A professora que incomodou a Justiça
Coluna - Ruth de Aquino
Edição 513 - 17 de Março de 2008
O crime de uma professora aposentada foi escrever contra as péssimas condições de uma cadeia pública mineira.
Coluna - Ruth de Aquino
Edição 513 - 17 de Março de 2008
O crime de uma professora aposentada foi escrever contra as péssimas condições de uma cadeia pública mineira.
Poucos a conheciam até que ela foi condenada a quatro meses de prisão por difamar um juiz. Maria da Glória Costa Reis é uma daquelas pessoas melhores que nós. Professora estadual aposentada, Glória se dedica a atender, como voluntária, "adolescentes em situação de risco social". E edita desde 2001 um pequeno jornal em que os presos de Leopoldina, Minas Gerais, escrevem artigos. O crime de Glória foi escrever um editorial contra as péssimas condições da cadeia pública da cidade e a negligência de juízes e advogados.
A professora, de 63 anos, magra, 1,65 metro e pouco vaidosa, com óculos de aro grande e forte senso de justiça, nunca imaginou que os 200 exemplares do jornal Recomeço pudessem incomodar tanto. Ela ganhou súbita fama, por obra de dois juízes. O juiz José Alfredo Jünger de Souza Vieira a processou, sentindo-se caluniado.
O detalhe é que Glória não acusou ninguém no editorial, publicado em 2005. O doutor Vieira vestiu a carapuça. A professora escreveu: "Não é aceitável a conivência de magistrados, fiscais da lei, advogados, enfim, operadores do Direito, com tamanha barbárie". Ela denunciava a violação, em Leopoldina, de direitos fundamentais dos detentos. Como a falta de banho de sol.
O detalhe é que Glória não acusou ninguém no editorial, publicado em 2005. O doutor Vieira vestiu a carapuça. A professora escreveu: "Não é aceitável a conivência de magistrados, fiscais da lei, advogados, enfim, operadores do Direito, com tamanha barbárie". Ela denunciava a violação, em Leopoldina, de direitos fundamentais dos detentos. Como a falta de banho de sol.
O juiz Vieira, ex-titular da Vara Criminal e de Execução Penal em Leopoldina, abriu inquérito contra Glória. Há dois meses, a juíza Tânia Maria Elias Chain condenou a professora criminalmente por difamação, com base na Lei de Imprensa. Como Glória é ré primária, a pena foi convertida em prestação em dinheiro. Ela não irá para uma cela, mas se sente num labirinto. Já chorou de indignação e impotência. Como pode uma defensora de direitos humanos ser condenada pelo crime de denunciar violações de direitos humanos? O certo e urgente, num país civilizado, não seria investigar se a cadeia de Leopoldina desrespeita a Constituição?
Só mesmo citando Kafka, como faz a professora em seu blog:
Só mesmo citando Kafka, como faz a professora em seu blog:
"O que aconteceu comigo é apenas um caso isolado e não teria grande importância se não resumisse a maneira como se procede com muitos outros além de mim. É por eles que falo aqui, e não por mim" (trecho do livro O Processo, do escritor tcheco que viveu de 1883 a 1924).
O caso de Glória Reis já atravessou as fronteiras do país como exemplo de repressão à liberdade de expressão e abuso do Poder Judiciário.
A sociedade, de maneira geral, está pouco se lixando para o que acontece nas prisões. Motins costumam emocionar apenas as famílias dos detentos. É como se nós, do lado de fora, nada tivéssemos a ver com o inferno da superlotação e dos abusos. É um raciocínio equivocado. Todos pagamos essa conta.
A sociedade, de maneira geral, está pouco se lixando para o que acontece nas prisões. Motins costumam emocionar apenas as famílias dos detentos. É como se nós, do lado de fora, nada tivéssemos a ver com o inferno da superlotação e dos abusos. É um raciocínio equivocado. Todos pagamos essa conta.
Em agosto do ano passado, 25 presos morreram num incêndio na cadeia de Ponte Nova, em Minas, após uma rebelião. Morreram abraçados. Vários estavam ali irregularmente. Deputados da CPI Carcerária pediram, no mês passado, a interdição da cadeia de Contagem, também em Minas. Prevista para receber 18 presos, ampliada para 40, tem hoje 122 detentos. O deputado Domingos Dutra (PT-MA) resumiu o caos: "Eles dormem no chão e precisam fazer revezamento. Alguns dormem no banheiro. Não há banho de sol. O inferno parece suave diante disso". O presidente Lula admitiu em discurso recente o descalabro dos presídios. "Se porrada educasse as pessoas, bandido saía da cadeia santo", disse.
Isso quer dizer exatamente o quê, excelentíssimos juízes doutores José Alfredo Vieira e Tânia Chain? Que nossas cadeias estão bem e devemos encarcerar a professora?
Se eu fosse o governador Aécio Neves, convidaria Glória Reis para uma audiência, com direito a cafezinho e pão-de-queijo, e a trataria como bem merece. Como cidadã acima de qualquer suspeita.
