Gilmar da Silva Faria*
“Vamos citar Renan Calheiros, se fosse um pobre como nós e sem influência já tinha sido condenado a mais de 20 anos de prisão, e, no entanto, ele nem sequer foi afastado da cadeira de Presidente do Senado.”
Senhores leitores, o mundo aqui, no qual nós detentos vivemos, não é um mundo muito diferente do qual a sociedade vive aí fora. Há muitas regras e leis, há aqui o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve, é igual aí fora.
Como aí, também existem leis. Quando estamos na liberdade física, não sendo diferente da chamada sociedade até mesmo porque nós fazemos parte dela, nós não damos muito valor a estas leis, assim como o resto da sociedade também não dá. Porque, na verdade, nós estamos falando de um só assunto que é a sociedade. Sociedade é o mundo inteiro o qual se encontra em liberdade e são consideradas pessoas de bem, usufruindo o direito de ir e vir.
Eu gostaria de dizer que me considero um Socialista, porque na verdade é o que sou. Eu gostaria que a sociedade não tivesse tanta discriminação contra os prisioneiros chamados detentos, até mesmo porque, hoje, na verdade, o sistema prisional contribui para esta situação.
Ele contribui com uma verdadeira escola para o mundo do crime, ele não oferece ocupações lícitas para os detentos. Aqui, como em qualquer presídio e cadeia, é uma escola, vai muito da índole de cada um, cada um aprende o que quer.
Como eu disse antes, aqui não é diferente lá de fora, até mesmo nas escolas. Na escola, alguns alunos são bons em Matemática, outros em Ciências, outros em Geografia, outros em Inglês e muitos pulam os muros das escolas, outros saem na hora do recreio e não retornam mais para a aula, contrariando seus pais. E muitas das vezes os pais não sabem dos acontecidos e, quando sabem, não aceitam que o filho não estude e tomam uma decisão radical colocando-os em um “internato”, lugar onde você sem estudo nenhum sai sabendo mais do que devia. Ainda bem que alguns alunos não aprendem, mesmo estando nesses “internatos’. Eles conseguem se esgueirar pelos corredores da vida, faltarem às aulas e não aprendem mais um capítulo do crime. É uma pena que só uma minoria que consegue realizar esta façanha”.
A gente aqui tem que contar muito com a ajuda de Deus para aprender a discernir o que devemos e o que não devemos, porque, na verdade, a maior parte da sociedade não se importa com a gente, muito por não saber o que realmente se passa dentro de um presídio.
Eu peço à sociedade que abra os olhos para a realidade porque ninguém está livre deste lugar. Você aí fora pode estar dando uma carona em seu carro, pode acontecer um acidente e matar uma pessoa, e mesmo você fazendo o bem pode acabar neste lugar. Porque é isso que acontece: as leis eram para ser iguais para todos, mas infelizmente não são. As leis são dois pesos e duas medidas, de acordo com o sentenciado. Eu posso afirmar isso.
Pois já aconteceu comigo também. Já vi um interno ser acusado de atirar contra uma pessoa, mas nem a vítima pôde afirmar que foi esta pessoa, e ela está presa aguardando julgamento durante três anos para, no final, ser condenado a, no mínimo, 12 anos de prisão. Assim como também já sei de uma pessoa matar um, ferir outro, e ficar 15 dias preso e ir embora. Quero que saibam que não estou dizendo que quem foi não deveria ir, mas sim que quem ficou, não deveria estar.
A justiça muitas vezes faz um criminoso, dependendo da sua revolta, com as injustiças que ela faz. Quem realmente é culpado não se revolta porque na verdade esta pessoa tem consciência do que fez. Mas, e quem não fez? Só Deus no coração.
Gostaríamos que a sociedade soubesse que nós temos consciência de que estamos pagando pena para alguém da alta sociedade, os quais nem mesmo podem ser presos pela polícia comum, tem que ser uma polícia especial.
Irmãos, como já disse, as leis são variadas de acordo com o suposto réu. Nós mesmos estamos cansados de acompanhar pela televisão, vamos citar o senador Renam Calheiros, não vamos nem falar do que ele está sendo acusado, porque na verdade são tantas coisas, mais vamos falar só da quantidade de notas frias que ele já apresentou. Se fosse um pobre como nós e sem influência já tinha sido condenado a mais de 20 anos de prisão, e, no entanto, ele nem sequer foi afastado da cadeira de Presidente do Senado.
