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28 de mai. de 2010

Relatório da Anistia Internacional critica violência policial no Brasil

Tim Cahill, porta-voz da organização no Brasil:

- “uso excessivo de força, execuções extrajudiciais e torturas cometidas por policiais”.
- “centenas de homicídios não foram devidamente investigados e houve poucas ações judiciais”.

- casos de morte e violência policial e problemas no sistema carcerário que resultam em tortura e execuções são registrados com frequência. “Isso dá a ideia de que quando o Estado mata e tortura cidadãos brasileiros, ninguém é responsável, ou há uma justificativa.

- Em relação a outros países do Cone Sul, Cahill avalia que o Brasil está “um passo atrás”.

- Cahill criticou com veemência a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada em abril deste ano (portanto não contemplada no relatório) de não revisar a Lei da Anistia.

- “(Essa decisão) é uma grande falha do sistema Judiciário brasileiro e do STF em não entender a responsabilidade do Brasil perante a lei internacional e à sua própria de reconhecer que crimes hediondos como tortura e execução não são anistiáveis. Isso é um posicionamento claro, não há como uma interpretação técnica possa questionar isso”, diz o porta-voz da AI.

- Outro ponto negativo do país muito destacado pela entidade está na condição prisional. Segundo o relatório, no Brasil, “os detentos continuaram sendo mantidos em condições cruéis, desumanas ou degradantes. A tortura era utilizada regularmente como método de interrogatório, de punição, de controle, de humilhação e de extorsão”.
Leia notícia completa
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Leiam sobre o tema o artigo de FERNANDO DE BARROS E SILVA, na Folha de São Paulo, hoje:
Direitos fora de moda
Não mereceu muita atenção da imprensa brasileira o relatório da Anistia Internacional, divulgado anteontem em Londres. Não terá sido por falta de assunto.
Lula adora fazer graça com o sumiço do FMI do noticiário, já que os credores, agora, somos nós. Mas isso não se aplica à pauta da Anistia. Em relação aos direitos humanos, o país ainda é um devedor contumaz.
Vítimas de tortura e de execuções por policiais, superlotação de presídios, populações faveladas à mercê do tráfico ou de milícias, assassinatos e trabalho escravo no campo -a lista de ocorrências "degradantes, desumanas e cruéis" no país é extensa, embora a própria Anistia reconheça alguns avanços.
O relatório se refere a 2009, mas não escaparam aos representantes da ONG em visita ao Brasil dois "casos" emblemáticos já deste ano.
Primeiro, os dois motoboys espancados até a morte por PMs paulistas, com intervalo de um mês entre um e outro. Segundo, o julgamento "histórico" de abril, quando o STF decidiu por 7 a 2 que não lhe caberia alterar a Lei da Anistia a fim de possibilitar o julgamento dos que torturaram na ditadura.
Na ocasião, Carlos Ayres Britto (derrotado ao lado de Lewandowski) argumentou que, diante do "monstro" que é o torturador, "não se pode ter condescendência". O Brasil, no entanto, tem -e muita.
O colunista Marcos Nobre foi bem ao ponto: "O STF manteve em vigência uma lei sem examinar de fato se ela é compatível com a Constituição. É verdade que seria um exercício de ginástica intelectual digno de medalha conciliar Estado democrático de Direito e tortura".
O fato é que a repercussão da decisão do STF foi escassa, como se ali estivesse em jogo apenas a dor pretérita de algumas poucas famílias destroçadas, e não a nossa capacidade de contemporizar diante do intolerável -ontem como hoje.
Os alertas da Anistia também já não comovem como antes. O Brasil está na moda. E falar de direitos humanos ficou incrivelmente velho.

