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28 de ago. de 2012

Precisam acabar com a matança

Yasmin, Bruna, Rosiléia...
- JULITA LEMGRUBER
 
Autoridades da segurança pública
precisam acabar com a matança:
não se entra em favela atirando,
e confrontos devem ser
evitados a qualquer custo
 
Yasmin não morava em Ipanema. Yasmin morava no Conjunto das Casinhas, em Guadalupe. Tinha 6 anos de idade e morreu com um tiro de fuzil na nuca enquanto brincava numa festa de seu bairro, no dia 19 de agosto. Moradores afirmam que a polícia entrou no local atirando. Policiais do 41º BPM (Irajá) dizem que deslocaram um blindado para a área e foram recebidos a tiros.

Bruna tinha 11 anos e morreu no dia 26 de julho, com um tiro na barriga. Morava na Favela da Quitanda, em Costa Barros, e foi atingida quando o Bope entrou na favela atirando. Neste caso, moradores revoltados fizeram um protesto violento na Avenida Martin Luther King e depredaram cinco ônibus.

E tem mais. No dia 26 de junho, uma mulher de 19 anos morreu supostamente atingida por uma bala perdida dentro de casa, no Morro do Chapadão, na Pavuna. Ela se chamava Rosiléia da Silva e morreu carregando no colo sua filha de um ano e seis meses. De novo, policiais do 41º BPM (Irajá) alegadamente faziam uma operação na favela e teria havido um tiroteio.

Este último caso mereceu apenas uma nota de jornal. A morte das crianças, espaço um pouco maior, mas a notícia, como as crianças, morreu logo. Imaginem se Yasmin e Bruna estivessem brincando com suas babás na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Quantas páginas de jornais, por quantos dias, estampariam a tragédia? Quantas vozes indignadas se levantariam?

A verdade é que já está mais do que na hora de se imprimir uma política de segurança pública consistente e articulada, que sirva a todos os cidadãos fluminenses.

Não é possível que algumas áreas da cidade, ainda dolorosamente partida, estejam protegidas, e outras vivam sob o terror dos tiroteios entre policiais e bandidos, que fazem vítimas como Yasmin, Bruna e Rosiléia.

Nas áreas das UPPs não há mais tiroteios, houve queda dos índices de violência letal e, de um lado, moradores de favelas aliviados por se verem livres de balas perdidas e, de outro, moradores do asfalto acreditando que vivem em Paris, de tão seguros que estão seus bairros. Não se está contra as UPPs, que isto fique bem claro, embora se acredite que ainda haja um longo caminho a percorrer para que a estratégia das UPPs possa se transformar em policiamento comunitário, ou de proximidade, que faça jus ao nome. Pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania mostrou que ainda há muita hostilidade dos moradores das favelas em relação aos policiais das UPPs, e mais da metade desses policiais preferia estar trabalhando em outro lugar. Mesmo assim, ainda há espaço para que as UPPs se transformem em genuína estratégia de policiamento comunitário.

No entanto, já não se pode mais esperar que as autoridades que comandam a segurança pública determinem, com absoluta clareza e energia, aos batalhões da Polícia Militar, ao Bope, à Policia Civil e à Core que não se entra em favela atirando, e confrontos devem ser evitados a qualquer custo.
A prisão de meia dúzia de bandidos não justifica a morte de uma única criança. More ela em Ipanema ou em Guadalupe.
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Julita Lemgruber é coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes

Fonte: AQUI
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Leia também:
Cadeia pública de MT é inderditada por superlotação

23 de ago. de 2012

Assassino da freira Dorothy já está solto

Marco Aurélio solta assassino de Stang !!!

Publicado no blog CONVERSA AFIADA de Paulo Henrique Amorim
Assassino à solta
Graças a um habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, o assassino da missionária americana Dorothy Mae Stang deverá estar, ainda hoje, solto nas ruas.

Regivaldo Pereira Galvão, conhecido pela meiga alcunha de “Taradão”, estava preso desde 6 de setembro de 2011 no Centro de Recuperação de Altamira (PA), condenado a 30 anos de prisão.

Segundo o ministro Marco Aurélio, o Tribunal do Júri do Pará concluiu pela culpa de “Taradão” antes de se esgotarem as possibilidades de recursos da defesa contra a condenação.

Isso é uma terrível piada de mau gosto. É uma afronta direta à Justiça e à dignidade do cidadão.

O STF está se especializando em libertar facínoras com base em chicanas jurídicas. É o efeito Gilmar Mendes, ministro que ganhou fama pelos dois HCs ultrassônicos para o banqueiro Daniel Dantas e um extra para outro taradão, o médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de cadeia por ter estuprado 37 mulheres. Dantas está solto. Abdelmassih, foragido.

Marco Aurélio já havia sido reconhecido por feito semelhante, ao libertar o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, que ficou sete anos foragido, até ser preso em Mônaco, em 2007.

Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005.

A libertação do mandante do assassino, sob qualquer desculpa, envergonha a nação e nos deixa ainda mais descrente sobre a lisura dos ministros do STF, estes mesmos que por ora se exibem, em cadeia nacional, na pantomima que se transformou esse tal julgamento do “mensalão”.
 
 

Na culuna de hoje do Ancelmo Gois:


Tortura no Brasil...
Veja o que disse o historiador Daniel Aarão Reis, professor da UFF, em debate da “Revista de História da Biblioteca Nacional”, cujo tema era o golpe de 1964:

— A ditadura terminou há quase 30 anos, mas a tortura continua sendo aplicada. Precisamos discutir a tortura que ainda acontece hoje nos quartéis e nas delegacias.
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Ainda bem que há quem se lembre da "tortura atual"...

10 de ago. de 2012

Pela extinção da PM

Vladimir Safatle
 Folha de São Paulo, 24 de julho de 2012 - Opinião

No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.

No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.

Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia Militar.

Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.

Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.

Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA", "Cotidiano").
Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.

É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força. São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.