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25 de mai. de 2008

O escritor Roberto Freire

Morre escritor e terapeuta Roberto Freire
Sem o saber, Roberto Freire escreveu sobre o sofrimento dos presidiários. A maioria dos presos nos cárceres superlotados é oriunda do envolvimento com uso de drogas. São o produto de uma sociedade autoritária e doentia, que não propicia qualidade de vida. Os pobres, para sustentarem o vício, se envolvem com o tráfico e daí vão parar nas prisões. Não há no país programas de saúde pública para atender aos usuários das classes mais pobres. Para eles, só cadeia. Imaginem o sofrimento dessas pessoas atrás das grades, sem nenhum ajuda médica para enfrentar a abstinência. Daí a ânsia pela droga dentro das prisões.
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Neste final de século, a ciência, a tecnologia e o consumo, levaram o homem moderno a uma situação paradoxal: temos condições como nunca de termos uma melhor qualidade de vida, mas parece que perdemos a capacidade de simplesmente curtir a vida. A satisfação pessoal tornou-se acessório no ritmo massacrante do cotidiano, cheio de stress, violência e injustiças. É neste quadro que a obra e a vida de Roberto Freire são um referencial fundamental para se discutir os caminhos do futuro.Para a juventude, Roberto Freire virou ícone ao publicar o livro Sem Tesão Não Há Solução. Freire traduziu a transformação semântica que os jovens deram a palavra tesão, passando a ter uma conotação mais ampla que somente a sexual, exprimindo tudo o que representa beleza, alegria e prazer. A busca do tesão no cotidiano e a vivência de todos os vexames necessários à liberdade passaram a ser bandeiras defendidas em seus livros, peças, ensaios e muitas outras atividades desenvolvidas durante sua inquietante e apaixonada atuação na cultura nacional. (Fonte aqui)

Trecho do livro "Sem tesão não há solução" leia
(Editora Guanabara, 1987 – págs. 96, 97)
"Admiro e respeito muito as pessoas que ainda contestam, que se insurgem, seja de que modo for, contra as restrições ao seu tesão de viver. Refiro-me aos drogados, aos marginais, aos loucos, aos suicidas, aos ladrões, aos criminosos, enfim, a todas essas pessoas subversivas que buscam nessas formas de rebeldia existenciais e desesperadas o caminho para o seu protesto, a sua dissidência, a sua contestação aos sistemas sociais genocidas."
"Retirar a droga da pessoa dependente, sem eliminar a causa que produz os sintomas neuróticos, é uma coisa que me parece tão cruel e absurda como realizar atos cirúrgicos sem qualquer anestesia dispondo-se dos recursos necessários para aplicá-la."
"Portanto, a minha conclusão a esse respeito é a seguinte: o consumo excessivo, impróprio e dependente de drogas por parte dos jovens é um dos pesados e dramáticos ônus, entre muitos outros, que as sociedades autoritárias terão de pagar por crimes que praticam impunemente contra a liberdade geral do ser humano. Elas poderão dominá-los, escraviza-los e castrá-los, mas os terão cada vez mais fracos, doentes, dependentes, incompetentes e alienados para servi-las. Suportar o autoritarismo do capitalismo burguês, só mesmo drogado."

Sobre sua morte, foi publicado na Folha de São Paulo hoje:
O escritor e terapeuta Roberto Freire, criador da somaterapia, baseada nas teorias psicanalíticas do austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), morreu na noite de sexta-feira, aos 81 anos, em São Paulo. A notícia foi divulgada ontem. Em respeito a um pedido deixado em carta por Freire, não houve cerimônia fúnebre, e seu corpo foi cremado ontem, no cemitério de Vila Alpina. A família não divulgou a causa da morte. Freire deixa três filhos: Pedro, Paulo e Roberto.
Trajetória
Roberto Freire nasceu em 1927, em São Paulo. Formado em medicina com especialização em psiquiatria, teve também uma presença marcante na vida intelectual e cultural brasileira, atuando como escritor, dramaturgo, cineasta, roteirista de TV e jornalista.Além dos livros ligados à sua "filosofia do tesão" e à Soma, como "Sem Tesão Não Há Solução" e "Ame e Dê Vexame", Freire alcançou grande sucesso com o seu primeiro romance, o best-seller "Cléo e Daniel" (1966), adaptado por ele mesmo para o cinema em 1970, com Myriam Muniz, John Herbert e Sônia Braga no elenco. Parte de sua bibliografia foi relançada pela editora Francis.
Na TV, Freire escreveu para o programa "TV Mulher", para o seriado "Obrigado Doutor" e ainda os primeiros capítulos da novela "O Amor É Nosso", de 1981, todos na Rede Globo.Como jornalista, escreveu para as revistas "Realidade" e "Caros Amigos", entre outras. No teatro, Freire lecionou na EAD (Escola de Arte Dramática) a convite de Alfredo Mesquita e dirigiu espaços como o Teatro Brasileiro de Comédia e o Tuca, vindo a conviver com Sábato Magaldi, Flávio Rangel, Plínio Marcos, Flávio Império, entre outros.Em 2003, aos 77 anos, Freire lançou sua autobiografia "Eu É um Outro" (Maianga, R$ 39, 448 págs.).
Na época, em entrevista à Folha, ele falou sobre o amor: "Do amor pode-se fazer uma necropsia, nunca uma biópsia. Se eu examiná-lo, paro de amar. O amor não é para ser entendido, mas sentido, experimentado".
E da velhice: "Sempre fui um cara muito ativo, muito criativo, viajante, movido pela paixão. Agora, na velhice, as doenças me imobilizam. Hoje (...) sou impotente para escrever, que é o que mais gosto de fazer".

3 comentários:

  1. Anônimo28/5/08

    Olá Gloria...

    Passando para apreciar o blog...


    Com certeza a morte do Roberto é uma grande perda..

    Abraços
    Neemias

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  2. Anônimo20/9/08

    obrigado pelo post, nunca li nenhum livro dele mas o farei em breve!

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  3. Anônimo22/9/08

    Leia sim, Leandro. Robeto Freire é um marco na vida da gente, abre caminhos da mente e do coração. Abraços.

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