Se eu fosse o governador Aécio Neves, convidaria Glória Reis para uma audiência, com direito a cafezinho e pão-de-queijo, e a trataria como bem merece. Como cidadã acima de qualquer suspeita.
::::::PARABÉNS PROFESSORA::::::::::
ResponderExcluir::VAMOS ACABAR COM ESSA BAIXARIA NO MAGISTRADO, EU TB FUI VÍTIMA DE UMA JUIZA DE DIREITO, QUE SENTENCIOU A "MINHA MÃE A PENA DE MORTE" E EU A PRISÃO PERPÉTUA, DIZEM QUE ISSO NÃO EXISTE AQUI NO BRASIL, MAS EXISTE SIM ACONTECEU COMIGO EM 2004, MINHA MÃE MORREU E A JUIZA CONTINUA FAZENDO O QUE ELA GOSTA. ::::MATAR, MATAR, MATAR, E SEMPRE MATAR:::: E TEM CUMPRICE TB O "MINISTÉRIO PÚBLICO" ACOMPANHADO DE OFICIAIS DE JUSTIÇA, QUE NEM SEQUER SABEM ESCREVER O SEU PRÓPRIO NOME:::: QUE SÃO UNS VERDADEIROS CARRASCOS :::::: VOU FINALIZAR PARA NÃO ME EMOCIONAR ALÉM DO QUE JÁ ESTOU ::::::
É inaceitável que no alvorecer de um novo milênio aqueles que deveriam aplicar a lei de forma eqüânime e justa travistam-se de déspotas e protegidos pelo Estado "Democrático (?) de Direito (?)" e suas cadeiras de altos espaldares condenem quem deveria ser laureado pelos esforços em prol das minorias. É sempre mais fácil acachapar o pequeno - e deixo claro que uso a palavra pequeno no sentido de pessoa comum - , do que atacar os "grandes" (?). Parabéns pela coragem, Professora, e pelo exemplo. Cito, Mário Quintana: Esses que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho". Gabriel Edler - Advogado
ResponderExcluirParabéns para colunista Ruth pela excelente matéria esclarecedora e a tempo sobre o este absurdo que aconteceu em Minas Gerais com a professora Maria da Glória Costa Reis.
ResponderExcluirEste é apenas mais um caso de vergonha nacional onde os fanfarrões continuam livres se divertindo enquanto uma pessoa de um coração infinito sofre nas mãos destes poderosos, que atuam de maneira insensata, agridem e humilham os direitos mais simples do ser humano.
Esta reportagem do jornal nacional e agora da revista época vieram em ótima hora e a tempo de denunciar toda esta PALHAÇADA que fizeram com esta professora defensora dos direitos humanos e com enorme senso de justiça. O que podemos esperar de um detento após o cumprimento da prisão em situação desrespeitosa dormindo no chão, sem banho de sol e etc.....????
E não para por ai a JUSTIÇA NO BRASIL É TOTALMENTE INJUSTA COM AS PESSOAS DE BEM!!! Volta e meia temos estampado nos noticiarios casos incriveis de INJUSTIÇA.
E AO MESMO TEMPO QUE ELA É INJUSTA COM PESSOAS DE BEM, ELA É CEGA E NULA COM OS MEDALHÕES.
Para que o BRASIL melhore temos que nos organizar e usarmos de todas as ferramentas que temos e denunciar todos os dias estes casos que depreciam nosso Pais e nosso povo já tão sofrido.
E para terminar imploro.... VAMOS DENUNCIAR QUALQUER ATO DE DESRESPEITO!!!!
VIVA A PROFESSORA MARIA DA GLÓRIA QUE TEVE E TEM ESTA FORÇA.
Abraços...
Rodrigo Anderson
Luiz Carlos
ResponderExcluirE um absurdo está magistrada, utilizar da Lei de sensura no século XXI, está mulher tem que se ponderar, pois ela não é Deus!!!Temos q nós unir contra este tipo de atitude!!!Estamos vivendo em um regime de Democracia!!!E esta magistra esta preticando ABUSO DE AUTORIDADE!!! Se Cria MAGISTRADA!!!!
Luiz Carlos (Ipatinga)
É muito triste o que aconteceu, num país onde se prega a liberdade de expressão, ser punido por expressar a dura realidade das prisões brasileira.
ResponderExcluirMuita força e paz professora Maria da Glória. Afinal são pessoas como a senhora que fazem toda a diferença em um país como o nosso.
Querida professora glória,
ResponderExcluirsoube da senhora através da crônica da Ruth de Aquino e me emocionei com o trabalho realizado pela senhora.
Eu e minha mãe também nos sensibilizamos com os nossos irmãos encarcerados que são tratados sem a menor dignidade, quando todos os seres humanos deveriam tê-la por direito.
Torcemos e oramos para que a senhora continue com o seu coração repleto de fé, coragem, esperança e amor.
A justiça dos homens muitas vezes falha, mas a de Deus jamais!
Um beijo grande no seu coração
Professora, continue a sua luta, que é de todos nós. A diferença é que tens coragem e não tens medo. Enquanto houver uma voz apenas e que não se cala, haverá sempre esperança. Esperança no amanhã. Não se cale nunca.
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