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31 de out. de 2007

Genocídio (3)

A execução dos jovens, sem julgamento, sem prisão, soma-se às inúmeras ações na escalada de repressão ao povo pobre e favelado. Tão impressionante quanto as cenas exibidas é o crescimento constante da defesa de tais ações pela imprensa e pelo senso comum. Coisas como "tem mais é que matar mesmo", ou "marginal bom é marginal morto" tornam-se lugar comum, ao ponto de filmes como "Tropa de Elite" serem digeridos em especial pelos setores de classe média como a grande sacada no combate à violência.
E na medida em que o espetáculo de horrores passa a ser aplaudido, o fascismo põe o pé fora do armário e a barbárie policial passa até a ser televisionada.

Fonte: Mídia dos oprimidos

30 de out. de 2007

O tempo dos assassinos (Rimbaud)


Você que me ouve, preste muita atenção!
Eu estou chegando, chegando... chegando!
(aaaaaaaa!!!)
Iai, mandou me chamar?
BOPE vai te pegar
BOPE vai te pegar
Homem de preto, qual é sua missão?
Entrar pela favela e deixar corpo no chão
Homem de preto, que é que você faz?
Eu faço muitas coisas
que assustam o satanás
BOPE vai te pegar (pega daqui, pega de lá)
BOPE vai te pegar (pega daqui, pega de lá)
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando
É o BOPE matando
Então não corre porra e não treme mané!
BOPE vai te pegar (pega daqui, pega de lá)
BOPE vai te pegar (pega daqui, pega de lá)
Tropa de elite, osso duro de roer,
pega um pega geral, também vai pega você
Tropa de elite, osso duro de roer,
pega um pega geral, também vai pega você
Bate com o pé, bate com a mão,
bate com o pau o BOPE é mal, quebra geral
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando
Cachorro latindo, criança chorando,
vagabundo vazando
É o BOPE chegando...
É o BOPE matando...
(música do BOPE que os soldados cantam
rapidamente em um trecho do filme Tropa de Elite)


"O terror deste Rio é o ‘caveirão’.
Entra em favela, invade o morrão.
Se você canta e tem amor à vida,
vamos te meter bala e não é perdida”.

29 de out. de 2007

Governador genocida (2)

O Pôncio Pilatos do Palácio Guanabara
A morte de negros e pobres de agora em diante está publicamente autorizada...

Em um dos capítulos de “O Príncipe”, Maquiavél indicava a um chefe de estado como deveria agir para evitar ser desprezado e odiado. O referido florentino afirmava que as ações de um príncipe deveriam ser reconhecidas pela grandeza, coragem, gravidade e fortaleza. O chefe de estado deveria furtar-se a ações que fizessem-no ser visto como volúvel, leviano, pusilânime e irresoluto.
Seguindo a cartilha maquiavélica, o governador Sérgio Cabral vem perdendo várias oportunidades de se tornar um “príncipe” estimado entre a população. As duas últimas declarações saídas do seu governo, a primeira proferida pelo seu secretário de segurança e a segunda dita pelo próprio Sérgio Cabral deram um golpe de morte a qualquer tentativa cidadã de política de segurança. As seguidas carnificinas promovidas pela polícia do Rio de Janeiro a as declarações legitimadoras desses dois “representantes do povo” extinguiram qualquer possibilidade de uma ação anti-racista e includente.

