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8 de mar. de 2008

Luiz Flávio Gomes

Nossa barbárie prisional: Brasil rumo ao troféu mundial da violência

O Brasil, com seus métodos prisionais medievais, desumanos e cruéis e sua frouxidão punitiva frente aos corruptos e corruptores, continua firme na sua “aguerrida batalha” pela conquista do título de campeão mundial da violência e da corrupção.No que diz respeito ao item violência, diante de tudo quanto foi noticiado sobre nossos presídios nos últimos tempos, pode-se prognosticar: ele vai chegar lá!
Já são 507 anos de atrocidades (ou melhor: de “investimento público” nas carreiras criminais dos excluídos e desdentados). Não se constrói um país violento e corrupto da noite para o dia. Nem a inércia por si só conta com força suficiente para isso.Em outras palavras: a conquista de um título (sobretudo quando mundial), ainda que nada honroso, exige muito esforço. É preciso agir e impor em todo momento a cultura da violência e da corrupção. O inimigo do sistema penal colonial e senzaleiro (cf. Carlos Guilherme Mota, em O Estado de S. Paulo , 9/12/07, p. J4) é um ser execrável e “mortável” (pode ser executado em qualquer momento, porque não é uma pessoa que exerça direitos, sim, uma coisa). Aliás, quanto mais “limpeza” se faz, mais pontos o Brasil conquista em sua “desenfreada corrida” no campeonato acima referido.
Em 1989, no 42º DP em São Paulo, 18 presos foram barbaramente asfixiados por policiais. Em 1992, na Casa de Detenção em São Paulo, 111 foram brutalmente executados. No ano 2000, 13 foram assassinados no presídio Mata Grande em Rondonópolis (MT). Em 2002, no presídio Urso Branco (RO) 27 foram mortos. Outros 30 foram mortos em 2004 na Casa de Custódia de Benfica (RJ). Em 2007, na Cadeia Pública de Ponte Nova (MG), mais 25 mortos. Em 2008 mais oito mortos na cadeia pública de Rio Piracicaba (MG) e assim por diante.
Mulheres acham-se mescladas com homens. Menores estão amontoados com adultos. Uma menor pode ser estuprada seis vezes por dia, durante um mês (e nada acontece). Um menor pode receber choques da polícia até morrer. Ninguém é preso por isso. Onde não há vaga, acorrenta-se o preso (como se fez em Palhoça - SC) e já está!
Tanta carnificina e desumanidade não pode ser fruto de “erros freqüentes” (como sublinhou Fernando Salla, em O Estado de S. Paulo , 9/12/07, p. J5). Essa violência ocorre dentro de um território que deveria ser administrado exclusivamente pelo Estado mas não o é, porque agora conta com a concorrência dos grupos organizados. Além disso, conta com a ação ou omissão das autoridades responsáveis pelo setor assim como com a conivência de grande parte da sociedade brasileira.
Desde o descobrimento do Brasil tudo se faz, sobretudo nos estabelecimentos que recolhem pessoas privadas da liberdade, em favor da violência, das atrocidades e da crueldade. Falta lei? Não. Leis existem. O que não existe é consciência de que devem ser cumpridas, respeitadas.
O horror dos presídios brasileiros historicamente só é denunciado (e gera certa sensibilidade) quando gente graúda nele é recolhida. Isso ocorreu, por exemplo, na Inconfidência Mineira, na Revolta dos Alfaiates, na ditadura militar, bem como nas recentes operações da Polícia Federal.Num país de tradição hierarquizada, o presídio (que só recolhe gente das subclasses, os “desqualificados”) é a última coisa com que sua camada dirigente “estamental, escravagista, colonial, senzaleira e tendencialmente corrupta” vai se preocupar. Afinal, não estamos falando de gente (cidadãos com direitos), mas sim de coisas, que ostentam hoje condições piores que no tempo da escravidão.Pelo menos naquela época havia preocupação com a mão-de-obra que o escravo prestava. No tempo do Estado Novo o jurista Sobral Pinto conseguiu a soltura de Harry Berger invocando perante Getúlio Vargas as normas da Sociedade Protetora dos Animais. Os presos brasileiros hoje nem sequer essa proteção vêm recebendo.
“Governar é prender”, dizia Francisco Campos, que foi Ministro da Justiça durante o Estado Novo. Essa absurda “lição” continua mais atual que nunca. Um terço dos presidiários brasileiros que se encontram recolhidos em presídios (120 mil) não tem sentença definitiva ( Folha de S. Paulo , 25/12/07, p. C1). São presos provisórios.O Brasil hoje já conta com 420 mil presos. Em cadeias públicas acham-se amontoados cerca de 60 mil (todos também provisórios). Isso significa que cerca de 40% dos presos ainda não foram condenados. Muitos são inocentes e serão absolvidos, mas já estão “cursando” as “faculdades do crime” que são os cárceres brasileiros.
Com todo esse “esforço” prisional estratégico, de lotar nossos estabelecimentos penitenciários com gente desdentada, analfabeta, etc, preparando-os para o futuro consistente em matar ou morrer, haveremos de conquistar o título tão cobiçado: campeão mundial da violência e da corrupção. Chegaremos lá!
Winston Churchill disse que os métodos penais de uma sociedade são o índice e medida do seu grau de civilização. Dostoiévski, por seu turno, afirmou: os standards de civilização de uma nação podem ser aferidos quando abrimos as portas das suas prisões. Pelo critério que acaba de ser exposto, o Brasil não é nada civilizado.Os presídios, incluindo os brasileiros, não têm nada de falência ou de fracasso (Foucault). Em muitos países eles foram feitos para delimitar certa forma de delinqüência, ainda que mediante violência e corrupção. Logo, vêm cumprindo fielmente suas finalidades ocultas. É dessa forma que o Brasil vai se transformando num forte candidato ao título acima anunciado.
Luiz Flávio Gomes -Doutor em Direito penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri, Mestre em Direito penal pela USP, Secretário-Geral do IPAN (Instituto Panamericano de Política Criminal), Consultor e Parecerista e Diretor-Presidente da Rede de Ensino IELF-LFG (1a Rede de Ensino Telepresencial da América Latina - Democratização do ensino em favor de todos - Pro Omnis - www.proomnis.com.br)

