O deputado estadual Marcos Abraão, do PSL do Rio de Janeiro, subiu à tribuna no último dia 21 para atacar "esses idiotas da ONU, esse 'veadinho da ONU'", numa aparente referência a Philip Alston (foto à esquerda), o australiano que foi indicado pela Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas para investigar execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais. Alston é professor de Direito da Universidade de Nova York e já dirigiu um projeto relativo a direitos humanos na União Européia. Ao visitar o Rio de Janeiro, Alston condenou alguns métodos utilizados pela polícia carioca para enfrentar o crime.
Wikipedia
30 de nov. de 2007
Deputado chama relator da ONU de "veadinho"
O deputado estadual Marcos Abraão, do PSL do Rio de Janeiro, subiu à tribuna no último dia 21 para atacar "esses idiotas da ONU, esse 'veadinho da ONU'", numa aparente referência a Philip Alston (foto à esquerda), o australiano que foi indicado pela Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas para investigar execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais. Alston é professor de Direito da Universidade de Nova York e já dirigiu um projeto relativo a direitos humanos na União Européia. Ao visitar o Rio de Janeiro, Alston condenou alguns métodos utilizados pela polícia carioca para enfrentar o crime.
28 de nov. de 2007
Processo contra o Recomeço
Neste momento em que as pessoas se perguntam como foi possível a barbárie de uma adolescente mantida presa com homens numa cela no Pará, é hora da sociedade tomar conhecimento de como funciona a falta de transparência do Judiciário e mesmo a truculência e abuso de poder de alguns de seus membros, inclusive juízes de Direito, que deveriam ser exemplo de responsabilidade, urbanidade, imparcialidade e até mesmo de humildade na importante missão de julgar seres humanos.
Ano passado, divulguei aos meus leitores, amigos, e na internet, que estava sendo processada pelo juiz de Direito Dr. José Alfredo Junger de Souza Vieira, então titular da 3ª vara Criminal de Leopoldina, por ter publicado no jornal Recomeço, edição 117, as condições desumanas da cadeia pública de Leopoldina. O trecho que o juiz alega ser "ofensivo" é o seguinte:
“Não é aceitável a conivência de magistrados, fiscais da lei, advogados, enfim, operadores do Direito, com tamanha barbárie. O regime atual é um desrespeito à Constituição, à lei, aos cidadãos deste país, enfim, à nossa inteligência”.
Como difamar alguém sem nem citar o seu nome? Como considerar difamação denunciar irregularidades em uma instituição pública? Isso é dever de qualquer cidadão em pleno estado de Direito.
Meu objetivo foi chamar atenção das autoridades para a situação da cadeia, na qual os presos estavam há vários meses, além da condição normal de presos em jaulas, sem trabalho, sem saúde, sem lazer, sem material de limpeza e higiene, ainda mais castigados: sem sair da cela nem para um banho de sol e sem visitas (alegava-se uma tentativa de rebelião para o castigo). Esse "castigo" já vigorava 11 meses na época. Nesse período, os presos escreveram vários textos, nas edições mensais do jornal implorando por, pelo menos, um banho de sol diário, que até os condenados pelo regime RDD têm direito.
Pela LEP - lei de Execução Penal - art. 45 -"São vedadas as sanções coletivas" e Art. 58 -"O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta dias", ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado." Portanto, quem descumpriu a lei foi o juiz da Execução Penal, que aplicou pena coletiva e excedeu os 30 dias para onze meses. E só suspendeu o castigo, perto de completar um ano, porque denunciamos no jornal.
Desde 2005, já perdi a conta de quantas vezes fui chamada na polícia e compareci a audiências. No dia 14 deste mês, compareci a mais uma audiência, acho que a terceira, e me "ofereceram" uma transação penal, na qual está implícito que "cometi um crime". Disse à juíza que não aceitava, pois isso significa concordar com uma excrescência: chamar de crime o cumprimento do meu dever de cidadã de denunciar o descumprimeto da lei e a barbárie a que os presos estavam sendo submetidos. Além disso, estou sendo vítima de danos morais e físicos, agredida em minha dignidade e minha saúde, ofendida, e ainda tendo gastos com advogado. A juíza, na terceira audiência, alegou que isso não é ofensa. Deduzo que o judiciário foi feito para pessoas que não sentem vergonha, que não se indignam, que não têm senso de justiça, diante do fato de uma juíza considerar que passar por tudo isso não é ofensa.