A morte de negros e pobres de agora em diante está publicamente autorizada e a favela permanece o teatro de operações em que as assim chamadas políticas de segurança estarão livres para agir: seja no controle da natalidade, evitando a “fábrica de marginais”, seja exterminando todo e qualquer elemento suspeito. Qualquer negro, pobre ou favelado é uma ameaça em potencial!!
O governador Sérgio Cabral só aparece nas manchetes relativas a confrontos com traficantes. A grande discussão no seu governo é se o confronto é a melhor das estratégias para derrotar o tráfico. Depois de oito anos de políticas assistencialistas dos governos anteriores, continuamos esperando a tão sonhada conciliação defendida durante a campanha eleitoral. Até aqui a impressão causada pelo governo Sérgio Cabral é a de que este compartilha das convicções de Washington Luis a quem se atribui a famosa frase “questão social é questão de policia”. Essa impressão é reforçada pela obscuridade a que foram relegadas as políticas sociais neste governo. Seria polícia o principal instrumento das políticas sociais do Estado?
Nosso governador parece estar governando o Rio de Janeiro em plena década de 20 do século passado, quando as teorias eugenistas e a criminologia de Lombroso eram grandes novidades e se colocavam como bases teóricas para execução de políticas de governo. Se o governador pretende entrar para história ele tem antecessores de peso que conseguiram alçar essas idéias ao sucesso, mesmo que de forma transitória. Como se pode ver, os exemplos de Hitler e Mussolini jamais cessaram de ser cultivadas no decurso das intervenções governamentais da história brasileira.
Tal é a filosofia a que parece aderir o governador que recebeu 68% dos votos válidos do Rio de Janeiro. No entanto, verdade seja dita, Sérgio Cabral profere uma opinião aceita por numerosas personalidades, desde que o Brasil é Brasil, no Rio de Janeiro e fora dele. Como se pode ver (e cabe lembrar as declarações do Biólogo James Watson) ele não fez mais do que exprimir uma concepção de uma parcela da sociedade brasileira, aquela que consiste em procurar para os grupos sociais, uma origem distinta, gloriosa para alguns e decadente e perniciosa para outros.
No coração carioca a favela é o novo cristo redivivo. Ninguém acredita no poder redentor desta parte da população, muitos riem de suas desgraças, vêem seus moradores carregando suas cruzes e blasfemam pensando estarem lidando com heresias. E o que outrora foram pregos e chicotadas agora são balas de fuzil da guarda do Pilatos do Palácio Guanabara.
Diariamente, para nos salvar do clima de violência carioca, para obter o perdão e diminuir a culpa pequeno burguesa de alguns grupos e nos devolver a graça e beleza do tempo em que “Ipanema era só felicidade”, voltamos às práticas de sacrifícios coletivos em que milhares de vidas de negros e pobres são oferecidos para uma força maligna idolatrada por todos aqueles que compactuam com esse genocídio.
Neste novo cenário, a via-crúcis da população pobre do Rio de Janeiro está nos estágios preliminares de sua escalada. Os esforços do governo para conseguir adesão e solidariedade nos segmentos que vivenciam o extermínio mediante artifícios midiáticos não estão surtindo efeito. O governo do Sérgio Cabral que conquistou grande índice votos nesses segmentos, não está poupando os seus próprios eleitores e está entregando-os à morte em nome da Família, do Estado e da Propriedade. E a favela sofre, fazendo-nos crer que seu sacrifício pode salvar-nos, pondo-nos a refletir e relativizar o sexto mandamento: não matarás!
Será que Sérgio Cabral esqueceu que do ventre de uma dessas mulheres que ele atribuiu como fábrica de marginais saiu o nosso Presidente Lula, aliado de grande importância para o governador? Poderia ele ser racista tendo um pai que embora branco possui características tão negróides? Será que o governador se lembra de que como nós, muitos outros negros votaram nele e hoje pensam nesse voto com constrangimento e vergonha?

De repente .
Uma voz de ai ai se estrangula no fundo do mato:
- não fui eee...u
Bate a porteira da tocaia: Páa
Esta pancada seca
Ouve-se por todo o Brasil
.(Raul Bopp)
______________________________

AUTORES
Lenora Louro – Psiquiatra
Rogerio José – Historiador

27 de out. de 2007

Educação na cadeia

A professora da PAZ
Bety faz um trabalho fantástico dentro da cadeia de Cataguases e Leopoldina. Além de professora de uma turma de alfabetização, dinamiza a biblioteca e presta todo tipo de atendimento aos detentos. É uma educadora supercriativa, fico maravilhada de ouvir os relatos das suas aulas e das sutilezas que lança mão para fazer com que os presos se interessem pelos livros.
Ela faz dentro da prisão o que os demais professores não conseguem nas escolas, com todo espaço e todas as alternativas da liberdade: os alunos gostam das suas aulas e querem continuar aprendendo.

Um dos detentos a definiu com um "Triunfo à professora Beth":
Oh! Diva Beth! Tu és a luz que resplandece.
Quando entras pela galeria, enche nossos corações de alegria. És uma benção! Este teu lindo sorriso. Deus nos abençoa quando você se põe a orar. Se não acreditas em santos, como posso lhe chamar?
Agradeço a Deus por ter lhe conhecido. És uma graça, és uma irmã que nos abre os braços. Beth, Dona Beth, irmã Beth, não importa. É a heroína que nos traz a vitória.

Leiam o relato da Beth ao passar pelas celas com o carrinho (de supermercado)distribuindo livros:

"Quando chego na porta das celas, eles já brincam: “veio comprar o que D. Beth?” Eu respondo: “hoje vou comprar o incomprável: o seu conhecimento e seu prazer de viajar pelo mundo das letras. Hoje tem Ernest Hemingway”.
Daí eles morrem de rir, e dizem assim: “não vale, torci minha língua”.
Tento convencê-los: “vamos falar juntos e devagar, depois você vai também conseguir falar I love You para sua amada”.
“Não, dona Beth, ela vai pensar que estou xingando.”
Depois desse diálogo, consigo que ele fique com pelo menos dois livros e todos da cela também se contagiam com as gargalhadas e pegam mais livros.
Em outra cela: “Hei, dona Beth, tem” livro quente” hoje? Igual ao O Cortiço, Gabriela...?”
Digo: “Hei, menino, isso demais faz mal, que tal esta linda história real de um náufrago que...?
“Mas, dona Beth, já naufraguei aqui faz tempo!”
Daí não tem jeito, tem que ser mesmo o “livro quente”."


