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20 de set. de 2008

Apelo de um detento

Júlio César de Souza Félix
MEU APELO

Gostaria muito de conseguir uma advogada que realmente me olhe como eu sou interiormente e me ajude a voltar à liberdade
Estar em contato diariamente com pessoas que já cometeram diferentes transgressões nos colocam dentro de um contexto em que aprendemos a superar a nós mesmos. Eu, antes, reclamava quando o sol estava quente demais e agora o que eu mais queria era estar livre e poder sentir o sol em meu rosto e, ao mesmo tempo, deixar escorrer a lágrima que automaticamente rolará, em agradecimento a Deus.
Estou apenas desabafando...
Todos sabem muito bem o que é estar aqui, sabem do desejo que todos alimentam dentro de si de retornar à liberdade. Dizem que “os fins não justificam os meios”, mas todos nós, seres humanos, temos o dever de ser sinceros e expor a nossa tribulação.
Estou aqui porque não souber ser sábio e quando passei fome, eu me desesperei e peguei num curral os fios de eletricidade para comprar alimento. Naquele momento, eu estava perplexo, não agüentava mais de fraqueza.
Depois de mais ou menos um ano e 6 meses, eu não fui encontrado para receber e assinar as intimações porque eu moro na roça e poucas pessoas, ao certo, sabiam como chegar até lá.
Os policiais militares sabiam e até, reafirmaram que realmente é um local bem longe da cidade. E agora, eu estou me sentindo em total abandono, eu gostaria muito que Deus me desse essa vitória, de eu conseguir uma advogada que realmente me olhe como eu sou interiormente, e me ajude a voltar à liberdade.
Peço em nome de Jesus, me ajudem! Eu me proponho a trabalhar em qualquer lugar que for determinado e cumprir com responsabilidade e boa vontade, a qualquer ordem superior, sem vir a descumprir datas, horários e locais.
Eu não sou foragido, usuário de drogas, não uso bebidas alcoólicas e não ofereço nenhum perigo à sociedade.
Ajudem-me a conquistar a oportunidade de trabalhar para que eu possa reconquistar minha dignidade e poder assim fazer algo em prol da cidade onde moro.
Por eu estar morando na roça e não ter contato com os parentes, eu não soube que o oficial de justiça estava me procurando para eu assinar e comparecer perante o senhor Meritíssimo Juiz, para responder dignamente por minha transgressão, fato esse que causa profundo arrependimento e lamentação por eu ter me deixado abalar por não ter naquele momento, o que fazer para comer. Bem: eu peço perdão a Deus em nome de Jesus.
E creio que tudo posso naquele que me fortalece. Peço ao senhor Deus que abençoe e ilumine a vida do Meritíssimo Sr. Juiz, dos Promotores, dos advogados e a todos os que direta ou indiretamente nos dão uma oportunidade de termos mais responsabilidade para nós mesmos. Um forte abraço.
NOTA - Quando recebemos este texto para publicação na edição 147 do Recomeço, entramos em contato com a Defensoria Pública da Comarca de Cataguases e após a atuação da defensora pública, comunicamos que Júlio César foi liberado, depois de cumprir dois meses de prisão.
(Os textos são em parte corrigidos (ortografia, pontuação) para maior legibilidade e conforto da leitura, mas é totalmente mantido o conteúdo e a forma de se expressar dos presos)

2 comentários:

  1. Anônimo21/9/08

    Que desabafo comovente desse detento! Penso que como ele devem existir vários nas prisões do Brasil. Se a defensoria pública funcionasse realmente isso naum aconteceria.
    Fiquei feliz de ler a notícia da soltura do rapaz. Que Deus o abençoe.

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  2. Anônimo21/9/08

    Bom ler um texto desses para a gente poder dar valor a tudo que tem. Parabéns ao trabalho de vcs em ajuda a essas pessoas.

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