Esclareço ainda que, antes de publicar no jornal, fui ao Fórum solicitar ao juiz que corrigisse a situação ilegal em que os presos se encontravam, que além do regime desumano e cruel, da superlotação, do castigo ilegal, havia vários detentos sem acompanhamento jurídico, sem ao menos informação de como estava a situação deles atrás das grades. O juiz me respondeu que havia muitos processos em suas mãos e que "não tinha tempo" para os presos. Eu aleguei para ele que preso era prioridade, uma vez que tirar a liberdade de uma pessoa deve ser a mais alta preocupação e responsabilidade de um juiz.
O mais estranho e patético deste processo é que o juiz, que alegou não ter tempo para cuidar dos seus deveres, teve tempo para me processar.
E muito grave: nesta última audiência a juíza, diante da minha negativa de aceitar a transação penal, disse que "era melhor eu aceitar porque ela nem lera o processo, mas que eu não tinha nenhuma possibilidade de ser absolvida , ou seja, ela pré-julgou, atitude que jamais poderia ser aceita num juiz. Naturalmente que ela fez um pré-julgamento em função do corporativismo, já que o meu acusador é um colega de classe.
O nº do processo é 038405039696-7, no TJMG, comarca de Leopoldina. O editorial pode ser lido no site do jornal Recomeço http://www.jornalrecomeco.com/, clicando no "Edições Anteriores", nº 117.
27 de nov. de 2007
Menina de Abaetetuba
Recomeço 137
Advogado morto no ES
O advogado Geraldo Gomes de Paula, de 63 anos, foi ao Departamento de Polícia Judiciária falar com um dos seis presos detidos numa operação policial no Bairro Alagoano, em Vitória. Horas depois, saía morto de uma UTI. Comando da PM diz que o advogado teria caído e batido a cabeça na parede dentro do DPJ de Vitória. De acordo com a PM, ele se negou a apresentar identificação e teria ofendido as autoridades. Foi dada voz de prisão ao advogado, mas ele teria resistido, de acordo com a versão da polícia, e recuado, desequilibrando-se e batendo a cabeça.
O tenente Rafael Bonicen, acusado como responsável pelo morte do advogado, já responde a outros cinco processos, de acordo com o Tribunal de Justiça, mas o comandante-geral da Polícia Militar no Espírito Santo, Antonio Carlos Coutinho, afirmou que não tomará qualquer atitude precipitada.
“Nós precisamos fazer alguma coisa contra essa violência da polícia. Eu mesmo já tive problemas com policiais. Eles estão cada vez mais truculentos.”
Advogado Marcos Antônio Gomes
“A morte do advogado Geraldo Gomes de Paula é mais uma manifestação de bestialidade do Estado policial, incompatível com o Estado democrático de direito. Este é um crime contra a cidadania, não pode e não vai ficar impune.”
Antônio Augusto Genelu Júnior - Presidente da OAB do Espírito Santo
Sistema penal genocida
26 de nov. de 2007
Juiz do Pará é afastado
Cela onde adolescente ficou com 20 homens
(TV RBA/Diário do Pará/Folha Imagem)
Foram afastados de suas funções todos os acusados de envolvimento no caso, como o policial que cuidava da carceragem, o delegado de plantão e o juiz da comarca, e um inquérito foi aberto para apurar responsabilidades. “Tem toda uma rede de pessoas que fizeram coisas erradas. Vamos ver se eles tomaram providências, e se não tomaram, pecaram por omissão”, disse a coordenadora da comissão para apurar o caso.