A professora Beth
entregando o diploma
ao detento
kllotild Guimarães Pinto

24 de out. de 2007

Sentença inacreditável

Juiz diz que "a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher". É inacreditável, mas está na sentença do juiz, conforme publicado na Folha de São Paulo, dia 21/10/07. Transcrevo a notícia:

Para juiz, proteção à mulher é "diabólica"
O juiz Edilson Rodrigues considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha, contra violência doméstica, e afirmou que o mundo é masculino. Segundo ele, homens que não quiserem ser envolvidos nas "armadilhas" dessa lei, que considera "absurda", terão de se manter "tolos".
Alegando ver "um conjunto de regras diabólicas" e lembrando que "a desgraça humana começou por causa da mulher", um juiz de Sete Lagoas (MG) considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha e rejeitou pedidos de medidas contra homens que agrediram e ameaçaram suas companheiras. A lei é considerada um marco na defesa da mulher contra a violência doméstica."Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A idéia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!"
A Folha teve acesso a uma das sentenças do juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues que chegou ao Conselho Nacional de Justiça. Em 12 de fevereiro, sugeriu que o controle sobre a violência contra a mulher tornará o homem um tolo."Para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na contingência de ter de ceder facilmente às pressões."
Também demonstrou receio com o futuro da família. "A vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo, como inclusive já está: desfacelada, os filhos sem regras, porque sem pais; o homem subjugado." Ele chama a lei de "monstrengo tinhoso". Rodrigues criticou ainda a "mulher moderna, dita independente, que nem de pai para seus filhos precisa mais, a não ser dos espermatozóides".
Segundo a Folha apurou, o juiz usou uma sentença-padrão, repetindo praticamente os mesmos argumentos nos pedidos de autorização para adoção de medidas de proteção contra mulheres sob risco de violência por parte do marido.A Folha procurou ouvi-lo. A 1ª Vara Criminal e de Menores de Sete Lagoas informou que ele está de férias e que não havia como localizá-lo.
Sancionada em agosto de 2006, a Lei Maria da Penha (nº 11.340) aumentou o rigor nas penas para agressões contra a mulher no lar, além de fornecer instrumentos para ajudar a coibir esse tipo de violência.Seu nome é uma homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia, agredida seguidamente pelo marido. Após duas tentativas de assassinato em 1983, ela ficou paraplégica. O marido, Marco Antonio Herredia, só foi preso após 19 anos de julgamento e passou apenas dois anos em regime fechado.
Em todos os casos em suas mãos, Rodrigues negou a vigência da lei em sua comarca, que abrange oito municípios da região metropolitana de Belo Horizonte, com cerca de 250 mil habitantes.
O Ministério Público recorreu ao TJ (Tribunal de Justiça). Conseguiu reverter em um caso e ainda aguarda que os outros sejam julgados.Órgão vai estudar medida legal contra posição de juiz de MG Edilson Rodrigues, juiz de Sete Lagoas, negou a aplicação da Lei Maria da Penha e afirmou que o mundo é masculino em sentença.
O caso do juiz no CNJ
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) vai decidir nos próximos dias se tomará alguma medida contra o juiz de Sete Lagoas (MG), Edilson Rumbelsperger Rodrigues, que negou a aplicação da Lei Maria da Penha. A ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, enviou recentemente ao CNJ cópia da sentença.
Ela também encaminhou uma moção de repúdio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembléia Legislativa de Pernambuco, que havia tomado conhecimento da polêmica decisão.Os conselheiros do CNJ disseram à Folha que buscam uma forma de adotar medida legal como abertura de processo disciplinar contra Rodrigues. É que o órgão administrativo não tem o poder de rever o teor de decisões judiciais.
A moção de repúdio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, da assembléia de Pernambuco afirma: "Ao recorrer a argumentos religiosos para justificar o arbítrio do homem sobre a mulher, o magistrado desconsidera o princípio da laicidade [direito do leigo] do Estado."Outro trecho, diz: "O juiz criminal tem como competência coibir a prática dos crimes a partir da condenação de seus autores, nunca fazer juízo de valor acerca da legislação, sobretudo quando tal juízo dissemina preconceito" .

22 de out. de 2007

Entrevista aviltante

Deplorável
Desprezível entrevista com ataque às mulheres angolanas, veiculado pela TV Globo no programa do Jô. Jô Soares demonstra, além de total ignorância sobre antropologia, a ciência que estuda as culturas humanas, falta de ética e respeito ao ser humano ao ridicularizar as tradições e costumes de um povo.

Veja o vídeo

O Coletivo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro e instituto Memória Lélia Gonzalez se manifestaram:

"O endereço acima exibe o vídeo da entrevista feita por Jô Soares ao angolano Ruy Morais e Castro no seu Programa. Entrevista infame e aviltante para nós, mulheres, jovens e meninas negras. Enfim, é de total desrespeito a nossa raça, a nossa gente. Esse é o endereço do desrespeito, do racismo global.
TV GLOBO...NÃO É ASSIM "QUE A GENTE QUER SE VER POR AQUI."
Já enviamos esse material para o Consulado de Angola informando e exigindo uma posição. E , dia 21 de outubro - Domingo, será o dia de repúdio a essa e outras ações da Globo."

