estudo.
Senhores, hoje o mundo está nesta violência toda que temos visto, isso tudo é por falta de educação, de ensino e de incentivo, e muitas vezes também a discriminação entre o preto e o branco.
Mas hoje é a discriminação entre o pobre e o rico, e a discriminação social, esta discriminação existe e está em todo o lugar, seja no trabalho, nas ruas, nos hospitais, muitas das vezes, até mesmo nas igrejas quando se depara com pessoas despreparadas, e muitas das vezes até mesmo nas escolas, não por causa das professoras, mas sim por falta de uma infra-estrutura melhor. Lugar este onde as crianças deveriam ter o direito de aprender, até mesmo como um incentivo para que elas queiram a cada dia mais aprender, para que desde cedo estejam se preparando para um mundo melhor.
Senhores leitores, nós temos que nos unir para darmos aos nossos filhos todo o apoio possível em seus estudos, embora muitas vezes nós não tivemos a oportunidade dos mesmos como no meu caso.
Senhores, a alegria do Saber é muito importante e fundamental em nossas vidas e na vida de nossos filhos, netos e bisnetos.
Saber é entender, saber e compreender, saber e confiar em um futuro melhor, saber e aprender a dividir, a confiar. Saber e amar seu próximo, saber é ter a certeza de que estamos dando uma herança para nossos filhos a qual ninguém pode tirar.
Senhores leitores, o saber não ocupa lugar, o saber nunca é demais, e o mais importante, não tem idade.
Por isso não podermos perder a oportunidade de aprender.
Senhores leitores, desde já meus agradecimentos por esse direito de expor os meus pensamentos.

Polícia espanca skatistas


Um dos adolescentes espancados é filho de um policial
Sobre a notícia de ontem: A polícia de Aécio Neves agride skatistas

Reprodução/Olho Vivo (foto à esquerda)

