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4 de fev. de 2008

Revolta da periferia

"Os policiais estão brincando de tiro ao alvo com nossos filhos. Estão fazendo de nossas crianças passarinhos."

A Bahia é agitada por protestos contra a execução de mais quatro jovens negros

Negra, pobre, deficiente física, um metro e meio de altura. A desvantagem com que Djane Santana de Jesus entrou na briga é evidente, mas ela não está sozinha.
Depois de sofrer com a violência da polícia durante décadas, os moradores das favelas de Salvador resolveram partir para o confronto, em um mês triste de véspera de Carnaval. Revoltados com a morte de quatro jovens no espaço de apenas 12 dias, fizeram piquetes, fecharam ruas e chegaram a atear fogo em um ônibus em vários protestos, exigindo Justiça contra os policiais acusados de terem cometido os crimes. Em comum, os jovens têm o fato de serem oriundos de comunidades carentes, não terem passagem pela polícia e serem negros.Há um ano no cargo, o governador Jaques Wagner (PT) ainda não conseguiu dar feição nova à truculenta polícia baiana, que continua a manter as práticas violentas que fizeram sua fama na era carlista.
Em 2006, 76 pessoas foram mortas em ações policiais em Salvador, e o número pode ser superior neste ano. Só nos primeiros 20 dias de janeiro foram 12 os mortos pela polícia na capital. Os policiais alegam que as vítimas “resistiram à prisão”. As mortes dos quatro jovens foram justificadas como resultado de troca de tiros com a polícia, embora nenhum deles, de acordo com os familiares, tivesse qualquer ligação com o crime ou possuísse armas de fogo. O governador diz estar consciente de que a atuação truculenta de parte da polícia baiana não acabou junto com o domínio do finado Antonio Carlos Magalhães sobre a política do Estado. “Estou consciente do que recebi, não adianta chorar, tem de consertar. Considero inadmissível que policiais ajam à revelia da lei. Nosso objetivo é aprofundar o conceito de cumprir a lei dentro da lei, de segurança com cidadania”, disse Wagner à CartaCapital, rejeitando o modelo “primeiro atira, depois pergunta”. Ele prometeu que as denúncias de violência policial serão apuradas e os responsáveis, punidos. Enquanto isso não acontece, os moradores da periferia vivem um clima de terror.
“Os policiais estão brincando de tiro ao alvo com nossos filhos. Estão fazendo de nossas crianças passarinhos”, acusa Djane, de 34 anos, escondida na casa de parentes no interior, com medo de ser assassinada pelos mesmos policiais que mataram seu filho mais velho, Djair, de 16 anos. Na noite de 14 de janeiro, o menino voltava da quadra aos pés da favela do Pela-Porco, onde costumava jogar futebol com outros garotos, sempre às segundas-feiras, entre as 10 da noite e a meia-noite. Acompanhado de um amigo, subia pelas estreitas escadarias do lugar, quando foram abordados por três policiais.
Fonte: CartaCapital
PROTESTO
Meu Deus, o que está acontecendo com nosso país? Saímos de uma ditadura militar para uma ditadura mais sanguinária e onipotente: a ditadura policial. Mata-se mais que nos países em guerra. E não é só na Bahia, é em todos os estados, difícil saber o que mata mais. Os governantes ou são tão cruéis quanto a polícia ou são uns frouxos, nada fazem para impedir a mortandade. Parece que até eles temem a polícia.
Ninguém expressou tão bem o fenômeno como a mãe do adolescente morto Djair: estão brincando de tiro ao alvo com nossos filhos. Como naquele filme "A Lista de Schindler" em que um nazista, para se divertir, atira nos prisioneiros da varanda da sua casa.
Não entendo o silêncio "dos bons", como dizia Martin Luther King. Como não se levantam vozes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, as "musas baianas" como Ivete Zangalo e Daniela Mercury , que são formadores de opinião, teriam poder de transformação sobre esta realidade. Será que não sabem do que se passa em seu país, no sofrimento e extermínio do seu povo?
E nós, simples mortais, nós, mães e avós, que não admitimos a dor de ver nossos filhos assassinados pela polícia, pelo próprio estado? Não pensamos na dor dessas mães de filhos desprotegidos, por serem negros e pobres?
Vamos romper com o silêncio que mata. Só a palavra gritada para todos ouvirem poderá deter a barbárie que a cada dia mais cresce neste país.
Estou cansada, descrente e pasma. Esses dias, assisti a dois documentários sobre a ascensão no nazismo na Alemanha. Assisti a cenas do povo ensandescido, ovacionando um assassino. Um povo, entre os quais havia pessoas boas, que não queriam seus filhos e compatriotas mortos. E enquanto assistia às cenas, pensava no Brasil atual, onde ser morto pela SA brasileira, ficou tão normal e cotidiano quanto na Alemanha nazista. E, fora os atigidos, todos se calam, e alguns ainda ovacionam.

2 comentários:

  1. Anônimo7/2/08

    Pobres mães! Quando este país vai crescer em cidadania e humanidade?

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  2. Anônimo26/11/10

    Só é doido p/ morar nas grandes cidades. O amigo meu saiu dai mesmo da amaralina. Por que nao aguentava mais violencia dessas drogas.

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