20 de out. de 2007

Governador genocida

Balanço do Instituto de Segurança Pública do estado (ISP) mostra que policiais civis e militares mataram 694 pessoas durante confrontos no Rio de Janeiro apenas no primeiro semestre deste ano.
Governador Sérgio Cabral defende ação policial que deixou 12 mortos
Diante das críticas críticas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de entidades civis sobre a atuação da polícia nas favelas, o governador respondeu com ironia e cinismo:

"Eles (OAB e entidades) têm sua opinião e eu que fazer o meu trabalho, que será o mesmo, de combate à criminalidade. Se eu pudesse chegar para esses marginais e dizer: ‘Me devolva esse fuzil, essa metralhadora .30 e a granada, pois vamos fazer um seminário para discutir como os senhores podem devolver’, eu ficaria feliz da vida."

18 de out. de 2007

Presídios para a desigualdade








HAJA PRESÍDIOS

O governo de São Paulo anuncia que vai construir 44 presídios até 2010. Eles receberão 30 mil detentos a se manter a média de 6 mil presos por ano ingressando no sistema penitenciário paulista. Quando estiverem concluídos, São Paulo totalizará 189 prisões, com mais vagas do que todos os outros Estados somados.

Os presidiários serão quase todos pretos, pobres ou quase pretos de tão pobres, confirmando que o Haiti, um dos países mais miseráveis do mundo, é mesmo aqui. É a maneira de a sociedade se proteger dos ladrões de Rolex de 50 mil reais.

Faz todo o sentido São Paulo ter tamanha quantidade de presídios. É lá que está a maior parte do dinheiro no Brasil e onde a desigualdade brasileira, ao nível de Haiti e dos mais pobres países africanos, se expressa com todo o seu esplendor. Andar por certas áreas de São Paulo chega ser ofensivo. Calçadas com tapetes, carros importados, grifes sofisticadas e restaurantes que cobram por uma refeição o que um trabalhador levaria vários meses para acumular.

Quando perde alguns de seus pertences, a parcela mais rica grita pelo capitão Nascimento, que vem sendo aplaudido nas salas de cinema. Aos mais pobres, a lei e os presídios. Em certos casos, às favas com os direitos civis, a julgar pela aprovação aos métodos do Bope, personagem do pirateado Tropa de Elite.

Nas ruas das grandes cidades, cada vez mais polícia para tomar conta da desigualdade. Nas frequentes blitz, motoristas negros são parados por policiais também negros numa espiral irônica em que pobres tomam conta de pobres enquanto a minoria mantém a mais cruel concentração de renda. Políticas distributivas são atacadas como demagógicas e populistas, e sua continuidade é ameaçada pelo conservadorismo político. O Brasil continua sob o capitalismo selvagem, sem desfrutar das reformas que o civilizaram. Essa é a estreiteza das elites, tão minoritárias e egoístas.

É essa a insustentabilidade do modelo brasileiro. Não tem crescimento de 5 por cento ao ano que reduza as tensões geradas pela desigualdade e concentração de renda. Um estudo de 2006 da New Economic Foundation, da Grã Bretanha, dizia que com o rtimo de crescimento de pouco mais de 2 por cento ao ano, o Brasil levaria 304 anos para atingir o mesmo nível de distribuição de renda dos países ricos. Podemos considerar que com o dobro do crescimento, levaríamos um século e meio. O crescimento da economia é fundamental, sim, para atacar esses problemas, mas é preciso mais. Na Noruega, a diferença entre os 10 por cento mais ricos e os 10 por cento mais pobres é de apenas seis vezes. No Brasil, é de 57 vezes. A fatia de renda do 1 por cento mais rico é a mesma dos 50 por cento mais pobres, diz estudo do Ipea de 2006.

O insuspeito Banco Mundial afirma que a pobreza retarda o crescimento e defende a redistribuição de renda em países como o Brasil. Enquanto a pobreza não for vencida por políticas públicas, entre elas a educação de qualidade universalizada e o acesso ao mercado de trabalho ampliado, não haverá sossego nas grandes cidades, nem presídios que dêem conta da explosão social.

Fonte: site Direto da Redação

17 de out. de 2007

Lula e Edir Macedo???

Lula e Edir Macedo durante inauguração do canal Record News, em SP (Folha Online-17/10/07)

A notícia abaixo mostra bem o quanto o Brasil é presa fácil para embusteiros "religiosos". Enquanto em países africanos, governos e justiça vêm usando a lei e a ordem para impedir esses abusos contra o povo, no Brasil, as pseudo-religiões deitam e rolam, inclusive com o beneplácito do próprio presidente da República que, renegando seu passado de conscientização das massas, tem se posicionado a favor das fraudes através da manipulação de fé religiosa. Será que o Lula não sabe a diferença entre religião e exploração? Será que ele diria ao povo pobre brasileiro que a pobreza é fruto dos "espíritos e demônios" e que a solução é procurar um templo da igreja universal, doar seus últimos recursos e aguardar as bênçãos de Deus que, a essa altura, já foram para a conta do Edir Macedo?
Que decepção, Lula! Sei que um presidente tem de ter jogo de cintura, ser diplomata, fazer acordos, mas assim está demais!

