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18 de jan. de 2009

Henry Miller



"Deixemos de enganar uns aos outros, deixemos de julgar e condenar, deixemos de nos assassinar uns aos outros."

“Sou um patriota... do 14º Distrito, Brooklyn, onde cresci. O resto dos Estados Unidos não existe para mim a não ser como idéia, história ou literatura.
Mas nasci na rua e cresci na rua.
Nascer na rua significava vagabundear toda a vida, ser livre implica em acidentes, algo dramático, movimentado, e acima de tudo, significa sonhos.
Os rapazes a quem se admira quando vai pela primeira vez à rua permanecem juntos toda a vida.
São os únicos heróis reais. Napoleão, Lênim, Al Capone... são fictícios.
Para mim, Napoleão não é nada comparado com Eddie Carney, que foi o primeiro a me dar um soco no olho.
Nenhum homem que conheci me pareceu tão principesco, tão régio, tão nobre como Lestes Reardon que, pelo simples fato de passar na rua, inspirava medo e admiração.
Júlio Verne jamais me conduziu aos lugares que Stanley Borowski tirava da manga do paletó quando a noite caía.
Robson Crusoé não tinha imaginação comparada com Johnny Paul. Todos esses rapazes do 14º Distrito expeliam um odor especial.
Não eram inventados nem imaginados, mas reais.
Assim como outros recordam de sua juventude um lindo jardim, uma mãe carinhosa, uma estação de veraneio, eu recordo, tão vívidas como se houvessem ficado gravadas mediante a ação de um ácido, as sombrias paredes cobertas de fuligem e as chaminés da fundição de estanho situada diante da nossa casa, assim como as brilhantes e redondas chapas estendidas na rua, algumas brilhantes e resplandecentes, outras enferrujadas, opacas, cinzentas e que deixavam uma mancha nos dedos.

Estou orgulhoso desse fracasso tão grande, tão miserável; se eu tivesse triunfado, seria um monstro.

Deixemos de enganar uns aos outros, deixemos de julgar e condenar, deixemos de nos assassinar uns aos outros.

Como conhecer o esplendor e a plenitude da juventude se as energias são consumidas combatendo os erros e as falsidades de pais e ancestrais? Deve a juventude desperdiçar sua força tentando desprender-se do controle da morte? A única missão da juventude na terra será rebelar-se, destruir, assassinar?
Servirá a juventude apenas para ser ofertada em sacrifício? E os sonhos da juventude? Serão sempre considerados loucuras? Serão sempre habitados por quimeras? Os sonhos são os rebentos e botões da imaginação: também têm o direito de viver sua vida pura. Sufocar ou deformar os sonhos da juventude é destruir o criador.
Onde não houve verdadeira juventude não pode haver verdadeira idade adulta.
Se a sociedade veio a parecer uma coleção de deformidades, não é isso obra de nossos educadores e preceptores?
Hoje, como ontem, a juventude que queira viver sua própria vida não tem para onde se virar , onde viver a sua juventude, a não ser que, voltando ao casulo, vede todas as brechas e se enterre viva."
***
Fragmentos dos livros
Ensaio O Tempo dos Assassinos – Record Editora
Henry Miller - VIDA E OBRA - José Álvaro, editor

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