Um cabo e um segundo sargento da Polícia Militar, à paisana e armados com pistolas .40, foram flagrados pelas câmeras do sistema Olho Vivo ameaçando cinco menores e espancando um deles. Os jovens estavam praticando skate no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, na Praça Sete, na Região Central de Belo Horizonte. Os skatistas moram nas proximidades do local e no Bairro Santa Tereza, na Região Leste. Aproveitam as madrugadas para usar o quarteirão como pista, o que estaria incomodando comerciantes, que usam o espaço público para pôr mesas e cadeiras e montar palcos para música ao vivo. O cabo Edílio Mainet Júnior e o sargento Moacir Alexandre Gertrudes são da 6ª Companhia, sediada na Rua Carijós, mas, segundo as vítimas, fazem bico como seguranças de um motel. As imagens mostram os acusados entrando no estabelecimento e saindo com as armas em punho, tentando expulsar os rapazes. Em outras situações flagradas pelas 72 câmeras do Olho Vivo, instaladas no Centro, Barro Preto e Savassi, o carro da PM mais próximo dos locais de crimes é imediatamente acionado, ação recomendada pela corporação. Em uma tentativa de estupro, a vítima foi salva em um minuto e 13 segundos, com a prisão do criminoso. Mas, no caso das ameaças e agressão aos menores – às 2h57 de 24 de abril –, o operador acompanhou tudo pelo zoom de duas câmeras de números 45 e 47, sem alertar o policiamento. As ameaças e agressões duraram12 minutos. Um dos jovens é chutado, estapeado e tem seu skate destruído. O operador do Olho Vivo que acompanhava as cenas da central instalada no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, na Praça da Liberdade, focalizou a arma, a truculência, acompanhou os homens deixando a cena do crime, pela Rua dos Tamoios, até sumirem em direção à Avenida Amazonas. Nas primeiras imagens gravadas, os adolescentes estão descontraídos. Fazem manobras radicais nas arquibancadas de concreto, executando saltos e movimentos de baixo e alto graus de dificuldade. De vez em quando, o monitor do Olho Vivo dá um giro de 360 graus com a câmera, para observar a parte de cima da Rua Rio de Janeiro, que está em obras, e a Rua dos Tamoios, em direção às avenidas Afonso Pena e Amazonas. A imagem volta para os jovens. Um deles leva um tombo e sai mancando. Os colegas se divertem com a situação. O cabo surge, começa a falar com os adolescentes em tom ameaçador, com o dedo em riste e outro no gatilho. A câmera focaliza a arma e o rosto do policial. A imagem é afastada da cena, mas volta para o cabo e depois para os jovens, que ficam sentados, acuados, sem reação. O cabo continua falando e gesticulando, freneticamente, com a mão esquerda. Surge o sargento, que, como o colega, carrega uma bolsa atravessada no ombro. Também está armado. Ele se posiciona atrás dos garotos e os ameaça. Um terceiro homem aparece nas imagens, parado no cruzamento da Rio de Janeiro com Tamoios, possivelmente um curioso. Os agressores sobem numa coluna de concreto e continuam ameaçando os jovens, que estão sentados numa parte mais baixa. Nesse momento, o quinto garoto, que o tempo todo ficou afastado dos colegas, se aproxima. Os adolescentes começam a se despedir, com gestos típicos da faixa etária: mão fechada e batendo de leve no punho dos outros. O cabo desce da coluna e começa a chutar um dos adolescentes, que ainda está sentado. Dá vários tapas e socos na cabeça. Depois, tenta agredi-lo também na cabeça com o skate, mas atinge a barriga de um outro, que está próximo. O PM toma o skate do rapaz espancado e tenta, por diversas vezes, quebrá-lo no chão, sem sucesso. Ele insiste, batendo numa quina da arquibancada, até parti-lo ao meio. As partes são arremessadas em direção aos jovens, que saem assustados. Durante as ameaças, o cabo chega a olhar para a câmara, como se soubesse que estava sendo filmado. Os policiais sobem a Rio de Janeiro e seguem tranqüilamente pela Tamoios, em direção à Avenida Amazonas, acompanhados por uma das câmeras. Naquele horário, o Centro estava deserto. DiversãoOs garotos agredidos, todos de 17 anos, lideraram uma campanha no fim do ano passado para eleger, como obra prioritária para a Região Centro-Sul – por meio do Orçamento Participativo Digital –, a construção de uma pista de skate na Praça da Estação. Como não conseguiram, continuaram sem espaço para praticar o esporte. E, como a maioria mora perto da Praça Sete, improvisaram uma pista no quarteirão fechado da Rio de Janeiro, onde o piso é liso. Mas sempre iam de madrugada, quando não há movimento. O estudante V.G. mora no Bairro Santa Tereza, onde também não há pista de skate. Ele sempre se encontra com os colegas na Praça Sete. “A gente estava se divertindo quando os policiais apareceram armados, gritando que ali não era local para andar de skate e falando palavrões. Disseram que não estavam preocupados com a lei, pois eles eram a lei, que com eles era olho por olho, dente por dente. Não havia motivo para tanta agressividade. Quando um deles começou a gritar, nos sentamos no chão e ficamos calados, para não deixá-lo mais nervoso. Tentamos explicar que não tínhamos pista de skate, mas o homem (o cabo) gritava que não era problema dele”, conta V. Quando o sargento apareceu, segundo o menor, o cabo disse que o colega era mais ignorante, que não tinha paciência e iria parti-los ao meio. Alguns dos menores decidiram deixar o local, mas um deles disse que o espaço é público, que estava ao lado da sua casa e iria continuar ali. Foi espancado. Ele é filho do agente da Polícia Civil Gladston Cordeiro, da Delegacia de Preservação da Qualidade de Vida e Ecologia, que pediu as gravações ao Comando da PM, mas foi orientado por advogado e colegas de trabalho a não divulgar as imagens. Ele registrou queixa na Corregedoria Militar e na Ouvidoria-Geral do Estado. O filho do policial seguiu os agressores a distância e telefonou para o pai, que mora na Pampulha. Ao chegar ao Centro, Gladston parou uma viatura da PM e pediu apoio, pois iria atrás de dois homens armados, sem saber que eram PMs. Os agressores foram interceptados na Avenida Olegário Maciel e o caso foi encerrado no 3º Distrito Policial, perto dali, com a liberação dos acusados. Inconformado, Gladston procurou o delegado de plantão na Seccional Centro, fez um relatório e pediu uma guia de exame de corpo de delito para o filho.