Igreja Universal é expulsa da Zâmbia
Da France Presse - 06/12/2005

Em fevereiro, Madagascar baniu a igreja e ordenou que o grupo religioso cessasse suas operações no país, uma grande ilha do Oceano Índico, quatro meses depois de quatro religiosos terem sido presos por supostamente queimar uma Bíblia e outros objetos religiosos.

A Igreja Universal do Reino de Deus, que foi banida de Zâmbia na semana passada por suposta prática de satanismo, incluindo sacrifício humano, decidiu desafiar a decisão de um tribunal do país. Eles entraram com um recurso na Suprema Corte para anular a expulsão imposta.
O Governo africano da Zâmbia também ordenou que dois pastores brasileiros deixassem o país dentro de sete dias, mas estas expulsões também estão sendo contestadas na Suprema Corte.
A igreja alega que os procedimentos naturais da Justiça não foram seguidos", disse o religioso.
Na semana passada, o Governo de Zâmbia retirou o registro da Igreja Universal após relatos de que o grupo estava envolvido em sacrifícios humanos.
A notícia provocou a fúria de milhares de zambianos em Lusaka, que acabaram por quebrar janelas de um novo templo da igreja e por atirar pedras em carros depois de rumores apontarem para o seqüestro de duas pessoas para serem em seguida sacrificadas.
"As permissões de trabalho destes dois pastores foram anuladas", declarara no sábado o secretário das Relações Exteriores, Peter Mumba, destacando que os dois homens, Carlos Barcelos e Jammiya Claver, tinham uma semana para abandonar o país.
A polêmica Igreja Universal foi banida previamente de Zâmbia em 1997, mas voltou a operar no país sob uma ordem judicial.
Em fevereiro, Madagascar baniu a igreja e ordenou que o grupo religioso cessasse suas operações no país, uma grande ilha do Oceano Índico, quatro meses depois de quatro religiosos terem sido presos por supostamente queimar uma Bíblia e outros objetos religiosos, segundo fontes locais.
A Igreja Universal do Reino de Deus foi fundada no Brasil em 1977 pelo bispo Edir Macedo, um ex-funcionário da tesouraria da loteria do Rio de Janeiro (Loterj).
A Universal diz ter seis milhões de membros em 90 países, incluindo os Estados Unidos e nações da Europa e Ásia.

16 de out. de 2007

Drummond





Carlos Drummond de Andrade


Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

Pois é, Drummond,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

( Poemas "O sobrevivente" e "Poema das sete faces")

14 de out. de 2007

FANATISMO RELIGIOSO

A BIOGRAFIA DE EDIR MACEDO

Lendo por aí sobre a badalada biografia do bispo Edir Macedo, li que ele é "um dos personagens mais polêmicos" do país.
Que triste sina brasileira! Um homem flagrado naqueles vídeos ensinando os pastores a tirar dinheiro do povo, que acumulou uma fortuna à custa da ingenuidade das pessoas, acusado de "curandeirismo, charlatanismo e estelionato" e só não foi condenado porque, como diz Millôr Fernandes "no Brasil, se o crime compensa, não é crime".
E como compensa abrir "igreja" no Brasil! Em todas as cidades, as "igrejas" viraram concorrentes de farmácias e bares, é o que mais abre em todos os bairros, principalmente os mais pobres.
Quanto recurso não é desviado da qualidade de vida da população para sustentar a vida dos "pastores". Pastores de ovelhinhas incautas, com o aval do estado, que em vez de proteger a população desse estelionato a céu aberto, ainda incentiva esta forma de fanatismo religioso.
Quantas pessoas não morrem sem procurar atendimento médico para suas doenças em função da orientação dos evangélicos de quem cura é Jesus. É óbvio: se gastarem dinheiro com tratamento, médicos, remédios, boa alimentação, não sobrará dinheiro para a conta do Edir Macedo e outros charlatões. Pessoas que deveriam procurar tratamento com psicólogos e psiquiatras são levados a acreditar que estão "possuídos pelo demônio", uma verdadeira volta ao obscurantismo da idade média.
"Bispo Macedo é uma personalidade interessante", continua a matéria. Realmente, muito interessante como este nosso país vem caindo cada vez mais no atoleiro da enganação, enganação dos políticos, das elites exploradoras e agora das pseudo-religiões, cujo crescimento nos faz temer uma volta a tempos sombrios e tenebrosos, de total ignorância dos avanços científicos da humanidade. Tudo em nome do dinheiro, do lucro que vão fortalecer cada vez mais os clãs religiosos.

Vejam com seus próprios olhos a tática de estelionato: como enganar e explorar o povo:

13 de out. de 2007

Sobre crianças jogadas fora

Quem jogou Michele no ribeirão Arrudas?
Não basta condenar os praticantes da violência; é necessário mudar a mentalidade das sociedades e as condições econômicas, sociais subjacentes que a provocam.
Leia no Blog da Glória

11 de out. de 2007

Das elite

FERRÉZ e a Tropa DAS ELITE

O Estado brasileiro comete, aceita, orienta e permite os homicídios. É, portanto, homicida por sua própria natureza. Apenas símios engravatados com as insígnias das corporações nos peitos (até nos siliconados) e nos cérebros. Serviçais uniformizados e paranóicos.

