Estamos vivenciando a tradicional Semana Santa. Qual o sentido deste tempo? Para muitas pessoas é um momento para um feriadão: viagem, bebida, praia, descanso, brigas etc. Nesta nossa sociedade, tudo é relativo e tudo está à mercê de nossas vontades e desejos. Feriadões são também oportunidades mesmo que não desejadas para violências e morte.
A Semana Santa continua sendo a mesma para a Igreja desde suas origens. É um tempo especial, chamada de Semana Maior pelo fato de nela celebrarmos o maior acontecimento da historia da humanidade em todos os tempos e em todas as dimensões.
Domingo de Ramos, abertura da semana, nos lembra da entrada de Jesus em Jerusalém, sendo aclamado como Rei, montado em um jumentinho. Para qualquer pessoa que reflete um pouquinho e conhece a estrutura social, já sabe que se trata de um rei e de um reinado completamente destoante dos reinados convencionais. Jamais um rei entraria de forma triunfal em uma cidade montado em um jumentinho.
A partir de então, o desenrolar dos acontecimentos lembrará que o reinado de Jesus não passa pela ordem, pelo poder, pelo dinheiro, mas pelo serviço.
Na Quinta-feira Santa, pelo final do dia, em todas as paróquias, basílicas e catedrais, se celebra a Ceia do Senhor com o lava-pés. Não há gesto mais profundo do que este, em que Jesus sai da mesa, se cinge com uma toalha e se abaixa para lavar os pés de seus discípulos. Com essa atitude, o Senhor assume o lugar do escravo que na casa do patrão lavava os pés da visita que ali era recepcionada. Exatamente por esse motivo é que o apostolo Pedro reage para que o mestre não lhe lave os pés.
Em muitas de suas falas, Jesus deixou muito claro que veio para servir e não para ser servido. Veio para dar a sua vida para salvar a todos. Assim, Jesus deixa claro, na santa ceia, que se temos alguma função na Igreja, não deve ser o status, o prestígio, o título, a fama, o paparico, mas a tarefa de lavar os pés uns dos outros, que traduzindo, significa estar a serviço diante dos apelos e necessidades de irmãos e irmãs. Como dizem: “quem não vive para servir, não serve para viver”. Assim, celebrar a ceia é fazer tudo o que Ele fez: “Façam isto em memoria de mim”.
A Sexta-feira é o dia do silêncio, o dia da entrega. Quando uma pessoa é assassinada não dizemos que a mesma morreu, mas que a vida lhe foi tirada. Jesus também não morreu simplesmente, mas as autoridades resolveram que o matariam. Assim aconteceu! Jesus, por fidelidade à sua missão, não abriu mão de seu projeto para a construção do reinado e permaneceu fiel até o fim. Ama quem é capaz de dar a vida até o fim. Morrer com Jesus é uma necessidade e uma virtude cristã.
Morre-se com Jesus no dia a dia como também pela graça do martírio. Só se vive que se morre. Salvar a pele, proteger a imagem, não se queimar, ficar do lado dos grandes para ser bajulado significa perder a vida. Celebrar a Paixão é percebê-la acontecendo todos os dias no sofrimento das pessoas abandonadas e se solidarizar com elas, mesmo que isso signifique desonra e desprestigio para nós. Que o nosso desejo humano de aparecer não nos tire da cruz que nos salva.
A Paixão de Jesus está cada vez mais presente na humanidade humilhada e injustiçada. De maneira mais evidente, o Senhor nos diz que tudo o que fizermos aos outros é a Ele que estamos fazendo. Chorar diante do crucifixo e não chorar diante dos crucificados, para tomar o partido deles é ampliar o sofrimento de Jesus.
Celebrar o Sábado Santo é acolher o dom da vida. Os que pensaram derrotar Jesus e sua missão foram derrotados para sempre. O sepulcro se tornou vazio, isto é, não temos mais a derrota da humanidade, mas a sim da vida que nos vem pela ressurreição. A Igreja proclama que Jesus é o Senhor. Lembrando dom Helder Câmara “depois da ressurreição ninguém mais pode viver sem esperança.”. Jesus é a própria esperança. Ninguém mais pode ser contra nós, nem contra vida, pois Ele está conosco, em nosso favor e a favor da vida.
Por favor: você já comprou os ovos de páscoa, porém, não esqueça que a Páscoa não é mais uma festa de comes e bebes, mas uma pessoa, a mais especial de todas, divina, o próprio Deus, o verbo que armou a sua tenda em nosso meio, para sempre. O mesmo estará conosco até o fim dos tempos.
Nesta lógica, Feliz Páscoa!