Comentário do Recomeço
Barbáries são rotina no sistema carcerário brasileiro. Hoje saiu no jornal Estado de Minas a morte de um advogado espancado até à morte, numa delegacia, em Vitória no espírito Santo. Diz a notícia: "O advogado Geraldo Gomes de Paula, de 63 anos, morreu no fim da manhã de ontem, após ter sofrido traumatismo craniano na quinta-feira, no Departamento de Polícia Judiciária de Vitória (ES). Ele estava em coma na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Lucas, na capital capixaba. Segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, o advogado passou por cirurgia neurológica sexta-feira. Geraldo Gomes se feriu ao se envolver em uma confusão com policiais militares. Segundo a primeira versão dos PMs, ele teria sofrido uma queda, mas familiares afirmam que os médicos que o atenderam teriam declarado ser impossível que uma queda causasse as múltiplas lesões que a vítima apresentava na cabeça."
Essa notícia absurda saiu lá no cantinho do jornal, sem nenhum destaque. E se já começam até a matar advogados, que se pressupõem pessoas que sabem se defenden, imaginem o restante da população.
No Brasil, não se tem o hábito ou a cultura de fiscalizar as instituições públicas. No geral, as ouvidorias funcionam mais como "surdorias'. Faz-se uma denúncia e, além de não ser ouvido (não é daí que vem ouvidoria?), ainda se corre o risco de sofrer processo, como aconteceu comigo ao denunciar que a cadeia de Leopoldina é uma barbárie. E acusada pelo próprio juiz, vejam o abuso de poder.
24 de nov. de 2007
Adolescente presa com homens
O sistema de segurança vai investigar com rigor todas as denúncias", disse a governadora, em nota publicada no site do governo.Há pelo menos 11 anos o Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC), entidade de defesa dos direitos da mulher, denuncia casos semelhantes no interior do Estado.Em março deste ano, segundo Elisety Maia, coordenadora do MMCC e integrante do Conselho Estadual da Mulher do Pará, ocorreu um outro caso de uma mulher presa na carceragem de Abaetetuba."Fizemos um requerimento colocando a situação ao Conselho Estadual da Mulher e apresentamos como solução a construção de uma delegacia da mulher no município e não houve providências", disse Maia.
Em 1996, o movimento denunciou o caso da presa Salma Simas, então com 40 anos, que dividiu uma cela com outros 35 homens durante sete meses.Simas, presa sob acusação de matar o marido, afirmou na época que foi estuprada diversas vezes na cadeia. Uma primeira sindicância aberta para apurar o caso foi arquivada. A justificativa para colocá-la na cela com os presos foi a mesma dada agora: a falta de cela para mulheres na delegacia. Ela foi inocentada do crime depois.
Eliana Fonseca, representante do MMCC no Conselho Estadual da Mulher do Pará, disse que nos últimos dez anos o movimento já denunciou casos semelhantes ao da menina de Abaetetuba ocorridos em Altamira, Tucuruí e até mesmo em Abaetetuba."O problema de mulher presa convivendo com homens no Pará não é de agora. Infelizmente teve que acontecer este caso com a adolescente para o problema vir à tona."
Ontem, em entrevista coletiva, a governadora se disse "indignada" com a prisão da adolescente e afirmou que o Estado vai averiguar com rigor as responsabilidades. Ela disse que irá investigar todos as denúncias que surgirem.
Menina sairá do Estado - Na madrugada de ontem, chegou a Belém do Pará missão da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligada à Presidência da República, chefiada pela advogada Márcia Ustra Soares, 42. Missão: retirar a menina e seus pais do Pará e colocá-los no serviço nacional de proteção a testemunhas, longe de potenciais agressores.A menina fez também um teste de gravidez para constatar se está esperando um filho. É possível que ela tenha engravidado na prisão. Ela disse ter sido estuprada pelos presos no período em que esteve detida.Resultado do exame da arcada dentária atestou que ela tem em torno de 15 anos. O teste foi feito para tirar a dúvida sobre a idade dela.