24 de mai. de 2010

Um verdadeiro genocídio de adolescentes no país

Mais de 50% dos adolescentes infratores não deveriam estar presos
Lisiane Wandscheer - Repórter da Agência Brasil
Apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prever que o infrator somente poderá cumprir medida de internação quando se tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou atentado à vida, a situação nacional é bem diferente.
Segunda a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Carmem Oliveira, mais da metade dos adolescentes presos não cometeram delito grave.
“Hoje mais de 50% dos adolescentes internos cumprem medida de internação por cometerem delitos contra o patrimônio [roubo ou furto], e é o primeiro ingresso na instituição. Eles não deveriam ser internos e sim cumprir medidas alternativas, como prestação de serviço”, afirma.
De acordo com a subsecretária, outro problema são os prazos excedidos na medida de internação provisória. Segundo Carmem, o estatuto prevê que os adolescentes não fiquem mais do que 45 dias até o juiz tomar a decisão definitiva, mas quase um terço dos adolescentes em unidades provisórias tem seus prazos excedidos.
O levantamento sobre adolescentes em conflito com a lei divulgado nesta semana mostrou redução no ritmo de crescimento do número de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas de internação, semiliberdade e internação provisória. De 2008 para 2009, houve crescimento de apenas 0,43%. Alguns estados, no entanto, destoam da média nacional.
O maior crescimento aparece nos pequenos sistemas socioeducativos, especialmente no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. De 2008 para 2009, houve crescimento na taxa de internação de 81% em Alagoas, 79% no Rio Grande do Norte, 75, 8% no Tocantins, 50% no Amapá, 36% em Goiás e 25,8% no Acre.
Carmem ressaltou que esses estados ainda carecem de Justiça especializada e que os casos acabam sendo encaminhados para uma vara criminal ou de família no qual os juízes não dominam o Estatuto da Criança e do Adolescente e sentenciam a prisão, contribuindo para o crescimento dos números.“Via de regra temos a inexistência de um sistema de Justiça especializado, não é um juiz da Infância e da Juventude é um juiz de vara criminal ou de Família e, por distorções na aplicação do ECA, ele acaba privilegiando a medida de internação que deveria ser excepcional e transitória.”
Edição: Nádia Franco
Fonte: Agência Brasil

20 de mai. de 2010

Carta do Comandante da Polícia Militar à Srª ELZA mãe de Eduardo, o motoboy espancado até à morte

Atitudes que ainda nos despertam esperança
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
São Paulo, 23 de abril de 2010
Senhora Elza,
Quero, não como Comandante Geral da Polícia Militar, mas como Álvaro Camilo, dirigir-me à Senhora e pedir desculpas pelo que, a princípio, pessoas insanas e desumanas fizeram à sua família.
Coloco-me, como pai que sou, a lamentar este ato inconcebível desses homens que, até hoje, envergaram a farda da Polícia Militar, mas que se esqueceram do juramento feito de "defender a sociedade com o sacrifício da própria vida".
Essa, tenho certeza, não é a formação dada nas escolas militares, aliás, muito pelo contrário, lá se ensina a prática do bem e do caminho das coisas certas.
Abominável conduta desses homens que se dizem defensores da lei e da ordem. Não sabemos porque essa conduta. Pode ser que a justiça vanha a descobrir, mas suas posturas demonstram que andavam no caminho do mal.
É evidente que nada apaga a dor da ausência e nehuma palavra trará seu filho de volta, porém é necessário que firmemos a convicção da fé de que buscaremos a justiça de toda forma.
Como cristãos sentimo-nos tristes, pois o ensinamento de Jesus Cristo, sempre nos norteou a "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos". Próximo como o Eduardo que foi desprezado pela conciência desumana e irracional de seres que talvez não sejam classificados como humanos.
Agora, como comandante desta institução de mais de 100 mil homens e mulheres, afianço à senhora que a Corregedoria da Polícia Militar trabalhará permanentemente para descobrir e punir severamente os autores deste inescrupuloso crime, afim de que outras famílias não passem o que a senhora está passando.
Adotei como ordem solicitar que um Promotor de Justiça acompanhe as apurações e as investigações de maneira de que tudo seja o mais transparente possível e que toda a sociedade possa acompanhar o caso, naquilo que for possível.
Coloco a Polícia Militar à sua disposição para acompanhar todos os passos do processo e a convido a vir ao Quartel do Comando Geral para que eu possa mostrar que a Polícia Militar de São Paulo não se resume nestes malfeitores.
Que Deus lhe conforte e ilumine neste momento de dor e sofrimento.'
Álvaro Batista Camilo

19 de mai. de 2010

Pulseira eletrônica aprovada no Senado

Senado aprova uso de pulseira com rastreador em presos de baixa periculosidade

Os senadores aprovaram hoje (19) a lei que vai permitir o uso de pulseira com rastreador eletrônico em presos considerados de baixa periculosidade. A ideia é utilizar o equipamento em condenados que estão em progressão de regime e durante os chamados saidões de Natal, Dia das Mães e outros feriados.

