MONTEIRO LOBATO, UM GÊNIO, UM BRASILEIRO
Vera Vassouras*
Inventam-se formas de fazer publicidade do racismo contra brasileiros.
Uma lástima. Pior, um arranjo que envolve uma instituição que tem como
finalidade a luta pela extinção do racismo, sendo uma delas uma Secretaria do
Governo, todos sustentados pelos impostos pagos pelo pobre, e negros.
Pergunta-se, ainda uma vez, por que essas instituições não
promovem ações contra o Estado e seu racismo institucionalizado? Um jovem
servidor público negro perdeu seu emprego por ter ofendido um Ministro do
Judiciário com sua presença, quando à espera do uso de um caixa eletrônico.
Alguma instituição decidiu processar o Ministro? Na Líbia, cidadãos negros
estão sendo mortos e perseguidos por nazi-sionistas internacionais e não
conheço nenhuma manifestação das instituições contra o genocídio organizado em
defesa de uma raça.
Os livros escolares, secularmente, adestram as crianças para
o racismo e preconceito, elogiando heróis-genocidas e mantendo na ignorância
das revoluções da resistência, negando conhecimento da vida e obra de nossos
heróis nacionais, índios, negros e mestiços.
O que está, realmente, por trás da perseguição à memória e à
obra de Monteiro Lobato?
Nas DEZENAS de obras nas quais a criança, o jovem e o adulto
têm a possibilidade de conhecer a mitologia, a filosofia dos povos, as lendas,
a história e o folclore nacional, a ciência, a antropologia, enfim, a todo o
leitor poderá abrir as portas ao conhecimento e, portanto, à liberdade que a
verdadeira cultura promove. As Instituições são remuneradas para lutar contra o
racismo, ao desconhecer a obra, limitam-se a cumprir as ordens da estrutura
racista de poder, no qual, a premissa é manter o brasileiro na ignorância do
trabalho desenvolvido por seus irmãos, seus iguais, seus heróis nacionais e, no
caso de Monteiro Lobato, um gênio da literatura mundial, gerado em terras brasileiras.
Uma prova da perseguição e condenação das obras de Monteiro
Lobato. O precioso livro “A ONDA VERDE O PRESIDENTE NEGRO” não é citado,
aliás, esconde-se esta obra como o mapa de um tesouro.
Algumas frases encontradas no livro explicam a condenação dos
capitães do mato a serviço da institucionalização do racismo:
No conteúdo da ONDA VERDE, Monteiro Lobato analisa e destrói
toda a fantasia da exploração das terras paulistas, um grito em favor da
natureza e da verdade, jamais citado pelos autodenominados verdes:
“A região era todo um matareu virgem de majestosa beleza.
Rasgara-o a facão o bandeirante antigo, por meio de
picadas; o bandeirante moderno, machado ao ombro e facho incendiário na mão,
vinha agora, não penetrá-lo, mas destruí-lo.”
“Desfez em decênios a obra prima que a natureza vinha
compondo desde a infância da terra.”
Nada mais soberbo – e nada desculpa tanto o orgulho
paulista – do que o mar de cafeeiros em linha, postos em substituição da
floresta nativa.”
“Nada lhe detém a ofensiva irresistível... nem a
mentalidade altista, loucamente esbanjadora, do fazendeiro.”
“A propriedade, cria-se hoje, como outrora, pela
conquista do mais forte, pela espoliação levada a cabo pelo mais audacioso,
pelo mais despido de escrúpulos.”
“Mas surge o grileiro e tudo se transforma... terras
legitimamente, legalmente “apropriadas”. Ao partir para o sertão ele deixou em
casa, na gaveta, os escrúpulos da consciência. Vem firme, vem “feito” como um
gavião. Opera as maiores falcatruas; fabrica firmas, papéis, selos; falsifica
rios e montanhas; falsifica árvores e marcos; falsifica juízes e cartórios;
falsifica o fiel da balança de Temis; falsifica o céu, a terra as águas;
falsifica Deus e o Diabo. Mas vence. E por arte dessa obra-prima de
malabarismo, espoliando posseiros ou donos, sempre firmados na gazua da lei, os
grileiros expelem das terras, num estupendo parigato, todos os “barbas ralas”
que ali vivem parasitariamente, tentando resistir ao arranque da civilização.”
“Responde o café:
- Minha forme está acima da moral, e eu só conheço as
leis do meu apetite.”
Ora, se mudarmos os cafezais por plantações de soja, milho e
algodão transgênico, o assunto é o mesmo, o grilo foi transformado em
agronegócio e a falsificação depende ainda dos negócios da instituição dentro
do Congresso e nas lutas perdidas por tradição nos tribunais dos latifúndios.
