Em Lagoa Santa, Minas Gerais, mais um jovem executado. A versão da polícia é a de sempre: "fomos recebidos a tiros" e revidamos. História da carochinha.
O Globo dá a mesma notícia com o título "Traficantes morrem em tiroteio com a polícia em Lagoa Santa , Minas Gerais" (
leia)
Já o jornal Estado de Minas fez uma boa matéria indo ao local e ouvindo os moradores que, como sempre, desmentem a história oficial e contam a história real.
E todos os dias vemos na televisão propaganda da qualidade e seriedade da polícia mineira, obviamente divulgada pelo governo Aécio Neves.
Leiam a notícia no EM, 22/3/09, caderno GERAIS:
Comunidade pede ajuda contra abuso
Moradores da Vila Maria denunciam assassinato de jovem por PM durante operação e criticam excessos de agente
A Polícia Militar vai abrir inquérito para apurar o envolvimento de policiais da 181ª Companhia de Lagoa Santa na morte do adolescente Igor Fernandes Batista de Souza, de 21 anos, e ferimentos no menor M.A., de 17, em suposto confronto armado às 20h40 de sexta-feira. O caso será investigado pelo delegado regional da cidade, Almir de Carvalho. O crime ocorreu na Avenida Elvira Pereira da Silva, no campo de futebol do Bairro Vila Maria, em Lagoa Santa. Segundo o comandante do 36º Batalhão de Vespasiano, responsável pela região, tenente-coronel Alex Fernandes da Silva, os policiais afirmaram ter sido recebidos a tiros durante uma abordagem a usuários de drogas no Bairro Vila Maria, em Lagoa Santa. Eles revidaram e, durante o tiroteio, Igor e o menor foram baleados.
Familiares de M.A. informaram que o adolescente foi levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e, em seguida, transferido para o setor de ortopedia do Hospital Galba Veloso. Parentes dos jovens estavam apavorados com possíveis represálias.
Moradores do bairro estavam revoltados. Mães e donas-de-casa se concentraram diante do campo de futebol em que os jovens foram baleados e deram outra versão para o ocorrido. Uma moradora disse que estava na rua com os dois filhos menores quando viu a viatura passando e, logo depois, os policiais disparando: “Eles atiraram na porta e depois a abriram e arrastaram o Igor para fora”. As marcas de sangue estavam dentro e fora do vestiário. Vestígios de tiros de grosso calibre eram visíveis nas portas e paredes. A parte interna do vestiário foi lavada, segundo os moradores, pelos próprios policiais.
A dona-de-casa R., também vizinha do local, disse que viu tudo o que ocorreu. “O campinho faz fundo para minha casa e vi quando o militar atirou. O policial chutou o vestiário onde Igor e M.A. estavam e começou a atirar no portão de ferro. Igor morreu de braços para o alto, sem poder se defender. Ouvi mais de 10 tiros”, afirma.
Ela e outras amigas de Igor contaram que, logo após os tiros, várias viaturas chegaram e isolaram a área: “Eles dispararam no mato, simulando troca de tiros, mas não havia mais ninguém. Eu vi de perto. Meus filhos pequenos estavam na pracinha brincando e o militar não deu a mínima importância”, conta. D., vizinha das vítimas, disse que M.A. tentou fugir do vestiário e conseguiu ligar para a mãe. “Ele telefonou do celular, dizendo que seria morto. O policial ouviu, tomou o celular dele e lhe deu um tiro no joelho”, conta. O tenente-coronel Alex da Silva disse que não houve qualquer queixa da comunidade em relação aos policiais e que não havia qualquer informação sobre possíveis ameaças anteriores. As armas dos policiais que participaram da operação foram apreendidas e também um revólver 38 e uma cartucheira que estariam com os rapazes. O tenente-coronel disse ainda que os policiais não foram presos em flagrante porque não se sabe ainda de onde partiram as balas que atingiram os jovens.
VELÓRIO O sepultamento de Igor, no Cemitério Campo da Saudade, foi marcado por revolta. Amigos e vizinhos estavam indignados com o crime. O irmão de Igor, o bombeiro militar Rodrigo de Souza, de 22, informou que ele havia sido detido por tráfico de drogas e permaneceu preso por mais de um ano pelo crime. “Pelo que sei, meu irmão não tinha arma nenhuma”, disse. Moradores presentes no velório contaram diversos casos de truculência envolvendo um policial da Cia. 181. “Ele mora no Bairro Vila Maria e é conhecido por fazer justiça com as próprias mãos. Eles entraram no vestiário para matar. Na porta de ferro só há tiros de fora para dentro, e não o contrário. Reivindicamos uma investigação eficaz, que apure se houve abuso de poder por parte da PM”, disse uma testemunha, pedindo anonimato.
-------------------------------------------------------
Outra morte de menor internado em Minas Gerais
Mais um adolescente que estava sob a custódia do estado foi assassinado num centro de internação provisória (Ceip) de Belo Horizonte. É o segundo caso nestsa semana, balanço que exige da Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase), um dos braços da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), resposta para que a trágica ocorrência não se repita. A nova vítima é um menino de 14 anos, encontrado com marcas de estrangulamento no alojamento da unidade São Benedito, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste da capital, onde há outros 61 garotos.
A estimativa é de que boa parte dos jovens que cumprem medidas socioeducativas em Minas Gerais – são cerca de mil em 26 unidades espalhadas pelo estado – passou à custódia do estado depois de envolvimento com o tráfico de drogas. Reportagem publicada pelo Estado de Minas, em março de 2008, revelou que dados da Vara Infracional da Infância e da Juventude de Belo Horizonte mostram que o número de meninos entre 12 e 17 anos apreendidos sob esse tipo de acusação cresceu assustadoramente na comparação entre 2005 e 2007: passou de 379 garotos para 1.022. Também foi apurado aumento considerável (49,5%) em relação aos adolescentes detidos sob a acusação de uso de entorpecentes. Somando-se todos os atos infracionais, 1.615 jovens foram apresentados à Vara Infracional da Infância e da Juventude da capital naquele ano.