Edição 132 - Texto 7
OPINIÃO
Triste, solitário e confuso. Lembrei-me das tristezas da vida, toda a miséria, ganância, doença, pobreza e a fome que consome a humanidade. A falta de estrutura e convivência que vive o homem. Dos filhos que perdem a mãe, das mães que perdem os filhos, das injustiças, dos crimes bárbaros e das cicatrizes causadas pela sociedade.
Lembrei-me de quando eu era adolescente e as dificuldades que eu e sociedade criavam para a formação do meu caráter. Da educação, generosidade e formação doada pela minha mãe. E nem sempre foi aproveitada por mim.
A tristeza, a solidão e confusão foram se abrindo como sol num dia nublado. Tudo foi ficando mais claro e constatei que a minha vida era de plástico, que estar viva era uma graça, um milagre.
E se tudo é alegria por saber que, mesmo estando num lugar deste, se eu quiser posso mudar a minha vida, a minha cidade e até mesmo o mundo fazendo a minha parte, em cada acordar neste lugar ou ate mesmo em outro lugar do mundo é sempre uma nova chance de começar de novo.
Sempre podemos consertar nossos erros ou até mesmo ter a oportunidade de errar de novo. Seja preso ou livre, doente ou com saúde, feliz ou infeliz, não importa, faça da sua vida uma vitória a cada amanhecer, a cada dia.
Só nós sabemos o que é melhor pra nós. E se você amanhecer no outro dia, faça melhor pra sua vida.
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A diferença
Ë uma realidade que a população carcerária de homossexuais vem aumentando a cada dia. Nas cadeias, nos presídios e nas penitenciárias. Cometem todos os tipos de crimes tráfico, seqüestro, assalto, homicídios, pedofilia, estupros, estelionato e até mesmo crimes leves.
Nas grandes cadeias, presídios e penitenciarias têm pavilhões, celas, galerias que separam os homossexuais do convívio com os heterossexuais por conta da discriminação.
Mas o que leva os homossexuais a cometerem crimes hediondos e leves? Pois são pessoas inteligentes, sensíveis, dotados de talentos, interessados em aprender e na maioria voltados para a ética e honestidade.
Na verdade o que leva certos homossexuais a cometerem crimes são os mesmos motivos que levam os heterossexuais. A falta de condições, as necessidades, o descaso e a falta de oportunidade. A opção sexual não tem nada a ver com a conduta ou qualquer outro atributo social. Vejo que o trabalho, a oportunidade, os benefícios ajudam na recuperação de todos por igual. No caso dos homossexuais cursos de cabeleireiro, corte e costura, decoração e artesanato, daria mais condições de recuperação devido à vocação.
Eu sou homossexual eu não sofro com a discriminação explícita, pois vivo no convívio. Sou tratado com respeito, dignidade, mas às vezes me sinto como um peixe fora d’água, sem condições e estruturas para a minha recuperação. Falta mais incentivo não só para pessoas na minha condição, mas para todos que querem sair deste lugar de cabeça erguida. Penso comigo, como seria se eu tivesse num presídio ou numa penitenciária, poderia ser melhor ou pior?
Eu sofreria mais discriminação do que estar no lugar onde sou conhecido e respeitado.
Não falo por mim e nem das condições que estou, falo pelos companheiros homossexuais que estão sofrendo ou até mesmo cumprindo pena numa dessas penitenciárias de que ouço falar.
Na verdade tenho que agradecer a Deus por ser um detento homossexual na cadeia de minha cidade, perto de meus familiares e convivendo com detentos que respeitam o meu jeito de ser. Trabalho na faxina e convivo 24 horas com todos os detentos que respeitam o meu jeito e me tratam de igual para igual, apesar da minha opção sexual.
Quero é agradecer a todos os detentos desta cadeia que me respeitam e não fazem da diferença uma forma de agressão. E a todos homossexuais que estão presos em alguma cadeia, penitenciária ou presídio, que são tratados com respeito e dignidade, ou até mesmo os que são tratados com discriminação e indiferença, que não percam a fé, não deixem a sua dignidade ser abalada e que usem a sua vocação e seu talento para se recuperar.
E aos heterossexuais também, que aproveitam todas as chances melhores. A hora é agora e não se pode perder tempo. E viva a diferença em todos os sentidos, pois ser diferente não é uma doença e sim uma opção.
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