Pelo menos, desta vez, houve alguma reação

Agressão a menores chega à Câmara e à Assembléia de Minas
Pedro Ferreira - Estado de Minas

Os dois PMs acusados de ameaçar com armas e de espancar adolescentes skatistas no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, responderam por outros crimes. O cabo Edílio Mainenti Júnior, natural do Rio de Janeiro – que nas imagens gravadas pelo Sistema Olho Vivo aparece com uma pistola e agredindo um jovem com chutes, tapas e socos, e ainda quebra o skate –, já foi denunciado ao Juizado Especial Criminal da capital, em 12 de dezembro de 2004, por ameaçar uma mulher. Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, ele respondeu a processo por tentativa de homicídio, mas não chegou a ser julgado. Leia mais: Olho Vivo flagra agressão de PMs a menoresContra o outro militar, o segundo sargento Moacir Alexandre Gertrudes, há uma ação alimentícia em Pitangui, no Centro-Oeste do estado. Agora, pelas agressões aos menores, os dois respondem a um Inquérito Policial Militar (IMP), instaurado pela corporação, depois que o Estado de Minas divulgou as cenas de truculência. Antes, o 1º Batalhão havia instaurado sindicância para a apurar denúncia de agressão aos menores, cometida na madrugada de 24 de abril. As agressões aos jovens chocaram o coordenador municipal de Juventude, Nelsinho Santos. Ontem, ele se reuniu com grupo de skatistas para ver as imagens e encaminhou a denúncia às comissões de Direitos Humanos da Câmara Municipal e da Assembléia. “Os jovens estavam usando um espaço criado para a convivência urbana. A partir do momento em que todos não podem usufruir daquela árera, temos um problema institucional”, disse Santos, que anunciou a construção de duas pistas de skate na Praça JK e no Parque das Mangabeiras, na Região Centro-Sul, e a proposta de criação de uma terceira na área central. Segundo ele, a Praça Sete foi revitalizada e não é apropriada para skatista. “Mas policiais não podem agredir jovens que estão praticando esporte.” Nelsinho defende que a sociedade e a polícia mudem a visão de que skatista é bandido. “Hoje é universitário, empresário e pai de família que andam de skate com os filhos”, disse. Para ele, é lamentável a violência praticada por policiais. Uma das vítimas da truculência policial na Praça Sete é o estudante Leonardo Augusto Brito Bicalho, de 18 anos. Na falta de uma pista de skate no Centro, onde mora, ele e os amigos freqüentavam a Praça Sete, sempre de madrugada, quando o movimento é fraco, até serem ameaçados e agredidos. “Espero que o poder público tome uma providência a respeito. É lastimável que só depois de passarmos por isso é que haja alguma mudança. Só espero que tenhamos algum lugar para praticar nosso esporte com segurança. O erro não foi meu, mas dos policiais. Espero também que eles possam nos ver de outra forma, não como alguém que está ali para depredar o espaço público, um lugar que eu só quero usar como cidadão”, diz o jovem. lamento A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, vereadora Ana Paschal (PT), lamentou o incidente: “Sabemos quantos jovens são mortos no tráfico de drogas. E o skate, o futebol, a natação e qualquer outro esporte são caminhos para acabar com a violência. Vamos acompanhar o caso. Os meninos precisam ser ouvidos e vamos apurar os fatos juntos”. O promotor da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Lucas Rolla, conta que é notória a carência de espaço público para crianças e adolescentes da capital praticarem esportes, especialmente o skate, que exige um investimento maior na construção de obstáculos. “É uma questão a ser debatida de forma que motive o poder público a mostrar mais vontade política e investir nos nossos jovens”, afirma. Hoje, segundo ele, os jovens são presas fáceis da marginalidade e não há alternativa para esse público,w que vive em situação de risco. “Se houver um trabalho de prevenção, o resultado será muito melhor. O esporte é um fator importante no combate à violência e a polícia está aí para garantir os direitos das pessoas. Esses meninos vivem em apartamentos, em ambientes pequenos, e só têm a rua para expandir toda a sua energia”, completa o representante do Ministério Público.
Fonte: Portal UAI e jornal Estado de Minas

