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31 de out. de 2008
Sarau de sábado
Projeto "Menos Presos, mais Cidadão”
30 de out. de 2008
População tenta linchar policiais
29 de out. de 2008
Educacão na prisão
As condições educacionais nas casas de detenção dos estados de Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal serão o alvo de investigação da Relatoria Nacional para o Direitos à Educação, comissão ligada à Plataforma Dhesca de Direitos Humanos. As investigações começam nesta semana pelo estado de Pernambuco.
João Baptista Herkenhoff
Cidadãos ou profissionais, todos estamos dentro dessa nau. De minha parte foi como profissional que fiz a viagem. Comecei como advogado, integrei o Ministério Público, fui Juiz Suplente do Trabalho. Após cumprir esse rito de passagem, vim a ser Juiz de Direito porque a magistratura comum era mesmo o meu destino. Eu seria juiz no Espírito Santo, como juiz em Santa Catarina fora meu avô materno, aquele velhinho estudioso e doce que, na infância, tanto fascínio exerceu em mim.
Estamos num mundo de intercâmbio, de diálogo, de debate.
Se quisermos servir ao bem comum, contribuir com o nosso saber para o avanço da sociedade, impõe-se que abramos nosso espírito a uma curiosidade variada e universal.
João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com
28 de out. de 2008
Texto de um detento
A natureza indefesa
Por que chora?
Choro por mim, por você, por tudo.
Choro pela natureza destruída pelo homem, choro pelas árvores indefesas que não podem correr e se defender quando lá vem o homem com suas motos-serra para pôr fim àquela linda árvore indefesa.
Choro pelos pássaros que vivem presos em armadilhas e em gaiolas sem direito a liberdade e condenados até a morte.
Choro pelos animais que são enjaulados em circos, sendo maltratados e obrigados a dar lucros aos donos, e depois são abandonados na velhice porque não servem para mais nada.
Choro também pelos rios que secam, pelos peixes mortos, envenenados por produtos tóxicos colocados pela mão do homem.
Choro por tudo e por todos que são manipulados e dominados pelo homem.
Não choro pela chuva que cai sobre a terra e nem pelo sol que anuncia o dia, nem pela lua de noites clara, nem pelo vento que sopra forte, por que estes não são dominados pelo homem.
O homem não pode dominar e nem impedir o vento de soprar, a chuva de cair e nem apagar o brilho do sol e da lua.
Eu choro por todos, por tudo, mas não choro por homens sem consciência e sem piedade.
27 de out. de 2008
TUDO EM CASA
Os magistrados participarão do 1 Seminário das Empresas de Saneamento Básico no Estado do Rio de Janeiro. Eles vão discutir assuntos como a lei que regula o serviços de água. O evento é organizado pela Associação de Magistrados do Rio. Despesas divididas
A conta dos 150 apartamentos do hotel, que incluem suítes com saídas exclusivas para a praia, cujo o valor total é de R$ 159.300, será rateada em partes iguais pela Cedae, Prolagos e Águas de Niterói.
As três empresas patrocinam o seminário. A Cedae já depositou a sua parte, em dinheiro. O contrato com hotel foi feito com dispensa de licitação, no valor de R$ 53.100.
O deputado Comte Bittencourt (PPS) disse que irá pedir que o Ministério Público (MP) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) supervisionem a legalidade do contrato entre a Cedae e o hotel de Mangaratiba.
Cada uma das três empresas terá 20 funcionários participando do seminário, ou seja 60 pessoas no total.
O restante dos apartamentos será ocupado por juízes, desembargadores e palestrantes, que serão convidados pela Amaerj.
Cedae: encontro é uma oportunidade única
Leonardo Espínola, diretor jurídico da Cedae, defendeu, ontem, a realização do seminário com parte das despesas pagas pela empresa.
- É uma oportunidade única de esclarecer com juízes e desembargadores questões sobre o funcionamento da Cedae - disse.
Espínola alegou que o resort foi escolhido para sediar o encontro por uma questão logística.
- Foi uma escolha conjunta da Amaerj com as três empresas. A Costa Verde fica próxima ao Rio e o hotel escolhido tem suporte para realizar o evento - concluiu o diretor.
A Amaerj confirmou que as empresas de concessão de água tem inúmeros processos em trâmite no Tribunal de Justiça, a maioria por reclamações de direito do consumidor. Por isso, é recomendável que o assunto seja discutido para se chegar a um consenso.
