Todos os dias lá estão elas: notícias de crianças e mulheres estupradas, muitas assassinadas. Os jornais fazem um estardalhaço, batendo na mesma tecla: prisão, aumento de pena e até pena de morte. Ninguém tem a luminosa ideia de perguntar: por quê?
Que sociedade doente é essa que sexo se tornou agressividade e violência, e adultos querem fazer sexo com crianças? Que sociedade é essa em que a indústria pornográfica fatura bilhões sem ser incomodada por nenhuma fiscalização? Verdadeiros magnatas enchem a pança de dinheiro a custa de aumentar o vício do sexo doentio. Enquanto outras drogas menos nocivas são perseguidas à exaustão, a droga da pornografia tem livre trânsito, transformando a sociedade num verdadeiro manicômio, onde pessoas enlouquecidas saem em busca de suas caças a qualquer custo. E com suas mentes e instintos entorpecidos matam suas vítimas.
A introdução é para chegar ao artigo abaixo, no qual o jornalista Ruy Castro ousa tocar na questão. Digo "ousa"porque na nossa imprensa têm os assuntos tabus, aqueles que ninguém mexe, senão todos se levantam para impingir-lhe o estigma de conservador, careta, antiquado, por aí.
Como diz a nossa grande escritora Lygia Fagundes Telles: "Escrever é um ato de coragem". Realmente, percebe-se na mídia um querer agradar a gregos e troianos. Não se toca nas feridas. Aí, estou com Eduardo Galeano: "Quando as palavras não podem ser mais dignas que o silêncio, é melhor a gente calar-se. E esperar."
Se fosse para escrever abobrinhas, eu fechava meus blogs e iria descansar da angústia de ter que falar e da esperança de valer a pena.
Seque o artigo em questão:
Inocentes e indefesas
Ruy Castro
"... a enorme oferta de sexo na sociedade moderna, ostensiva na televisão, na propaganda, na moda etc., não é para todos. Apenas estimula a que alguns queiram a sua parte nem que seja na forma de garotas inocentes e indefesas."
Uma estudante de 18 anos disse ter sido estuprada dentro do campus de sua universidade, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, no fim de semana passado. O homem a teria seguido na rua, entrado no campus com ela e, à força de uma arma, levado a garota para uma área deserta do prédio e a violentado.Nesta segunda-feira, a polícia de Alagoinha (230 km de Recife, PE) prendeu um homem de 23 anos, suspeito de violentar sua enteada, de 9 anos. A menina engravidou de gêmeos, está no quarto mês de gestação e terá de abortar. O rapaz confessou ter estuprado também sua outra enteada, de 14 anos, portadora de deficiência física e mental. A mais nova contou que era obrigada a fazer sexo com o padrasto desde os 6 anos.
E, também no sábado último, outra menina de 6 anos foi encontrada violentada e morta num bairro de Frutal (611 km de Belo Horizonte, MG). Um lavrador, acusado do crime, confessou ter encontrado a pequena na rua, atraído-a para sua casa sob promessa de lhe dar bombons e se despido. Ela se assustou e ameaçou fugir; ele então a esfaqueou e a estuprou.
Essas são apenas algumas das últimas notícias. Mas é raro o dia em que o jornal não registre miséria parecida. Tem-se a impressão de que a incidência desse tipo de crime aumentou. Pelo visto, a enorme oferta de sexo na sociedade moderna, ostensiva na televisão, na propaganda, na moda etc., não é para todos. Apenas estimula a que alguns queiram a sua parte nem que seja na forma de garotas inocentes e indefesas.
A geração de 20 anos em 1968 tinha tanto sexo à disposição que não cogitava sequer recorrer a profissionais. O mundo parecia maduro para uma linda democracia sexual, em que todos viveriam à farta nesse departamento. Esquecemo-nos de que não há nada como o homem para desmoralizar uma utopia. (FSP - 4/3/09 - Caderno Opinião)
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