23 de nov. de 2007
Abaixo-assinado
(22/11/2007)
A divulgação que iniciamos a partir deste blog daquele vídeo da entrevista de Jô Soares com um taxista que trabalhou em Angola. Lembram? Aquele mesmo onde esse taxista abordava “a vida sexual angolana” e falou entre outras coisas que o “negro começa seu relacionamento sexual com garotas de 6, 7 anos e gosta de sentir as mulheres apertadas”. Pois então, aquela nossa divulgação já está tendo dois resultados objetivos para além da indignação. Acabo de receber um abaixo-assinado que está circulando na internet e será encaminhado para os ministros Tarso Genro, Nilcéia Freire e Matilde Ribeiro, como também para o Procurador Geral do Ministério Público do Rio de Janeiro. O abaixo-assinado solicita um pedido de desculpas da Rede Globo por ter transmitido aquele vídeo. Evidente que já o assinei. Sugiro que todos os leitores que como eu se indignaram com aquela estupidez façam o mesmo e divulguem o texto e o vídeo para sua lista de amigos. Quem não tiver assistido ao vídeo pode assisti-lo neste link.
Ilmo Sr, Ministro da Justiça, Tarso Genro Ilma Sra, Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro Ilma Sra, Secretária Especial de Políticas para Mulheres, Nilcéia Freire Ilmo Sr, Procurador-Geral do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro Nós, os abaixo-assinados, repudiamos o conteúdo exibido na programação da Rede Globo de Televisão, no dia 18 de Junho de 2007, durante o “Programa do Jô”, pedimos uma retratação deste veículo de comunicação pela violência simbólica perpetrada nas afirmações do programa e requeremos do Estado brasileiro a apuração da responsabilidade pelas ofensas reproduzidas. Nesse dia, no programa desse conhecido artista brasileiro foi entrevistado o senhor Ruy Morais e Castro. A entrevista realizada com humor expressou frases racistas metamorforseadas em piadas inocentes que eram abonadas pelos sorrisos e aplausos da platéia, como pode ser conferido no endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=ySWZXekdBkw Durante a reprodução do referido programa, o entrevistado, incitado pelo apresentador, deteve-se em apresentar detalhes do que denominaram “vida sexual angolana”. No relato que faz, vê-se a consagração da idéia de que África e os africanos representam uma civilização homogênea caracterizada pela inferioridade cultural e biológica, legitimando a mentalidade racista sustentada no argumento de que o continente africano, os países africanos, os povos africanos, em particular, a mulher africana são inferiores e que esta inferioridade pode ser comprovada por sua sexualidade animalesca. O constrangimento latente em cada uma das declarações exige uma ação estatal imediata. Não se pode esquecer que o Estado brasileiro assume publicamente o compromisso de promover e defender os direitos humanos do que é prova todas as convenções internacionais de que faz parte. Desde 1994, o Estado brasileiro como signatário da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como "Convenção de Belém do Pará" sabe que é função do Estado “incentivar os meios de comunicação a que formulem diretrizes adequadas de divulgação, que contribuam para a erradicação da violência contra a mulher em todas as suas formas e enalteçam o respeito pela dignidade da mulher”. Sabe também, enquanto signatário da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1968) , que “a doutrina da superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, e que não existe justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum”. E ratifica, de acordo com o caput da Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher , que é considerada violência psicológica e moral toda forma de constrangimento e ridicularização dirigido a alguém devido ao seu credo religioso, raça, gênero ou origem nacional. A entrevista exibida caminha na direção contrária da luta que, em diversos contextos e em distintas partes do mundo, povos de diferentes nacionalidades empreendem contra todos os tipos de opressão. Umas das questões a ser refletida na nossa sociedade global seria a seguinte: como os estereótipos racistas são reinventados em pleno século XXI? (Memmi, 1989/[1957]: 21, Babha, 2005: 105 - 128, Pinto, 1998: 168 - 210) O senhor Jô Soares e o Senhor Ruy Morais e Castro nos fornecem uma resposta como hipótese: os estereótipos racistas seriam reinventados pela mídia ao veicular atrações racistas como esta, do Programa do Jô. É óbvio que existem outras maneiras de se reinventar o racismo e/ou construir o racismo na sociedade contemporânea, contudo, o desserviço que o poder da mídia pode prestar é um fator considerável dado o seu papel de formadora de opinião. No caso em questão, o fato de a entrevista ter sido televisionada e o seu meio de difusão ter sido a Rede Globo, que detém há anos a maior audiência televisiva do Brasil e ampla exibição internacional, aumenta drasticamente as consequências lesivas das afirmações feitas e a necessidade de ação contra elas. O programa acima mencionado viola os direitos fundamentais expressos na Constituição Federal de 1988, as Convenções Internacionais de que o país é atualmente signatário e constrange toda a sociedade, como se não bastasse legitimar o ideário racista também acaba por propalar uma potente forma de apologia ao sexismo, à xenofobia e à pedofilia. Ridicularizando a diversidade cultural, uma das formas mais vis de que a cultura ocidental pode lançar mão para demonstrar sua suposta superioridade, as declarações feitas na entrevista erigem o androcentrismo como único ponto de vista, apresentando a raça negra como expressão do primitivo, do irracional e as mulheres negras como objetos meramente sexuais, onde o único comportamento “esperado”, independentemente de sua idade, é a promiscuidade e a subordinação de sua sexualidade ao desejo do homem.