2 comentários:

  1. glória, acabei de ver isso e denuncio aqui, também. Já denunciei na comunidade do Orkut "Violência Policial é Crime!" http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=19398816:

    MORO EM SÃO LUIS, MARANHÃO, E ACABEI DE VER UMA CENA TERRÍVEL DA VARANDA DO MEU APARTAMENTO, NO SEXTO ANDAR: UM HOMEM TENTAVA ROUBAR ALGO, FORÇANDO UMA CERCA DE UM TERRENO EM FRENTE AO MEU PRÉDIO. HOMENS PASSAVAM EM UM CARRO CIVIL, PRETO, E UM DELES SAIU DO CARRO ARMADO. ISSO FOI AQUI, NO BAIRRO RENASCENÇA. UM DOS HOMENS APONTOU A ARMA PARA O HOMEM, QUE TINHA CONSEGUIDO ARRANCAR A PROTEÇÃO DA CERCA, E O FEZ ENTRAR NO CARRO. DAQUI DE CIMA EU GRITAVA QUE AQUILO ERA CRIME, QUE ELES DEVERIAM SE IDENTIFICAR, QUE ELE DEVERIA IR EM UM CARRO DA POLÍCIA, QUE EU IA DENUNCIAR, ETC. PEGUEI MINHA MÁQUINA FOTOGRÁFICA, MAS ESTAVA SEM BATERIA, NÃO CONSEGUI NADA. O HOMEM ARMADO OLHOU PRA MIM E GRITOU, DA PISTA, QUE EU DESCESSE PRA ROUBAR JUNTO COM O CARA "PRESO", QUE JÁ ESTAVA DENTRO DO CARRO. EM SEGUIDA, ELE ENTROU NO CARRO E O MOTORISTA ARRANCOU. NÃO SEI PARA ONDE LOEVARAM O CARA, NÃO SEI A PLACA DO CARRO (NÃO DEU PRA VER, ESTAVA MUITO LONGE), MAS DENUNCIO ISSO AQUI.

    SÃO 0h45 DO DIA 09 DE MARÇO DE 2008, DOMINGO, EM SÃO LUIS, MARANHÃO.

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  2. Maya, que bom que ainda existam pessoas que se indignam!

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