17 de jul. de 2007

Carnaval do racismo

"Quem nunca foi à Bahia no período do carnaval não sabe como a cidade é apartada. De um lado, os grandes blocos, os artistas famosos, os turistas endinheirados do Sul e Sudesde e de outros países. Do outro lado uma massa negra, empobrecida, que faz o carnaval em Salvador há 40, 50 anos." E ainda há quem tenha a cegueira de dizer que somos um paraíso racial.

Abram o blog PALAVRA SINISTRA e assistam ao excelente vídeo do You Tube, postado por Marcio Alexandre M. Gualberto (ou vejam direto no You Tube). Quem optar pelo blog do Márcio, poderá ler seu comentário ao vídeo. Como finaliza Márcio: "O vídeo é chocante, há que se ter estômago".

Márcio se apresenta no perfil do seu blog:
"Sou um sujeito que acredita no poder da comunicação, na capacidade que as pessoas têm de refletir sobre a realidade sem manipulações da grande mídia. Sou daqueles que acreditam que os blogs são ferramentas revolucionárias que farão com que a comunicação se torne muito mais democrática. Os blogs que edito (o Palavra Sinistra e o Atentos à Mídia), seguem um pouco a linha do que está posto acima."

Córneas da Justiça

De um leitor da Folha de São Paulo

Córneas da Justiça

"A Justiça é cega, mas o STF precisa de um transplante de córneas. Pouco tempo atrás, soltou todos os presos em uma operação da PF. Políticos, milionários, gente influente de todos os cantos estava envolvida. Agora, o ex-jogador de futebol Rincón vai continuar preso pois teve seu habeas corpus negado pela presidente do STF. Rincón sofreu graves acusações da polícia do Panamá, que deve ser a melhor polícia do mundo, enquanto nossa PF é achincalhada, pois, a cada dez que prende, o STF solta nove, sempre por "erros processuais"."
ALVARO TADEU DA SILVA (São Paulo, SP) 17/7/07

15 de jul. de 2007

O crime do governador

Incitação à violência

“Eram todos marginais. Se o tiro foi pela frente ou por trás, é da natureza do combate.”

(Sérgio Cabral, governador do Rio, negando as afirmações de execução na operação policial realizada no Complexo do Alemão, no Rio, que matou 19 pessoas)

O governador Sérgio Cabral deveria ser indiciado por dois crimes: incitação á violência e assassinato por execução sumária. Como eu desejaria um "Julgamento de Nuremberg" (o tribunal especial para julgar os nazistas depois da 2ª guerra mundial) para os governantes brasileiros, que têm promovido a mortandade dessa população acuada e indefesa.
Interessante que, neste país, quando alguém do "andar de cima" é acusado ou preso, vem logo uma turma lembrar o direito de defesa e a máxima de que todos são inocentes até julgamento definitivo. Mas, nas periferias e favelas, a lei muda, todos são "marginais", sem direito a julgamento. Nesses locais, a polícia julga, condena e mata. Instauraram a pena de morte sem passar pelo legislativo. E a Justiça assiste de camarote a esse atentado ao Estado de Direito. Estranho, não?

12 de jul. de 2007

Violência estatal

Em Minas Gerais é assim: até deputado defende a violência estatal

"Não há como a polícia não usar a força física."

"Denúncias contra policiais farão com que a polícia cruze os braços."

Deputado mineiro Sargento Rodrigues, em audiência pública da comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, 12/7, para obter esclarecimentos sobre a violência sofrida pela Sra. Regina Célia Abade, ocorrida no interior da loja Ponto Frio, na Capital, que teria sido praticada por policiais militares, no dia 19/6/2007.