21 de nov. de 2007
Fascismo escancarado
(Do secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrane, ao declarar que os traficantes estão se mudando para a Zona Sul para ficarem protegidos da polícia.)
"Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal."
(Do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, defendendo o aborto como forma de conter a violência na capital)
Como se vê, a política é de extermínio. Desde que não atinja ninguém em Copacabana, Ipanema, Leblon, etc, a polícia pode atirar à vontade, e quanto mais matar, mais eficientes são. Bem, como a lei da sobrevivência fala mais alto, os traficantes estão migrando para as favelas, perto dos bairros onde não se pode atirar. Os que estão na mira da execução sumária encontraram a saída. As classes privilegiadas não contavam com a astúcia da vida, não sabem que ela é mutante, dinâmica e criativa.
Quanto ao número de filhos padrão sueco, o governador poderia, sim, implantar nas favelas o padrão sueco, mas através da educação, da informação, de atenção à saúde da mulher, e não matando os filhos que nascem aos montes por falta de políticas públicas que propiciem às mulheres o próprio controle sobre sua fecundidade.
Uma pergunta que não pára de me atormentar: Como governantes e autoridades fazem declarações tão absurdas, fascistas e infames, e não são cobrados pela justiça?
Enquanto isso, sou processada por denunciar as condições da cadeia pública da minha cidade
Eu estou há dois anos respondendo a um processo infernal na justiça, já fui chamada à polícia várias vezes, já compareci a três audiências humilhantes, nas quais sou chamada de RÉ, de CRIMINOSA, ameaçada de condenação, porque escrevi num editorial do jornal Recomeço um alerta para as condições DESUMANAS na nossa cadeia pública, com as seguintes palavras:
“Não é aceitável a conivência de magistrados, fiscais da lei, advogados, enfim, operadores do Direito, com tamanha barbárie. O regime atual é um desrespeito à Constituição, à lei, aos cidadãos deste país, enfim, à nossa inteligência”.A minha declaração é de defesa da vida, contra o extermínio nas prisões, onde os presos são tratados como animais. Como vemos, o judiciário está mais para a defesa da morte do que da vida.
A lição do presidente Lula
Desde que assumiu, Lula tem sido execrado publicamente de forma cruel e desumana. Tornou-se o alvo predileto de pessoas mesquinhas e inescrupulosas, famosas ou anônimas, intelectuais ou analfabetas, sobretudo, e principalmente, de jornalistas venais e raivosos que se servem de seus editoriais para desferirem seus golpes rasteiros. Ao visitar blogs que fazem oposição a Lula chego a ter ânsia de vômito com tanta crueldade e baixaria, impublicáveis, indignas de serem dirigidas a um ser humano. Lula simplesmente sorrir. Ele não diz nada em sua defesa, no entanto, defende a pluralidade de opiniões e o direito que todo cidadão tem de se submeter a um julgamento justo antes de saírem por aí fazendo julgamentos precipitados. Enquanto é maçado pelos covardes, trabalha pelo bem dos que o ofendem, pelo bem da nação, para diminuir as diferenças ainda tão colossais em nosso País e no mundo.
A maior preocupação de Lula é com a pobreza e a fome mundial. Sempre que pode, em suas viagens oficiais, tem criticado os paises ricos que segundo ele poderiam ser mais generosos com os mais pobres.