Indicado pela Amaerj para falar sobre o assunto, o juiz Cherubin Helcias assegurou que, apesar das despesas pagas pelas concessionárias, não haverá comprometimento com as empresas:
- Sob a ótica ética não há comprometimento. Prolagos diz que iniciativa é legítima
A Prolagos que administra o fornecimento de água na Região dos Lagos emitiu uma nota oficial confirmando ser uma das patrocinadoras do 1 Seminário das Empresas de Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro. Abaixo, a íntegra da nota: "A Prolagos, concessionária de águas e esgoto da Região dos Lagos, é patrocinadora do seminário que será realizado no próximo mês de novembro, em Mangaratiba, e está sendo organizado pela Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro) e a participação da concessionária é de legalidade indiscutível. Tal evento, que tem como objetivo debater a lei de saneamento, tem formato semelhante a outros já realizados pelos setores elétrico e de telecomunicações".
Fonte: jornal Extra online
COMENTÁRIO - É tanto abuso que dispensa comentário. Só acrescento a excrescência do deputado Comte Bittencourt declarar que "Não questiono a Amaerj, mas a Cedae", como se houvesse diferença entre corruptos e corruptores.
26 de out. de 2008
"Crise" não atinge os ricos
"O cliente que perdeu muito dinheiro na bolsa de valores vem comprar um carro para se presentear com algo que compense. É como se fosse uma forma de amenizar o sofrimento”
"Nas joalherias, a situação não é diferente. As marcas mais luxuosas vendidas na Manoel Bernardes, como as suíças Rolex e Omega e a alemã Mont Blanc, não sofreram nenhum arranhãozinho nas vendas."
"...as vendas de produtos com preços acima de R$ 8 mil, como as jóias com pedras brasileiras, não tiveram queda na procura.”
"Na concessionária, o modelo mais barato da Audi custa R$ 132 mil. Os mais caros podem chegar a R$ 700 mil. Em outubro, as vendas da loja aumentaram 40% em relação aos meses anteriores."
No segmento de vestuário, o cenário é o mesmo. “Ainda não sentimos o efeito da crise”, afirma Érika Mares Guia, diretora da loja M&Guia. Com ou sem crise, a marca começa a se lançar no projeto de “democratizar o luxo”, com produtos da marca a preço médio de R$ 475.
"No segmento imobiliário, a crise tem dois lados. “Temos aquele cliente que espera para ver como vai ficar a situação, com medo da crise. Outros estão mudando os investimentos e voltando as aplicações para os imóveis”, afirma Ítalo Gaetani, diretor-superintendente da construtora Castor, que atua há 26 anos no mercado de alto luxo. Os imóveis da construtora têm preço a partir de R$ 1,8 milhão. As vendas para 2008, segundo Gaetani, devem ficar entre 20% a 25% acima de 2007. “Até agora não fomos atingidos pela crise. Nossa expectativa é de que não haja mudança nos números. Mas somos uma economia global. O dia em que a bolsa e o dólar estiverem estáveis, vou enxergar um patamar mais equilibrado”, diz. "
25 de out. de 2008
Recomeço impresso 148
A voz dos detentos
Ano 8 - Número 148 - Outubro de 2008
______________
Abertura
Meu prêmio: ser poeta do povo
Pablo Neruda
Matérias
Juiz que não recebe advogados... - Consultor Jurídico
E agora, prefeitos e vereadores? - João Baptista Herkenhoff
Textos dos detentos
- O modelo carcerário é ineficiente
- A natureza indefesa
NOTA - No site, clicando em Edição 148, você lê o jornal impresso na íntegra
Sábado no Recomeço
Chico Buarque de Hollanda / João Cabral de Mello Neto
24 de out. de 2008
Venda de sentenças
"É inadmissível a corrupção dentro da Justiça. Um magistrado corrupto supera, em baixeza moral, o mais perigoso e sórdido bandido."
(João Baptista Herkenhoff)
Leia a notíciaJuíza Maria Cristina Barongeno é afastada pelo TRF-3
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP e MS) afastou a juíza Maria Cristina de Luca Barongeno de suas funções como titular da 23ª Vara Cível de São Paulo. Ela foi denunciada pelo Ministério Público Federal, ao lado de três membros do TRF-3, na Operação Têmis, que apura a venda de sentenças por juízes federais em São Paulo.