Além disso, segundo o autor do projeto, senador Magno Malta (PR-ES), o rastreador poderá ser usado também em presos que tenham cometido crimes ocasionais, aqueles sem intenção, como o homicídio culposo.

De acordo com ele, além de ser melhor para a ressocialização desse tipo de preso, o uso da tecnologia é mais barato que manter o condenado no presídio. “Um rastreador custa R$ 400 por pessoa. Um preso custa ao Estado R$ 1.500. Essa não é uma tecnologia cara. Vale mais a pena manter a pessoa com o rastreador que [deixar ela] presa”, explicou Malta.

O projeto já passou pela Câmara, onde recebeu alterações. Depois voltou ao Senado e, agora aprovado, segue para sanção presidencial.
Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Edição: João Carlos Rodrigues

18 de mai. de 2010

Justiça acata denúncia de racismo contra PMs

Publicado na Folha de São Paulo, 18/05/2010, Cotidiano:
Juíza ordenou que os 4 policiais acusados de agredir motoboy até matá-lo fiquem presos; eles agora são réus em ação penal. Promotoria acusa os militares de homicídio doloso (intencional) triplamente qualificado, preconceito racial e fraude processual
AFONSO BENITES
A Justiça aceitou a denúncia contra os quatro policiais militares acusados de matar o motoboy Alexandre Menezes dos Santos, 25, em 8 de maio, em Cidade Ademar (zona sul de SP), e determinou que eles permaneçam presos. Eles agora são réus numa ação penal.Os promotores Maurício Lopes e Marcelo Rovere acusaram os PMs de homicídio doloso (quando há a intenção de matar) triplamente qualificado, racismo e fraude processual.
Na ocasião da morte, segundo testemunhas, o motoboy foi espancado por meia hora depois que fugiu dos PMs em uma moto que estava sem placas. Os policias afirmam que não tinham a intenção de matá-lo.
Na sua decisão, a juíza Tânia Magalhães da Silveira, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, ordenou que eles fiquem presos preventivamente porque acredita que, livres, poderão atrapalhar o andamento da ação penal -eles já estão presos administrativamente desde o dia 9 no Presídio Militar Romão Gomes. A juíza vai agora analisar as provas.A defesa diz que recorrerá da decisão e que a Promotoria usa de "vedetismo".
Para a Promotoria, Carlos Magno dos Santos Diniz, Ricardo José Manso Monteiro, Márcio Barra da Rocha e Alex Sandro Soares Machado assumiram o risco de matar Santos ao agredi-lo por meia hora.
Sobre a denúncia de racismo, dizem que, se o caso ocorresse num bairro rico ou com uma pessoa branca -Santos era negro-, a ação seria diferente."Não se tem notícia de que abordagem semelhante se faça por policiais militares no Jardim Europa com aquele que eventualmente trafegue em uma Lamborghini sem placas.A ação, além de desastrosa, foi movida por preconceito racial e social", diz trecho da denúncia.
Segundo o promotor Christiano Jorge Santos, autor do livro "Crimes de Preconceito e de Discriminação", desde 1995, nenhum policial foi condenado por racismo no Brasil. Ele não atua nesse caso específico.
Arma - O motoboy Santos estava em uma moto sem placas quando fugiu de uma abordagem no dia 8. Parado, foi agredido pelos PMs, segundo a mãe dele, Maria Aparecida Menezes, que viu as agressões. Os PMs dizem ter encontrado um revólver com o motoqueiro. Para os promotores, a arma foi forjada -daí a acusação de fraude.Os comandantes do batalhão em que os policiais trabalhavam foram afastados. O governador Alberto Goldman (PSDB) disse que a atitude dos PMs foi "criminosa". O governo indenizará a família de Santos. No mês passado, o motoboy Eduardo Luís dos Santos, 30, morreu após ser agredido por policiais na Casa Verde (zona norte). Doze PMs estão presos.
Leia também:

16 de mai. de 2010

POESIA DE DOMINGO: MANOEL DE BARROS

O ser que na sociedade é chutado como uma barata
cresce de importância para o meu olho.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
Tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.