O presidente Lula é visto lá fora como um grande estadista e os programas sociais do seu governo tem sido implementados com sucesso por outros países. Mas, e por que ele é tão odiado pela mídia e por setores da elite brasileira? Por que será que odeiam tanto um homem que tem feito tudo para dar ao Brasil a condição de País de primeiro mundo? Será por que é nordestino? É por ser de origem humilde e eles odeiam os pobres? É por que não tem curso acadêmico? É por que gosta (como todo bom brasileiro), de tomar umas cachacinhas vez em quando com os amigos, assistindo uma partida de futebol? É por que lhe falta o dedo mínimo e eles, amputados espirituais, odeiam os portadores de deficiências físicas?
O senador Artur Virgílio (PSDB-AM), disse numa entrevista à TV Globo que ele iria sangrar até a morte. E sangra. Ele é humano e a cada invenção de crise, a cada notícia mentirosa, cada chacota e comentário preconceituoso ao seu respeito, ele sangra, mas sangra sorrindo. Lula é o capacho dos colunistas, articulistas, editorialistas da elite branca, fundadores e membros da “Opus Dei”, entretanto, está sempre disposto e solícito, com seu sorriso simpático e otimista, às vezes até ingênuo, a dar entrevistas às emissoras e jornais manipuladores de notícias.
É preciso ter muita coragem para não exigir dessa imprensa covarde e raivosa uma retratação. É preciso muita coragem para sofrer acusações levianas e mentirosas todos os dias sem mover um único músculo em sua defesa. É preciso muita coragem, amor e desprendimento para perdoar essa corja de facínoras. Mas deve doer. Posso sentir seus gemidos a cada sorriso, posso sentir sua apreensão a cada entrevista para não cometer nenhum deslize, o cuidado para acertar, o medo de se expor ao ridículo, na principal atração do circo midiático armado pela imprensa conspiratória e dos setores da direita conservadora.
Lula sangra, injustamente, mas como um homem.
18 de nov. de 2007
17 de nov. de 2007
Deusa da corte
Advogados costumam dizer que há juízes que pensam que são deuses e juízes que têm certeza. É o caso da juíza Adriana Sette da Rocha Raposo, titular da Vara do Trabalho de Santa Rita, na Paraíba.
Nas palavras da juíza: “A liberdade de decisão e a consciência interior situam o juiz dentro do mundo, em um lugar especial que o converte em um ser absoluto e incomparavelmente superior a qualquer outro ser material”.
A consideração sobre a “superioridade” natural dos membros da magistratura faz parte de uma das decisões da juíza. Ela negou pedido de um trabalhador rural por considerar que seus direitos trabalhistas já estavam prescritos. O trabalhador largou o emprego em 1982 e só foi reclamar seus direito em agosto de 2007.
Adriana aproveitou a ocasião de decidir tão magna questão para ressaltar, em poucas palavras, toda a magnificência da profissão dos juízes. O trabalhador, além de perder a causa, teve de ouvir coisas como esta: “Ele [o juiz] é alguém em frente aos demais e em frente à natureza; é, portanto, um sujeito capaz, por si mesmo, de perceber, julgar e resolver acerca de si em relação com tudo o que o rodeia”.
Inacreditável, não é? Apesar do ataque de juizite, diz a notícia que a juíza de Santa Rita é uma atuante servidora da Justiça do Trabalho na Paraíba. Na próxima quinta-feira (22/11) ela promove em sua cidade, o projeto Conciliar e Arrematar. Pela manhã, haverá audiências de conciliação dos processos cujas partes já foram notificadas. À tarde, os processos que não foram resolvidos através de conciliação terão os bens ofertados em leilão.
Notícia completa no site Consultor Jurídico
13 de nov. de 2007
Efeitos da pena de prisão
A REALIDADE DOS EFEITOS DA PENA DE PRISÃO
Atropela-se mais uma vez a real problemática da pena de prisão, que claramente não atinge nenhum dos fins a que se propunha originalmente. No mundo inteiro o aumento da criminalidade e o medo da violência geram uma enorme demanda por leis penais mais severas. Evidentemente que movimentos como esses vão ao encontro das promessas políticas de candidatos convencidos que prender, prender e prender é a única solução.
