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30 de jan. de 2008

Não apedrejem Leidiane

Leiam artigo sobre a jovem que acabou indiciada por ato obsceno ao ficar nua em baile funk, esperando ganhar R$ 600 para pagar dívida (notícia CLIQUE AQUI)
Não apedrejem a moça nua

João Baptista Herkenhoff

A hipocrisia da sociedade é, às vezes, revoltante.
Não vejo nenhuma reação social à exibição de atrizes nuas, rodopiando sensualmente em canais abertos de televisão, em horários franqueados a todas as idades.
Interesses comerciais altíssimos estão em jogo nesses casos. O lucro é franquia para qualquer comportamento, mesmo aqueles que agridem nossos filhos, nossas filhas, nossos netos, nossas netas.
Os artigos da Constituição Federal que determinam tenha a televisão finalidade educativa, com a criação de um Conselho Nacional de Comunicação Social, formado por representantes da sociedade civil, ainda dependem de regulamentação, não obstante a Constituição já vá completar vinte anos de existência. A regulamentação desses artigos reduz o lucro e ai de quem queira mexer com o “deus lucro”.
Não se vê qualquer relação (ou se vê, mas se finge não ver) entre a cena da atriz nua que rodopia com luxúria diante de milhões de pessoas e a cena da pobre Leidiane, que também rodopia, igualmente nua, diante de um público de, quando muito, duas centenas de pessoas.
O fato, que aconteceu em Vitória, teve repercussão nacional.
Leidiane rodopiou para ganhar setecentos reais. Viúva, com três filhos, tendo ainda sob responsabilidade a Mãe, foi tentada pela promessa de recompensa.
Quem são os responsáveis por esses bailes que propiciam clima para essas coisas? Quais os interesses econômicos que estão atrás de tudo?
A sociedade está preocupada em exaltar valores positivos, em formar a juventude, em assegurar escola pública de ótima qualidade para todos? A sociedade está engajada no esforço de formar cidadãos e cidadãs que encontrem seu lugar no mundo? A sociedade está abrindo canais de esperança e de futuro para os milhões de pessoas que suplicam por uma oportunidade de trabalho honesto? Ou a sociedade só sabe levantar o braço pedindo que Madalena seja apedrejada?
Não apedrejem Leidiane.
Eu me solidarizo com essa moça e com sua família. Eu me solidarizo com a Mãe de Leidiane, que teve uma crise nervosa na Delegacia, vendo a filha ser fotografada e filmada.
Não pode um gesto impensado destruir a vida de uma jovem, comprometendo inclusive o sossego de seus filhos, ainda pequenos.
Tenha complacência com Leidiane dos Santos Muniz, minha prezada delegada Tânia Zanoli. E se o inquérito chegar à Justiça, tenha complacência com Leidiane, juiz ou juíza a quem couber o caso,
Temos de defender valores morais, sim. Temos de velar para que o sexo, um dom de Deus, não seja banalizado. Mas temos de ter misericórdia também.
A lei não existe para ser interpretada friamente. Em alguns momentos é preciso que o intérprete pouse sobre a lei um olhar de ternura.
Como seria bonito decidir assim: “saia livre, Leidiane, e não faça mais isso”.

João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo – professor do Mestrado em Direito, e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

5 comentários:

  1. Estamos cansados de ver que nem todo cidadão é tratado de maneira igual pela sociedade.
    Creio que a Justiça em sua sabedoria saberá como tratar a situação.
    Leidiane pode perguntar com razão:
    " Só eu ????"

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  2. Querida Glória,

    Seu Jornal está como sempre denunciando a podridão desta sociedade que faz do lucro um deus e das pessoas, coisas. Publiquei vários dos textos em meu Blog. Isso tem que ser divulgado. Um abraço,

    Maya

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Anônimo3/2/08

    Querida Glória!

    Como está? Cheguei ontem de viagem.
    Condeno esa moral idiota de alguns brasileiros. Meu apoio a Leidiane.

    Bjus
    Marta

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  5. Anônimo3/2/08

    Fantástico o texto! Como é importante ver o outro lado da moeda...como nosso país é hipócrita.
    Agora nos resta rezar e torcer por Leidiane...

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