11 de jul. de 2007

Pausa para Literatura


Da Entrevista com Antonio Lobo Antunes, escritor português. Há quem diga que ele é que deveria ter recebido o Nobel de Literatura, em vez de José Saramago.

"Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas."

"Quando se critica, estamos a julgar. Se julgarmos já não compreendemos, porque julgar implica condenar ou absolver. Acho que era Malraux quem dizia: «A partir do momento em que a gente compreende, deixa de julgar.»

«Saber ler é tão difícil como saber escrever»

"Com o passar do tempo, há dois sentimentos que desaparecem: a vaidade e a inveja. A inveja é um sentimento horrível. Ninguém sofre tanto como um invejoso. E a vaidade faz-me pensar no milionário Howard Hughes. Quando ele morreu, os jornalistas perguntaram ao advogado: «Quanto é que ele deixou?» O advogado respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos."

"A perda de qualquer amigo é uma ferida que nunca cicatriza. A perda de pessoas de quem gostei, e que não são substituídas por nada, deixaram vazios que nunca serão preenchidos. Isso também ajuda a tornar-nos humildes."

"Acho que Deus gosta muito dos tolos, porque não pára de os fazer. "

"Não quero nada morrer hoje. Estou a meio de um livro, não o queria deixar imperfeito. E queria viver mais dois anos para fazer outro, e mais dois para fazer outro, como se andasse a negociar a vida. Gostaria de ter mais dez anos para escrever. E se calhar, mesmo morto, a mão vai continuar a avançar."

"Vivo sem flores, não tenho flores em casa. Vivo com livros e quadros, a maior parte oferecidos pelo Júlio Pomar. Nunca tive bens materiais. Nem uso relógio. Posso fazer a mala e ir-me embora. Não estou agarrado às coisas."

9 de jul. de 2007

Massacre de adolescentes em MG

Ministério Público cobra na justiça, em processo inédito, ações para estancar o massacre de adolescentes em Minas Gerais. 1.474 morreram nos últimos dois anos, na Região MetropolitanaO jornal publicou algumas dezenas de fotos dos adolescentes e jovens mortos. Será coincidência que todos esses mortos sejam afrodescendentes?

Os nomes listados na primeira página deste caderno levaram o Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério Público Federal (MPF) a ajuizar Ação Civil Pública contra União, Governo de Minas e Prefeitura de Belo Horizonte, responsabilizando as três instâncias governamentais pelo assassinato de adolescentes e jovens em Belo Horizonte e região metropolitana.
Levantamento do Instituto Médico Legal (IML) aponta que, em 2005 e 2006, houve a média diária de duas mortes violentas de pessoas com idades entre 12 e 21 anos, totalizando 1.474 homicídios.
A ação, inédita no país, cobra implantação de políticas públicas e ações governamentais que garantam, de fato, o direito à vida e a proteção da integridade física de meninos e meninas. Para cada assassinato de criança e adolescente, o Ministério Público pede que cada instância pague indenização de R$ 500 mil. Os valores devem ser depositados no Fundo da Infância e Adolescência (FIA) do município onde ocorrer o homicídio.
A iniciativa foi motivada pelo recebimento freqüente de atestados de óbito na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude. O órgão acompanha a aplicação de medidas socioeducativas a adolescentes autores de atos infracionais, e constata que a maior parte das mortes ocorre durante o cumprimento de medidas em meio aberto – como Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade – ou após a saída dos centros de internação.
Nos últimos cinco anos, um militante de Direitos Humanos, que pediu anonimato, acompanhou a passagem de 468 garotos por um dos centros da Grande BH, e descobriu que pelo menos 136 – ou seja, 29% – morreram. “Quando o jovem chega a certa idade, constatamos seu envolvimento com a criminalidade. Esse sistema decorre do fato de haver, desde o início da vida do sujeito, uma série de omissões por parte do Estado”, afirma o promotor Celso Penna Fernandes Júnior, um do signatários da ação.
A iniciativa foi baseada em levantamento preliminar do IML, que apontou 1.074 mortes entre janeiro de 2005 e junho de 2006. “É uma maneira de pressionar o Estado a tomar providências. As medidas aplicadas até então nos parecem insuficientes ou desarticuladas. Os meninos continuam morrendo”, diz o promotor.
Defensores dos direitos da criança e do adolescente elogiaram a ação inédita. “É muito importante que outros atores entrem em cena. Ações concretas de responsabilização devem ser estimuladas”, afirma o oficial de projetos do Unicef, Mário Volpi, que ficou surpreso ao ser informado sobre a média de dois assassinatos por dia na capital e região metropolitana.
“Em 1992, uma CPI da Câmara dos Deputados denunciou 4,2 mortes de adolescentes por dia, em média, no país. Pensar que, 15 anos depois, só BH registre duas por dia, é preocupante”, pontua.
Como envolve a União, a ação tramita na 21ª Vara da Justiça Federal em Belo Horizonte. O juiz Eduardo José Corrêa aceitou a ação do MP e chamou as três instâncias de governo a se defender em juízo. Por meio da assessoria de imprensa, a Advocacia-Geral do Município informou que ainda não tomou ciência do processo e, por isso, não irá se pronunciar. A Advocacia-Geral da União também não se pronunciará por enquanto. O processo está sob análise do órgão, que tem 60 dias de prazo para se manifestar nos autos. A assessoria de comunicação da Advocacia-Geral do Estado não retornou as ligações da reportagem.