Esse ciclo tem se perpetuado há tanto tempo a ponto de as reais conseqüências do aumento da população carcerária ficar completamente desconhecido do cidadão comum, que é quem paga os impostos, mas acredita que só a condenação e o aprisionamento de todos os tipos de criminosos resolverá a questão da violência nas nossas cidades.
A realidade, entretanto, é bem outra. A fase da execução penal é, senão, a mais importante do processo penal. É quando se executa e se administra o poder de punir do Estado. É o início e não o fim; é nesta fase que esperamos que o condenado tenha a chance de se recuperar e que no seu retorno ao convívio social esteja preparado para uma vida honesta e digna. Esse objetivo é ao que os grandes penalistas desde o século XVII aspiraram, mas que no mundo inteiro se perdeu diante da crônica falta de atenção aos problemas do sistema penitenciário.
Um dos maiores obstáculos para a reforma do sistema penitenciário é, sem dúvida alguma, a falta de informação é ainda agravada pelo sensacionalismo da mídia, que lucra e investe em programas que exploram o medo da violência. Apesar de ser importante a publicação e transmissão de casos criminosos, é também de fundamental importância que a mesma mídia esclareça que tais casos de crimes violentos representam uma minoria, e que infelizmente não são esses criminosos que lotam nossos presídios atualmente.
A grande maioria dos presos que cumprem pena atualmente foram condenados por crimes não violentos e inevitavelmente retornarão ao convívio social. É neste estágio que devemos todos nos concentrar: ELES RETORNARÃO. E ao serem reintegrados ao mundo, trarão consigo as experiências vividas na prisão, e são essas experiências que determinarão o futuro da vida em liberdade.
A sociedade, os políticos e o sistema judiciário devem se integrar para que o objetivo da recuperação e reabilitação do interno seja ressuscitado. Atualmente os índices de reincidência são altíssimos no mundo inteiro, o que mais uma vez comprova a falência da pena de prisão como é aplicada atualmente.
Sabemos que o sistema penitenciário é um setor do governo altamente sensível aos ânimos sociais e à manipulação política, o que sempre causou uma distorção da realidade carcerária. Este ciclo não é, entretanto, um fenômeno tipicamente brasileiro. A reforma da pena de prisão tropeça nesses obstáculos no mundo inteiro. Penalistas de países como os Estados Unidos lutam para educar e esclarecer a população sobre as limitações das prisões, na esperança de que políticos não abusem do discurso sobre a radicalização das políticas de execução penal.
Quanto mais os políticos e a sociedade se convencerem dessa realidade, mais espaço teremos em nossas prisões para aqueles criminosos notoriamente violentos e irrecuperáveis como, por exemplo, os nocivos traficantes de drogas do Rio de Janeiro e do resto do país.
Elaine Coelho é advogada formada em Direito pelo Uniceub e também jornalista formada em Jornalismo pela Unb; é mestre em Criminologia e Justiça Criminal pela Southern Illinois University.
Fonte:jornal Recomeço - edição 80
9 de nov. de 2007
Racista condenado
8 de nov. de 2007
Mais fotos da APAC-LEOPOLDINA
7 de nov. de 2007
APAC de Leopoldina
A capela recuperada, mas encontrada com as pedras da parede à direita cobertas de cimento.
Amanhã, postarei mais fotos das belezas do local.
6 de nov. de 2007
Edição 136
Já está no site do Recomeço a edição 136, com textos de 14 detentos das unidades prisionais de Leopoldina e Cataguases.
3 de nov. de 2007
Beltrane e Eichmann
PARECENÇA ENTRE OS TIRANOS
No interrogatório do seu julgamento pelo holocausto dos judeus na 2ª guerra mundial, Eichmann declarou que não se arrependia de coisa alguma, porque "arrependimento era para criancinhas"(está no livro "Eichmann em Jerusalém", de Hannah Arendt, p. 36).
Penso que o tirano secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrane, dirá o mesmo no dia do seu julgamento pelo holocausto nas favelas, julgamento este que, se não for nesta vida, será na outra (dizem os religiosos que existe). Tomara!