Em qualquer lugar no qual esteja publicado um escrito desse brasileiro, eu o buscarei. Aliás, quanto aos detentores dos meios de comunicação jamais, sob hipótese nenhuma, aplicam o dever de publicação da opinião pública. O máximo que fazem é dedicar um espaço aos "leitores" que devem exprimir sua opinião "respeitando as autoridades constituídas, as instituições, incluindo-se a Igreja e o Estado demo-crático de direito’. Se não se exprimem "como ditam suas políticas" simplesmente não são publicados sem qualquer satisfação a ninguém, tampouco àquele que enviou a mensagem. Por outro lado, usam os tais espaços dos leitores para proceder pesquisas de opinião e, muitas vezes, copiam elementos para modernizar o pensamento do jornal. Evidentemente sem qualquer pagamento de direitos autorais. São apenas leitores. A opinião pública, a grande falácia da liberdade demo-crática, não passa, enfim, de opinião publicada. Portanto, o quarto poder com suas tropas de jornalistas e colunistas e propagandistas e escritores-mercadores-vendedores se estabelecem, também, como tropas.

Leia-se no dicionário o sentido da palavra tropa. O cotidiano mórbido dos meios de comunicação, com suas pedofilias, impunidades, sobretudo, sua apologia aos mais variados crimes caracteriza os jornalistas, articulistas e os chamados repórteres, como uma das tropas subalternadas das elite, estejam elas no status que estiverem. Ferréz cometeu apologia ao crime? Hã, hã! Então conclui-se que até mesmo nas escrituras o "outro" será penalizado. É proibido criar a partir do caos? É proibido confirmar que alguns, embora situados nas camadas inferiores do triângulo hierárquico do poder, estão com seus olhos abertos, seus ouvidos limpos e suas mãos prontas para exercitar o pensamento, a racionalidade? É proibido, por meio da arte da escrita apresentar aos leitores a prova da possibilidade da razão humana?

Ferréz cada dia melhor. Ferréz é um escritor. Ferréz é um psicólogo social. Ferréz é um sociólogo. Ferréz é um cientista social. Ferréz é um filósofo. Ferréz é uma esperança ao que a civilização entendeu como animal racional. Ferréz é a prova de que a linguagem pode ser a flecha cujo alvo é a consciência humana. Os escritos desse rapaz poderiam, se permitissem, nos remeter ao que há de mais valoroso no ser humano: sua capacidade de ultrapassar a inércia, o comodismo, o medo. Férrez não escreve como os notórios, tampouco para aqueles que buscam, através da escrita a manutenção de sua notoriedade; notoriedade esta que os privam da luta diária pelo pão. Seus senhores não os deixam sofrer o infortúnio das necessidades, sequer a necessidade da lucidez, mantendo-os constantemente sob ordens, explícitas ou implícitas. Excitados.
Férrez está fazendo história, os outros, diante dele, são simplórios . Perderam os pêlos, perderam o rabo, perderam as garras, perderam os caninos; todavia, por estarem presos num momento da história da bárbárie, sentem-se como aqueles que, tendo os membros extirpados, continuam a usá-los mentalmente, dilacerando corpos com suas garras. A inteligência, elo perdido entre o macaco e o homem, atua somente nos mitos das filosofias demasiadamente humanas. Escolásticas.
Os clãs construíram suas tropas e as denominaram de instituições religiosas, jurídicas, empresariais, políticas, governamentais. Depois, se autodenomiram elites: elites do poder, elites do judiciário, elites do empresariado, elites do jornalismo. Elites. Criaram um significado, imprimiram nos livros. Buscaram no populacho seus cães de guarda e a eles denomiraram tropas. Fornecendo o uniforme e a ração. Como se fossem cães. De guarda. Adestramento: direita...volver. Às vezes, esquerda, dependendo dos interesses colocados nas bolsas de "valores" do futuro. Em frente, marche. Apontar....Fogo!
Pedofilia, assassinatos, latrocínios dos clãs, impunidades, disseminação da violência, amoralidade administrativa, servilidade, medos, medos, medos. Isso queima. Queima como queimam as balas enviadas na direção dos corpos dóceis dos habitantes nos complexos do alemão, distribuídos por milhões de residências em todo o território nacional. Expectadores passivos. Atiram para todos os lados essas tropas das elite. São papagaios, repetidores, copiladores, jamais criadores. Serviçais, até na literatura. Apologia ao crime? Hã, hã!

Propagandear a impunidade não é apologia ao crime? Se eles podem cometer latrocínios com as agravantes da premeditaçao e dos motivos fúteis (roubar e matar milhões) sem punição, por que eu não posso furtar (sem violência) um relógio? Não será crime negar o poder das ciências e optar pela disseminação da dor? Não será crime manter crianças, jovens e adultos na ignorância de seu próprio corpo? Não será crime apoiar guerras? Tropas de jornalistas, tropas de professores, tropas de escritores, tropas de cientistas, tropas de empresários, tropas de juízes, tropas de padres e pastores com seus pensamentos uniformes e suas tropas uniformizadas. Apenas símios engravatados com as insígnias das corporações nos peitos (até nos siliconados) e nos cérebros. Serviçais uniformizados e paranóicos. Até para matar deveria existir uma razão. Os animais o sabem e são considerados irracionais. Rascunhos de seres racionais. Uniformes e uniformizados. Batinas ou togas, pouco importa. Co-autores de delitos contra a humanização da vida. Servis cumpridores de códigos de honra e de conduta dos bárbaros. Pobres coitados. Passam pelo planeta como formigas e, quiçá, nem às formigas podem ser comparados.