Cadê o Marcos Valério, cadê o deputado Roberto Jéferson, cadê as CPIs dos correios? Nada disso existe mais e o fim do Senador Calheiros, nós já sabemos qual vai ser.
O único bem sucedido que eu vi pagando cadeia foi o Belo. Coitado, na verdade foi um bode expiatório, mas ele teve a infelicidade de não acontecer nada recente. Como agora o avião da TAM caiu, enquanto a sociedade sofre, muitos estão mais tranqüilos, os holofotes estão virados para o outro lado e as falcatruas sendo esquecidas. A sociedade tem que entender que esse dinheiro que está sendo roubado seria para contribuição de um Brasil melhor e ajudaria muito na educação de nossos filhos.
Vocês, leitores, podem tirar suas próprias conclusões, um pobre quando faz, entra com um hábeas corpus e demora 90 dias para ser julgado, o do rico é julgado com dois dias ou até menos, muitas vezes sai da prisão até mesmo na madrugada. Não estou dizendo que não está certa, mas quando um pobre vai à padaria e rouba um pão para seus filhos, ele é ladrão e vai preso. Quando é rico que faz isso, a justiça diz que ele é doente e dá o nome da doença de Cleptomania. Um exemplo é o caso do roubo das gravatas e vasos, ai eles pegam um microfone, pedem desculpas e fica tudo certo. Mas o pobre vai para a cadeia e seus filhos para as ruas.
Agradecimento
Senhores, também tenho que agradecer a boa parte dos senhores leitores do jornal Recomeço, sei que muitos estão junto com a gente aqui. Sem este espaço para nos pronunciarmos, ficaríamos mais isolados, sem poder desabafar e tentar pensar em ajudar a construir um mundo melhor.
Também quero agradecer a Irmã Beth que tem feito um trabalho sensacional conosco, com os internos de ressocialização. Além de tudo, fazendo a gente se sentir humano e recuperando a nossa auto-estima. Desde já agradeço este espaço cedido. Muito Obrigado.
Como aí, também existem leis. Quando estamos na liberdade física, não sendo diferente da chamada sociedade até mesmo porque nós fazemos parte dela, nós não damos muito valor a estas leis, assim como o resto da sociedade também não dá. Porque, na verdade, nós estamos falando de um só assunto que é a sociedade. Sociedade é o mundo inteiro o qual se encontra em liberdade e são consideradas pessoas de bem, usufruindo o direito de ir e vir.
Eu gostaria de dizer que me considero um Socialista, porque na verdade é o que sou. Eu gostaria que a sociedade não tivesse tanta discriminação contra os prisioneiros chamados detentos, até mesmo porque, hoje, na verdade, o sistema prisional contribui para esta situação.
Ele contribui com uma verdadeira escola para o mundo do crime, ele não oferece ocupações lícitas para os detentos. Aqui, como em qualquer presídio e cadeia, é uma escola, vai muito da índole de cada um, cada um aprende o que quer.
Como eu disse antes, aqui não é diferente lá de fora, até mesmo nas escolas. Na escola, alguns alunos são bons em Matemática, outros em Ciências, outros em Geografia, outros em Inglês e muitos pulam os muros das escolas, outros saem na hora do recreio e não retornam mais para a aula, contrariando seus pais. E muitas das vezes os pais não sabem dos acontecidos e, quando sabem, não aceitam que o filho não estude e tomam uma decisão radical colocando-os em um “internato”, lugar onde você sem estudo nenhum sai sabendo mais do que devia. Ainda bem que alguns alunos não aprendem, mesmo estando nesses “internatos’. Eles conseguem se esgueirar pelos corredores da vida, faltarem às aulas e não aprendem mais um capítulo do crime. É uma pena que só uma minoria que consegue realizar esta façanha”.
A gente aqui tem que contar muito com a ajuda de Deus para aprender a discernir o que devemos e o que não devemos, porque, na verdade, a maior parte da sociedade não se importa com a gente, muito por não saber o que realmente se passa dentro de um presídio.