Fonte da notícia: jornal Estado de Minas - caderno GERAIS - 9/7/07
* Queremos parabenizar o Ministério Público por essa medida de responsabilidade com o futuro deste país. É inadmissível que morram tantos jovens sem que o estado não seja responsabilizado por sua omissão e negligência. Todas as instituições devem ser cobradas, a começar pela escola, que expulsa as crianças e adolescentes pobres com sua incompetência e insensibilidade para lidar com a realidade da população empobrecida, empurrando-a para a marginalidade.

8 de jul. de 2007

Proposta indecente

Maioridade Penal

É realmente incrível neste país o empenho em legislar para penalizar mais os menores que já "cumprem pena de vida". Duas observações a serem feitas. A primeira é: que autoridade moral tem esses "maiores" para julgar os menores? Eles, que dão os piores exemplos à juventude do país. Segundo: como podem desconhecer que não há isso de impunidade com nossos "menores', eles já são penalizados em todos os sentidos, por qualquer delito são encaminhados a esses centros macabros, chamados de "medidas sócio-educativas'. Uma vez caindo na malha da polícia e da justiça, já estão com as oportunidades perdidas para seu futuro. Sem falar que ninguém respeita a lei, o ECA, Estatuto da Criança e do adolescente, só existe no papel. Querem mais o quê?

Leiam o conteúdo da proposta 87 de emenda á Constituição:

* Projeto apresentado na Câmara dá poder ao juiz para decidir futuro de menores de 18 anos que cometerem crimes, tornado-os passíveis de punições previstas na lei penal brasileira. Nova proposta de emenda à Constituição (PEC) promete reacender o debate sobre a maioridade penal no Congresso. o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG) apresenta projeto que dá ao juiz o poder de decidir o futuro de menores de 18 anos que cometeram crimes, tornando-os suscetíveis a lei penal. Projeto semelhante foi aprovado na França anteontem e prevê penas menores para os reincidentes em qualquer crime passível de punição com prisões superiores a três anos e dá ao juiz liberdade de ação.

* No fim de abril, o grupo favorável a mudança na legislação ganhou pontos com a aprovação de uma proposta que altera para 16 anos a idade penal, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Com a PEC 18/1999 tramitam outros seis projetos. Entre as propostas da Câmara, a maioria propõe redução para 16 anos, outras para 17 e até para 14. Outra quer remeter a fixação da maioridade penal a uma lei ordinária.