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ENTREVISTA
" Porque um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?”, declara o Secretário José Mariano Beltrane na entrevista ao site do Paulo Henrique Amorim. (clique aqui para ler a entrevista)
Impressionante o fascismo escancarado no Brasil. No site, sobre a entrevista, há dezenas de comentários dos leitores parabenizando o secretário fascista por sua proeza de matar tanta gente. Um dos leitores escancara o racismo ao referir-se aos dois fugitivos tentando se salvar dos tiros da polícia no helicóptero (na postagem Genocídio (3)) como "neguinhos":
(...) Dois neguinhos com armamento anti-aéreo tentando abater um helicóptero com funcionários do estado, que vistoriava a região...
Fernando Marques
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Beltrame é ovacionado em festa do lançamento de um novo carro da Citroen
A nossa elite desvairada e burra ovaciona o sósia de Eichmann. Leiam o episódio noticiado no suplemento Veja Rio, logo após as mortes anunciadas no Complexo do Alemão:
"Faltavam vinte minutos para a cantora Marisa Monte subir ao palco quando o presidente da Citroën do Brasil, Sérgio Habib, assumiu o microfone. O show, na casa de espetáculos Vivo Rio, marcaria o lançamento de um novo carro da marca. Depois dos agradecimentos de praxe, Habib pôs-se a citar alguns presentes entre os 3 200 convidados. Quando anunciou o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a platéia veio abaixo. Beltrame foi ovacionado numa noite em que a estrela era Kiefer Sutherland, o performático agente federal Jack Bauer da série americana 24 Horas, contratado como garoto-propaganda do novo carro. O episódio aconteceu na semana passada, poucos dias depois da megaoperação policial no Complexo do Alemão." (Suplemento Veja Rio)
2 de nov. de 2007
Polícia: Inglaterra e Brasil
"A polícia britânica foi condenada ontem a pagar uma multa de 175 mil libras (R$ 630 mil) por erros que levaram ao assassinato, por engano, do brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô de Londres em 22 de julho de 2005. Além da multa, a polícia também terá de pagar os custos do processo, de 385 mil libras (R$ 1,4 milhão), o que eleva o valor total para mais de R$ 2 milhões."
- Enquanto isso, no Brasil, mata-se a granel. Se a polícia brasileira fosse julgada pelos milhares de jean charles executados nas favelas e periferias, a instituição teria de sumir do mapa. E pior do que a impunidade da polícia, é a parceria estado-polícia-imprensa-sociedade, todos torcendo pela mortandade de pobres e negros. Pergunto: quanto tempo ainda levará para que nos tornemos um país humano e civilizado?
Aqui as instituições e autoridades nunca são julgadas pelos seus atos. Vejam o depoimento do secretário de Segurança do Rio sobre o relatório de execução sumária:
"A conclusão da perícia independente foi desqualificada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio. Em nota, o secretário José Mariano Beltrame disse que os peritos responsáveis pela elaboração não estiveram no Rio de Janeiro para realizar o trabalho. "Trabalharam única e exclusivamente interpretando o laudo realizado pela Polícia Técnica do Rio de Janeiro, o que o desqualifica sob a ótica da ciência da perícia técnica."O secretário também afirmou que a análise divulgada é resultado de pressão de entidades de direitos humanos."
Simples, não? Estamos entendidos e fim de papo. Continua-se a matar.
Laudo independente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, feito a pedido do próprio governo do Rio, aponta que, "com grau de certeza", houve "execução sumária e arbitrária" dentre as 19 mortes que ocorreram durante operação policial, em junho, no conjunto de favelas do Alemão, na Penha, zona norte do Rio.Segundo o documento, em ao menos duas mortes, as de José da Silva Farias Júnior e Emerson Goulart, "foram encontradas evidências de morte por execução sumária e arbitrária". O governo do Rio contesta a avaliação (leia texto abaixo).A perícia independente indicou ainda que cinco dos mortos foram atingidos por tiros de curta distância e que, em 14, foram encontrados 25 tiros que os atingiram pelas costas.O laudo concluiu ainda que seis dos mortos foram baleados no crânio e na face, e que os 19 mortos foram atingidos por pelo menos 70 tiros, sendo 75% em regiões mortais.A análise pericial independente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República foi enviada ontem ao governo do Rio.