Um dia a pirâmide hierárquica será revolvida pelos "de baixo" e não haverá padres, polícias ou juízes que conseguirão manejar o populacho. "Sem os im-postos" do poder, a pirâmide não sustenta a ração (para cada tipo de tropa, um cardápio) diária das tropas uniformes e uniformizadas. Sem ração não haverá como justificar o crime com o diploma da representação popular. Os mortos-vivos sairão de seus túmulos e exigirão seu lugar na vida , criando uma nova história desvinculada da estória das elite. E os crimes estarão tipificados em lei, porquanto até hoje, nessa fazenda chamada Brazil, a norma legal não proibe matar. Ao contrário, faz apologia ao crime ao determinar no artigo 121 do Código Penal simplesmente a frase: Matar alguém Ponto e, imediatamente, passa a determinar as penas. O Estado brasileiro comete, aceita, orienta e permite os homicídios. É, portanto, homicida por sua própria natureza. Aceita o delito como um fato, como se todos nós partilhássemos desse lodaçal no qual insistem em se deliciar. E se escrevêssemos "é proibido matar?" e especificássemos tão somente as possibilidades do acontecimento, considerando a insistente barbárie? E se, ao invés de fazer apologia ao roubo, a norma jurídica afirmasse que "roubar é proibido?", quais seriam os doutos que conseguiriam fundamentar as defesas das quadrilhas institucionais? Apologia ao crime? Vamos colocar um pouco de inteligência e ciência nesta afirmativa. Direitinho, certinho, dentro das regras estabelecidas pelas academias e pelas prisões metodológias da falsa ciencia. Recolhamos os pedaços dos cadáveres de Aristóteles, Platão e Rousseau, os amados e assassinados filósofos da civilização. Não nos esqueçamos dos arqueólogos, dos biólogos e dos físicos. Então veremos o que quedaria do "direito penal para o inimigo", do "direito civil para o inimigo", enfim,
com que armas teóricas a escolástica medieval justificaria seus crimes diários?

Não assisti ao filme. Respeito o cinema nacional, todavia, há de existir um momento na vida de uma pessoa no qual deverá optar pela maturidade e, para que se atinja a maturidade, necessário será responsabilizar-se por sua sanidade mental, e o primeiro passo, acredito - por enquanto - é abandonar a cegueira e tentar um ensaio sobre a lucidez. Ferréz tem a lucidez que falta aos escrevinhadores do sistema e o jornal foi feliz em usar esse artifício para chamar leitores e fazer propaganda gratuita pela web. Longa vida ao Férrez e que mantenha ereta a espinha dorsal, olhos abertos, ouvidos atentos, tato sensível e inteligência em constante desenvolvimento.
A verdade está sempre mais adiante e começa a se manifestar pela visão da realidade, individualmente, além do medo, além do bem e do mal.

Vera Lúcia Vassouras
Advogada


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Nota: Das elite - Neologismo oriundo do populacho, significando grupo de pessoas que não tem lucidez e, sendo assim, não sabe usar a própria língua com objetivo de propiciar o desenvolvimento da inteligência, podendo significar, ainda, uma nova forma de interpretação rápida da ignorância de membros de qualquer poder que seja exercido em contra o desenvolvimento da racionalidade. Exemplo: literatura das elite, senado das elite, congresso das elite, empresas das elite, justiça das elite, comunicação das elite, escolas das elite, poder das elite, etc. Pronuncia-se como : DAZELITE com o Z sibilado durante a verbalização, imitando-se a linguagem das cascavéis. Uso: deve ser empregado sempre que se pretenda fazer entender sem necessidade de justificação, sendo adequado, para que não se perca, de modo algum, o significado, que após a emissão da palavra dê-se um leve e simpático sorriso, com a finalidade de não provocar a ira de possíveis membros das referidas tropas, geralmente detectados usando uma máscara de demo-cratas, liberais, etc.

10 de out. de 2007

Novela dos poderosos

Mais um capítulo da novela "Os poderosos estão acima da lei"

Na noite de domingo, um promotor de justiça embriagado atropela e mata três pessoas (pai, mãe e filho), em Araçatuba (SP). Mas está tudo bem, não é preso, já pediu uma licença de saúde, continua recebendo seu robusto salário que, nós, contribuintes paspalhos lhe pagamos e, de agora em diante, é só deixar por conta do corporativismo e da nossa justiça de classe para que a vida do promotor volte ao normal, isto é, para que ele continue a ser um "fiscal da lei", acusando os que, diferente dele, estão subordinados à lei no país, de preferência, os pobres, negros, prostitutas, menores... Dias atrás, uma jovem grávida - pobre, é óbvio -chegou à cadeia de Cataguases, transferida de Ponte Nova, presa por "roubar" chocolate num supermercado.
Eta, país de Marrabenta!