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Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e das nossas).

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Me explica por que um olhar de piedade
cravado na condição humana
não brilha mais que anúncio luminoso?

Me explica por que penso naqueles moleques
Como nos peixes
Que deixava escapar do anzol
Com o queixo arrebentado?


(Do livro POEMAS CONCEBIDOS SEM PECADOS)
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15 de mai. de 2010

Notícia na Folha de São Paulo, 16/5/, Cotidiano:
"A Polícia Civil de SP investiga cinco policiais militares suspeitos de integrar um grupo de extermínio que atua em sete bairros da zona leste de São Paulo. A suspeita é de que eles tenham matado ao menos 11 pessoas."
Diante do fato, a Folha entrevistou a promotora de Justiça Eliana Passareli e perguntou: "A polícia está mais truculenta? "
RESPOSTA DA PROMOTORA:
"Está muito despreparada. Acho que eles estão extrapolando por falta de comando. Não precisa ser repressivo. Mas um bom comando faz um bom policial. O que está acontecendo com a PM é obra de péssimos comandantes, corporativismo, e falta de providências da Justiça Militar. A Justiça Militar é tolerante com todos os desmandos que acontecem. Se fossem punidos os comandantes de forma exemplar, os PMs que fazem um monte de barbaridade na rua, não fariam. Eles têm sempre a sensação de impunidade graças à Justiça Militar." (FSP, 16/5, Cotidiano)
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E uma excelente carta na seção PAINEL DO LEITOR:
"Atos de barbárie devem causar as mesmas reações de horror e repúdio. No entanto, quando a barbárie vem da própria autoridade policial, seria de se esperar maior repercussão. O inconcebível assassinato do jovem motoboy, pobre e negro, por policiais militares, não tem merecido as mesmas reações das autoridades, da mídia e da sociedade, como mereceram outros crimes cruéis que atingiram a classe média. Nada de manchetes seguidas, nada de passeatas, de cobranças radicais de autoridades, de exigências de justiça imediata, de flashes constantes na TV, de entrevistas sem fim com autoridades, especialistas, parentes e vizinhos etc., como aconteceu, por exemplo, quando, no Rio, um bando de bárbaros criminosos arrastaram uma criança presa a um carro. Diferentes reações a crimes da mesma natureza apenas indicam que a principal causa dessas bárbaras tragédias está na própria estrutura injusta da sociedade. Até quando vamos conviver com isso?"DAGMAR ZIBAS (São Paulo, SP)

13 de mai. de 2010

JORNAL RECOMEÇO impresso edição 163


O jornal dos detentos
Leia no site http://www.jornalrecomeco.com/
NOTA
As oito páginas do jornal abrem na íntegra. Todos os textos das páginas 3 a 8 são de autoria dos presos dos presídios de Cataguases e Leopoldina/MG.

9 de mai. de 2010

Espaço do leitor

Leitora do RS envia mensagem ao Recomeço
Primeiramente gostaria de apresentar-me, meu nome é Vanessa Gomes, atualmente moro na cidade de São Borja - RS, onde curso o 1º semestre do Curso de Serviço Social (UNIPAMPA).

Nesta bela tarde de domingo, navegando pela internet, tive meu primeiro contato com o Jornal Recomeço, algo sensacional, que por enquanto não saberei expressar com palavras.

Foi ao encontro com aquilo que eu mais acredito: a regeneração do ser humano e seus valores; o quanto a sociedade é importante para a recuperação dos mesmos.
Mais emocionada fiquei com as histórias do jornal e o comprometimento das pessoas que o fazem ser realidade. Algo sensacional e muito humano.

Acho que parabenizá-los é muito pouco, graças a vcs essas pessoas se sentem mais importantes, mesmo vivendo num sistema prisional tão cruel.

A partir de hoje quero ser mais uma leitora do jornal, quero saber como faço pra adquiri-lo; se devido à distância é mais viável acompanhá-lo pela internet?

Hoje vcs ganharam mais uma admiradora desse belíssimo trabalho. Que essa ideia perdure por longos anos e que outras Instituições tenham iniciativas tão brilhantes como essa.

O mundo precisa de mais pessoas doadoras, que sigam esse lindo exemplo de cidadania e amor ao próximo.

Desde já, agradeço a atenção.
Abraços
Vanessa