Eu peço à sociedade que abra os olhos para a realidade porque ninguém está livre deste lugar. Você aí fora pode estar dando uma carona em seu carro, pode acontecer um acidente e matar uma pessoa, e mesmo você fazendo o bem pode acabar neste lugar. Porque é isso que acontece: as leis eram para ser iguais para todos, mas infelizmente não são. As leis são dois pesos e duas medidas, de acordo com o sentenciado. Eu posso afirmar isso.
Pois já aconteceu comigo também. Já vi um interno ser acusado de atirar contra uma pessoa, mas nem a vítima pôde afirmar que foi esta pessoa, e ela está presa aguardando julgamento durante três anos para, no final, ser condenado a, no mínimo, 12 anos de prisão. Assim como também já sei de uma pessoa matar um, ferir outro, e ficar 15 dias preso e ir embora. Quero que saibam que não estou dizendo que quem foi não deveria ir, mas sim que quem ficou, não deveria estar.
A justiça muitas vezes faz um criminoso, dependendo da sua revolta, com as injustiças que ela faz. Quem realmente é culpado não se revolta porque na verdade esta pessoa tem consciência do que fez. Mas, e quem não fez? Só Deus no coração.
Gostaríamos que a sociedade soubesse que nós temos consciência de que estamos pagando pena para alguém da alta sociedade, os quais nem mesmo podem ser presos pela polícia comum, tem que ser uma polícia especial.
Irmãos, como já disse, as leis são variadas de acordo com o suposto réu. Nós mesmos estamos cansados de acompanhar pela televisão, vamos citar o senador Renam Calheiros, não vamos nem falar do que ele está sendo acusado, porque na verdade são tantas coisas, mais vamos falar só da quantidade de notas frias que ele já apresentou. Se fosse um pobre como nós e sem influência já tinha sido condenado a mais de 20 anos de prisão, e, no entanto, ele nem sequer foi afastado da cadeira de Presidente do Senado.
Cadê o Marcos Valério, cadê o deputado Roberto Jéferson, cadê as CPIs dos correios? Nada disso existe mais e o fim do Senador Calheiros, nós já sabemos qual vai ser.
O único bem sucedido que eu vi pagando cadeia foi o Belo. Coitado, na verdade foi um bode expiatório, mas ele teve a infelicidade de não acontecer nada recente. Como agora o avião da TAM caiu, enquanto a sociedade sofre, muitos estão mais tranqüilos, os holofotes estão virados para o outro lado e as falcatruas sendo esquecidas. A sociedade tem que entender que esse dinheiro que está sendo roubado seria para contribuição de um Brasil melhor e ajudaria muito na educação de nossos filhos.
Vocês, leitores, podem tirar suas próprias conclusões, um pobre quando faz, entra com um hábeas corpus e demora 90 dias para ser julgado, o do rico é julgado com dois dias ou até menos, muitas vezes sai da prisão até mesmo na madrugada. Não estou dizendo que não está certa, mas quando um pobre vai à padaria e rouba um pão para seus filhos, ele é ladrão e vai preso. Quando é rico que faz isso, a justiça diz que ele é doente e dá o nome da doença de Cleptomania. Um exemplo é o caso do roubo das gravatas e vasos, ai eles pegam um microfone, pedem desculpas e fica tudo certo. Mas o pobre vai para a cadeia e seus filhos para as ruas.
Agradecimento
Senhores, também tenho que agradecer a boa parte dos senhores leitores do jornal Recomeço, sei que muitos estão junto com a gente aqui. Sem este espaço para nos pronunciarmos, ficaríamos mais isolados, sem poder desabafar e tentar pensar em ajudar a construir um mundo melhor.
Também quero agradecer a Irmã Beth que tem feito um trabalho sensacional conosco, com os internos de ressocialização. Além de tudo, fazendo a gente se sentir humano e recuperando a nossa auto-estima. Desde já agradeço este espaço cedido. Muito Obrigado.
*Recuperando de Cataguases-MG - Jornal Recomeço, edição 134
Obrigado pela visita e PARABÉNS PELO BLOG!
ResponderExcluirÉ um BLOG Utilidade pública, com informações intrigantes e importantes!
Uma bela iniciativa! Muito respeitoso!
Parabéns pelo trabalho e que ele dê bons frutos.
Obrigada, Leonardo. Foi uma alegria a sua visita. Um abraço.
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