* Rodrigo de Castro diz que não foi fácil levantar assinaturas de 182 parlamentares e sabe que a PEC 87/2007 é polêmica. “A diferença é que, como não estipulamos idade, garantimos que nos próximos anos não vamos ter que mexer novamente na legislação. Os menores de idade são usados, atualmente, como escudos do crime, e se fosse reduzido para 16, eles começariam a trazer meninos cada vez mais novos”.

Reação
Pelo menos, o vice-presidente da Associação dos Magistrados da Infância e da Adolescência, Márcio Oliveira, reagiu e disse que esta PEC 87 é ainda pior do que as já apresentadas, e protesta:
“Não podemos deixar a critério de um juiz decidir se o jovem tem ou não discernimento para cometer atos. Crianças e adolescentes estão em formação e essa é uma questão biológica, determinada pela área médica. Além disso, vamos abrir precedentes para todo tipo de abuso, dependendo do juiz e da pressão da coletividade”.

Márcio reforça a posição, já destacada pela associação, de que qualquer redução na idade penal é um retrocesso.
“Esse é um discurso injusto e incoerente. Temos é que acabar com a negligência do Estado com esses meninos e com o mau funcionamento dos programas de intervenção nas unidades educacionais previstos no ECA.”

3 de jul. de 2007

Quem vai responder?

Sobre a declaração do Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, sobre os mortos no massacre, de que não se pode "fazer um bolo sem quebrar ovos", a professora Maria Helena Zamora, da PUC- RIO, pergunta diante de cada morto pela polícia : "Ele era um ser humano? Ou era apenas um ovo quebrado?"

2 de jul. de 2007

Não ao genocídio!

Segue nota enviada por professores universitários, pesquisadores, acadêmicos em geral, se posicionando em relação à política encaminhada pelo governo do estado no Morro do Alemão nos últimos dois meses com vistas a combater o tráfico de drogas. Caso queiram assinar, encaminhem esta mensagem com seus dados (nome e instituição/movimento/ONG) para o endereço:
comunicacao.rede@gmail.com
Chega de Massacres
Nós, abaixo-assinados, consideramos inaceitável a política encaminhada pelo governo do estado no Morro do Alemão nos últimos dois meses com vistas a combater o tráfico de drogas. Esta política, que recentemente produziu mais de vinte mortes de homens, mulheres e crianças, desconsidera os direitos elementares da população.

Desconsidera a obrigação de se respeitar a presunção de inocência daqueles que são alvos de tiros dados para matar. Desconsidera que não há pena de morte no nosso país.
Esta ausência de proteção aos moradores das regiões da cidade mais afetados pelo tráfico implica uma política de extermínio de uma população desarmada. Somos solidários a esta população que reclama paz porque quer viver em segurança: nem sob o despotismo do tráfico, nem sob a violência da polícia.Se se tratasse de uma guerra, como declaram frequentemente as autoridades estaduais, esta deveria, ao menos, obedecer à Convenção de Genebra, fazendo uma diferenciação clara entre alvos militares e a população civil. Portanto, mesmo nesta absurda hipótese, o ataque indiscriminado a alvos mal especificados num espaço densamente habitado configura uma ação ilegal e criminosa contra seus habitantes.
Queremos afirmar a nossa indignação e a nossa revolta diante desta modalidade de combate ao crime posta em prática pelo atual governo. Sua eleição não lhe faculta determinar pela força das armas quem pode viver ou morrer nas favelas e periferias urbanas.

Protestamos veementemente e exigimos que o governo do estado suspenda o que entendemos como a oficialização de uma política de extermínio no Rio de Janeiro. Quanto ao que já ocorreu, exigimos transparência: que sejam fornecidos dados sobre as vítimas e investigadas as responsabilidades pelas mortes e ferimentos ocasionados pelas «operações» policiais. Admitimos que a proximidade do PAN pode exigir planos de segurança especiais para a cidade. O que no entanto não justifica o que parecem ser, cada vez mais, massacres organizados.

Luiz Antonio Machado da Silva (Iuperj/UFRJ)
Márcia Pereira Leite (Uerj)
Patricia Birman (Uerj)