Outro capítulo
Dando uma olhada no dicionário, ofício obrigatório de quem se mete a escrever, deparei com a palavra "marralheiro", do espanhol marullero. Lembrei-me do Renan Calheiros. A definição está lá, no Aurélio: "que usa de astúcias para convencer ou iludir; manhoso, astuto, espertalhão, madraço, indolente, mandrião". Só faltou mesmo a definitiva: cara-de-pau. Acrescento. E tem outra: caradura.

8 de out. de 2007

Artigo do Ferréz na FSP

Não vá o sapateiro além da chinela

Em seu artigo "Pensamentos em correria", na Folha de São Paulo, dia 8/10, em contraponto ao badalado artigo do Luciano Huck, ("Pensamentos quase póstumos", 1º/10), o Ferréz se ferrou ao fazer um comentário estapafúrdio sobre educação, referindo-se à falta de escolaridade do assaltante: "Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado?".
É impressionante como todo mundo se mete a palpitar sobre educação, como donos da verdade, repetindo o que ouvem por aí, sem questionar a veracidade dos fatos.
Primeiro que o grande entrave da nossa educação não é a aprovação, mas sim a cultura da repetência que se instalou na escola pública.
Segundo que, se a lei é nova, como diz o autor, como o jovem assaltante já foi atingido pela lei e deixado de estudar por causa dela?
Terceiro que, estatisticamente, os alunos carentes se evadem da escola, não por serem aprovados, mas sim pela repetência em excesso.
Aplica-se, então, ao artigo do Ferréz, o conhecido e sábio ditado: "Não vá o sapateiro além da chinela".

7 de out. de 2007

  • Site Recomeço
    Atualização com a edição 135 do jornal Recomeço impresso, mês de setembro. O site contém fax-simile de todas as edições do jornal Recomeço desde o início da publicação, em junho de 2001. É só clicar no "Edições anteriores". Leia

Luciano Huck descobre a violência

Luciano Huck só agora, quando poderiam ser seus próprios filhos, descobriu a tragédia dos órfãos brasileiros

Luciano Huck conta em artigo no jornal que "quase" foi morto num assalto. E então se dá conta, pela primeira vez, com o que acontece quando um homem, pai de família, é morto precocemente pela violência, e cita a mais trágica das consequências: "não ver os seus filhos crescerem". Estranho que o Luciano só agora resolva se manifestar sobre uma tragédia que se abate sobre milhares de outros filhos de brasileiros que perdem suas vidas nos morros, nas periferias, nas prisões, todos os dias no Brasil. E nem portavam um relógio Rolex como o apresentador. Morrem, assim, à toa, porque são pobres, negros, simplesmente sucata humana.
Num ponto, o autor está certíssimo: sua morte sairia no jornal Nacional e mobilizaria, durante umas boas semanas, a imprensa, a polícia, a sociedade através de seus grupos de movimentos para a paz. E, certamente, seus assassinos seriam encontrados rapidinho, apresentados à imprensa e condenados pela justiça sempre tão cega, surda e lenta quando as vítimas são "gentalha", como diz dona Florinda, no seriado Chaves.

Transcrevo a opinião de MAURO ALVES DA SILVA*, sobre o patético artigo do apresentador da Globo, Luciano Huck, publicado na Folha de São Paulo (01/10/07) com o título "Pensamentos quase póstumos" (transcrito abaixo):


"Somos solidários a todas as vítimas da violência. Mas não podemos deixar de registrar nossa indignação quando uma personalidade pública faz apologia à violência e à tortura. No artigo 'Pensamentos quase póstumos', o apresentador Luciano Huck pergunta: 'Onde está a polícia'? Onde está a 'Elite da Tropa'? Quem sabe até a 'Tropa de Elite'! 'Chamem o comandante Nascimento!'.
Ora, tanto o livro quanto o filme (ficção em forma de documentário) mostram uma polícia brasileira corrupta, torturadora e assassina. Mas, como todo grupo de fanáticos, que se dizem iluminados pela divindade, eles escolheram um lado: proteger a 'elite econômica', os 'mauricinhos' e as 'patricinhas' que financiam o tráfico de drogas.
Para os outros (pobres, os pretos, as prostitutas, os 'di menor', os favelados etc.), justamente aqueles que não têm direito à infância e à educação, a elite econômica apóia uma 'tropa de fanáticos' para jogar nossa juventude na Febem, na cadeia ou na vala comum dos cemitérios públicos."

* Presidente do Grêmio SER Sudeste - Promoção da Cidadania e Defesa do Consumidor (São Paulo, SP)
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Pensamentos quase póstumos
LUCIANO HUCK

Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do 'Jornal Nacional' de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a 'Elite da Tropa'? Quem sabe até a 'Tropa de Elite'! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase 'infantis' para uma sociedade moderna e justa
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de 'extraterrestres' fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no 'Roda Vida' da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, 'Tropa de Elite' é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: 'Cansei'. O Lobão canta: 'Peidei'.
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.
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LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa 'Caldeirão do Huck', na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias