Um jovem negro foi morto por um segurança do banco Itaú em dezembro de 2006. O jovem era cliente do banco há 10 anos. Passados cerca de 8 meses, 18 de julho deste ano, a justiça absolveu o assassino. Disseram que agiu em legítima defesa. Mas, legítima defesa como, se a vítima estava desarmada e nem chegou a tocar no assassino?
Tenho alertado para uma cultura de "legalização" do assassinato neste país, ainda mais quando as vítimas são negros ou pobres. Há um salvo-conduto para matar distribuído para toda a sociedade brasileira. Sendo "primários", todos podem matar uma vez. Na segunda vez, pode ser que a justiça retire o salvo-conduto. Vai depender do status do assassino. Vejamos mais esta infâmia da (in) justiça brasileira.
Tenho alertado para uma cultura de "legalização" do assassinato neste país, ainda mais quando as vítimas são negros ou pobres. Há um salvo-conduto para matar distribuído para toda a sociedade brasileira. Sendo "primários", todos podem matar uma vez. Na segunda vez, pode ser que a justiça retire o salvo-conduto. Vai depender do status do assassino. Vejamos mais esta infâmia da (in) justiça brasileira.
Rio – Na carta lançada pela família do jornaleiro assassinado dentro da agência do Itaú , o tom é de dor e revolta pela impunidade. A família ainda não se conforma do porque os sete jurados do Conselho de Sentença – cinco homens e duas mulheres – todos brancos – declararam a inocência do segurança, alegando legítima defesa. “Esta foi a segunda morte do meu irmão”, contou Magna.
Veja, na íntegra, a Carta ao Brasil
CARTA ABERTA AO BRASIL
De: jonaseduardo@ brasil.com. br
Para: povobrasileiro@ brasil.com. br
Cc:bancoitau@ brasil.com. br
protegeempresadesegurança@brasil. com.br
Durante a minha vida não tive bens, nem posses. Tive apenas um valioso e inestimável patrimônio: a educação recebida dos meus pais – Antonio Salvador e Manoela Paula dos Santos - o amor deles e dos meus irmãos, minha família, e a amizade e o respeito dos amigos que me conheceram mais de perto.
Era, o que já virou definição para os que não nasceram em berço de ouro: um sem-bens, além dos arrolados acima, coisa que banco nem dinheiro nenhum podem comprar.
Neste dia 27 de agosto estaria completando 33 anos. Não terei meu jantar surpresa feito pela minha querida mãe, que tem por hábito fazer para todos os filhos. Não poderei mais comer do meu bolo de chocolate com recheio de coco e todos aqueles morangos que ela colocava em cima, junto com as minhas trinta e três velas.
De mim sempre disseram ter índole pacífica, como de fato nunca me envolvi em qualquer conflito, nem mesmo em briga de rua nos tempos de moleque. Passagem pela Polícia, nem pensar. Meus pais sempre me ensinaram a respeitar o alheio e a fazer o bem.
Era, portanto, como milhões de outros brasileiros, que vivem para o trabalho e para a família. Até que, no dia 22 de dezembro de 2.006, quase às vésperas do Natal, ao entrar numa agência do Banco Itaú, da qual era cliente havia 10 anos, perdi minha vida.
Fui brutal e friamente assassinado, em pleno centro do Rio de Janeiro, depois de sofrer as humilhações a que são submetidos, costumeiramente, as pessoas que como eu, que carregam desde o dia em que nasceram o estigma de suspeitas por serem negras.
Primeiro, fui barrado na porta giratória, essa espécie de blitz adotada pelos bancos, acionadas, - agora sei -, por controle manual; ao contrário do que divulgam, são os seguranças contratados – um dos quais disparou em mim – os responsáveis pelo seu controle.
Naquele dia, o segurança Natalício Marins, que há algum tempo demonstrava aberta antipatia a mim, exagerou: quase me obrigou a me despir; humilhou-me o quanto pôde e só consegui entrar porque a gerência do banco intercedeu.Numa situação como essa, quem não fica nervoso, quem não perde a calma? Fui cobrar explicações, mas nem para isso tive tempo. Um tiro certeiro disparado à queima roupa me atingiu em cheio no peito. Só tive tempo de ver que o mundo girava em volta e que pessoas gritavam e corriam apressadas. Caí para nunca mais me levantar e fiquei lá mesmo dentro da agência, enquanto o assassino fugia.