Na mesma obra, ao tentar explicitar os mecanismos do GRILO,
Monteiro Lobato afirma que o grilo é o “viveiro onde se fermenta a
aristocracia dinheirosa de amanhã.”
“As velhas fidalguias da Europa entrocam no banditismo
dos cruzados. Ter na linhagem um facínora encoscorado de ferro, que saqueou,
queimou, violou, matou à larga no Oriente, é o maior padrão de glória de um
marquês na França. Ter entre os avós um grileiro de hoje vai ser o orgulho
supremo dos nossos milionários futuros. Matarás, roubarás, são os mandamentos
de alto bordo do decálogo humano, eternos e irredutíveis...”
“GRILO É UMA PROPRIEDADE TERRITORIAL legalizada por meio
de um título falso; grileiro é o advogado ou “águia” qualquer manipulador de
grilos; terras “grilentas” ou “engriladas”, as que têm maromba de alquimia
forense no título.”
“O grileiro é um alquimista. Envelhece papéis.”
“Não há exagero no cálculo de três milhões, sabendo-se que
há grilos de 200, 300 e 400 mil alqueires – territórios equivalentes à metade
da Bélgica, quase a Saxônia, e tamanhos como antigos ducados e principados
alemães.”
“... Jeca Tatu aprenderá nela a perdoar com generosidade
o erro dos fracos e a punir com dureza o crime dos fortes. E aprenderá ainda a
mover-se, a correr, a nadar, a ser homem com H maiúsculo em todas as situações
da vida.
O Brasil de amanhã não se elabora, pois, aqui. Vem em
películas de Los Angeles, enlatado como goiabada. E a denominação yankee vai se
operando de maneira agradável, sem que o assimilado o perceba.”
O PRESIDENTE NEGRO
Nesta obra, que mereceria um simpósio para discussão,
Monteiro Lobato mistura conhecimento científico, a política eugenista dos
americanos, exportada à América Latina, e a vitória sempre anunciada da raça
branca contra uma população negra cujos cérebros perderam a capacidade do
pensamento individual e solidário.
E como a denúncia de racismo contra a memória de um dos
maiores brasileiros, tem por desculpa educação, verifique-se que o ano da
ficção é 2228, todavia, a política da escola hospício continua em todos os
continentes e tem a pretensão da imortalidade.
“A criança tinha na América de 2228 uma importância
capital. Toda a vida do país girava-lhe em torno. Era a criança, além do
encanto do presente, o futuro plasmável como a cera. Os maiores gênios da raça
se consagravam a estudá-la, para com tão dúctil matéria prima ir esculpindo a
obra única que apaixonava o americano – o Amanhã... Sua Majestade Baby era o Luiz
14 do século.
“... A raça branca, afeita à guerra como a última
ratio da sua majestade, desviava-se da velha trilha e impunha um manso
ponto final étnico ao grupo que a ajudara a criar a América, mas com o qual não
mais podia viver em comum. Tinha-o como obstáculo ao ideal da Super-Civilização
ariana que naquele território começava a desabrochar, e, pois não iria
render-se a fraquezas de sentimento.
A raça ferida na fonte vital pendeu sobre o peito a
cabeça como a planta a que opodador estrangula a circulação da seiva. Ia
passar. Estéril como a pedra, iria extinguir-se num crepúsculo indolor, mas de
trágica melancolia.
E passou...”
MONTEIRO LOBATO, UM GÊNIO
Monteiro Lobato é um gênio que está além de quaisquer
acordos judiciais. Nem os denunciantes – que evidentemente desconhecem sua
obra- tampouco os julga-dores que, na origem, pertencem à tradicional
aristocracia ariana nascida do engodo e da ignorância, têm direito, cultura ou
competência para julgar sua obra. As verdades ali contidas não podem ser aprisionadas
em tempos processuais, tampouco em políticas de alienação das massas, ou suas
palavras podem ser manipuladas fora do tempo e do contexto.
Esse processo contra sua memória nada mais é do que uma das
facetas do arianismo psicopata que têm como finalidade manter essa artificial
supremacia branca, tão nefasta ao afastar os brasileiros do espírito de
solidariedade, sob a fachada do racismo, como se nada mais houvesse a fazer do
que macular a honra de um sábio brasileiro que, por sua obra, denúncia com seu
silêncio iluminador, os atores desse circo montado como seres imbecilizados e
imbeciliza-dores.
Monteiro Lobato está além, muito além do Sítio do Pica-pau
Amarelo. A moto-serra-caneta tenta derrubar sua árvore do conhecimento, mas
Lobato sobrevive apesar da perseguição dos capitães do mato de todas as raças,
de todos os matizes e de todas as instituições.
*Advogada