Acompanhei de onde estou a dor dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus amigos. Minha mãe e o meu pai – já bastante debilitados pela idade e pelos sofrimentos de uma vida difícil -, os meus irmãos Josias, Júlio, Josué, Magna, Marizia e Genaina foram os que mais sofreram.Nunca mais serão os mesmos. Sou testemunha da dor que carregarão para sempre, e que será sempre lembrada pela minha ausência. Ver um ente querido, um irmão que agente viu crescer assassinado por nada, por um motivo fútil, na porta de um banco no qual deveria estar seguro, é muito forte para qualquer pessoa.
O pior, porém, estava por vir. Passados cerca de 8 meses, no dia 18 de julho deste ano, aconteceu o julgamento do crime e, para surpresa de todos, o Conselho de Sentença absolveu o assassino. Sim, é isso mesmo! O homem que tirou a minha vida foi, simplesmente, declarado inocente. Disseram que agiu em legítima defesa. Mas, legítima defesa de quem, se eu estava desarmado e nem cheguei a tocá-lo?
Esse julgamento, na verdade, me julgou e me decretou essa segunda morte, que, creiam, é o que mais me dói porque não matam com isso só a mim, que já estou do lado de cá. Matam a esperança de todas as pessoas que ainda acreditam na Justiça. Se essa morte vier a ser confirmada será a descrença total na Justiça desse país, já bastante abalada, como se sabe.Os membros do Tribunal do Júri – influenciados pelo poder do Itaú (segundo soube pelos jornais teve um lucro médio superior a R$ 4 bilhões só nos primeiros seis meses deste ano), deram um salvo conduto, um passe livre, para que qualquer segurança de banco passe a executar pessoas – com as quais não simpatize – depois de submetê-las aos constrangimentos das portas-giratórias, como foi o meu caso.
Este julgamento, que é a consagração da impunidade e da injustiça no país precisa ser anulado e novo julgamento terá de acontecer, para que – meus pais, irmãos, minha família, meus amigos – possam, ao menos ter o consolo de seguirem com suas vidas, com toda a dor que carregam, mas em paz, por terem visto Justiça.
O Brasil não pode ser o país da impunidade e da injustiça. Não pode ser um país em que um homem honrado pode ser assassinado friamente e o seu assassino volte pra casa e ainda seja declarado inocente, como se tivesse abatido um animal feroz.
De onde estou só peço aos meus pais, irmãos, a minha família e aos amigos: pelo amor de Deus, não esmoreçam. Não descansem um minuto sequer. Levantem a voz, em todos os momentos, em todos os lugares, em todas as circunstâncias – para qualquer um que ainda não tenha perdido a capacidade de se indignar com a injustiça.Já que não puderam impedir a primeira, não deixem que essa segunda morte, se confirme! Sempre acreditei na Justiça. Um dos meus sonhos era fazer Direito. Atingiram o meu corpo, mas o meu espírito, a minha dignidade, esses continuam intocáveis. E de onde estou, quero poder acreditar que a Justiça será feita!Do lado de cá, contem sempre com o meu carinho, o meu amor e a minha força!
ASSINADO: JONAS EDUARDO SANTOS DE SOUZA
QUEREMOS JUSTIÇA POR JONAS!
1 – Que seja realizado novo julgamento onde prevaleça a Justiça e não a impunidade!
2 – Que o assassino seja condenado!
3 - Que cessem as humilhações das portas giratórias contra aquelas que são sempre, injustamente, olhadas como suspeitos preferenciais – as pessoas negras!
COMITÊ JUSTIÇA POR JONAS!
(Pai, Mãe, Irmãos, Irmãs, Parentes e Amigos de Jonas)
Transcrito do blog Palavra Sinistra
Transcrito do blog Palavra Sinistra
Estou adorando o seu blog. Textos excelentes, qualidade nota 10.Parabéns
ResponderExcluirOi Glória,
ResponderExcluirÉ inacreditável que isso tenha acontecido. Eu lembro desse caso que me causou grande indignação. Talvez o próprio Itaú esteja "colaborando" já que a condenação do assassino, caso ocorra, significará responsabilidades para o Banco perante a família de Jonas. É uma covardia em cima da outra. É uma vergonha!!
Leio uma notícia dessa e custo a crer... cena surrealista. É preciso exigir responsabilidades sim. É revoltante!
ResponderExcluirQue passagens tristes, meu Deus, que vergonha...
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