Segundo o blog do repórter Frederico Vasconcelos, é a segunda vez que a juíza é afastada. No dia 22 de setembro, a presidente do tribunal, Marli Ferreira, assinou o Ato 9.097, formalizando decisão do Órgão Especial em processo administrativo no qual foram apurados fatos ligados a decisões judiciais que supostamente favoreciam bingos.
No dia 8 de outubro, Marli assinou o ato 9118. Por esta decisão, ela foi afastada por causa de pedido de providências para apurar operações envolvendo os chamados "títulos podres", papéis emitidos pela União no início do século passado.
Esses títulos foram reconhecidos pela magistrada para sustar a cobrança de impostos devidos por empresas. Nos dois casos, o TRF-3 determinou que a juíza fique fora do cargo pelo prazo de 90 dias, prorrogável até o dobro, sem prejuízos dos seus vencimentos e suas vantagens.
No junho do ano passado, a Folha de S.Paulo informou que o MPF acusa a juíza Maria Cristina de ter avocado para si processo do frigorífico Friboi, do qual o seu pai, Joaquim Barongeno, é um dos advogados. Em 2002, a juíza concedeu liminar para a Friboi usar títulos emitidos em 1932 pela "Cie. Du Chemin de Fer Victoria a Minas", suspendendo a exigibilidade de tributos ou de contribuições previdenciárias da filial do frigorífico em Andradina (SP).
A liminar foi cassada em 2003 pela desembargadora Cecília Marcondes. Em dezembro de 2006, Maria Cristina deu sentença confirmando aquela liminar e determinou a atualização dos valores pela paridade franco-ouro. A jurisprudência do STJ determina que esses papéis não podem ser dados como garantia em execução fiscal.
Em outra operação, uma professora aposentada e uma comerciária, representadas pelo pai da juíza federal, cederam parte de apólices da dívida pública para empresas. Com esses títulos podres, as empresas conseguiram decisões de Maria Cristina para sustar a cobrança de impostos não pagos.
O MPF considerou inadequadas as decisões da juíza e afirmou que ela deveria ter-se declarado suspeita para julgar as ações da Friboi e da Gocil.
Juízes afastados
No dia 1º de outubro, o TRF afastou o juiz federal Djalma Gomes por causa das acusações na Operação Têmis. Ele ficará afastado por 90 dias, que podem ser prorrogados, sem prejuízo dos seus vencimentos. Os desembargadores Roberto Haddad, Alda Basto e Nery da Costa Júnior também foram denunciados pelo subprocurador-geral da República Francisco Dias Teixeira por formação de quadrilha, exploração de prestígio, tráfico de influência, prevaricação e corrupção.
Revista Consultor Jurídico, 24 de outubro de 2008
22 de out. de 2008
Carta de Brasília
O Conselho Federal da OAB, junto com outras associações e sindicatos nacionais, publicou nesta quarta-feira (22/10) a Carta de Brasília. Nela, as entidades expressam preocupação com a situação da democracia no Brasil e exigem o fim de práticas que criminalizam os movimentos sociais e a organização de trabalhadores. As entidades concluíram que a Polícia e a Justiça estão sendo usadas para oprimir os trabalhadores e os pobres em geral.
Assinam também a carta a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e mais cinco entidades que participaram do seminário A criminalização da pobreza, das lutas e organizações dos trabalhadores, encerrado nessa quarta-feira (22/10).
As entidades decidiram instituir um fórum nacional para tratar do assunto que, sob a coordenação da OAB, se reunirá regularmente para receber denúncias, examinar situações e propor medidas de combate à criminalização dos movimentos e lutas sociais.
TRECHO DA CARTA: "São quase diários os massacres de jovens e trabalhadores, negros e pobres em sua imensa maioria, em algumas cidades do país, assassinados pela polícia do Estado em operações voltadas pretensamente para o combate ao crime organizado."
Caso Eloá: operação tabajara
A polícia paulista está sendo treinada para compensar com dissimulação atos de rebeldia e incompetência
NÃO É O CASO de começar o que o governador José Serra chamou de "guerra de informações", em torno dos desastres de seus policiais. Nas guerras prevalece o mais forte, e nem sempre ele tem razão.
20 de out. de 2008
Manifesto de Pedro Cardoso
Leia o seu manifesto - CLIQUE AQUI
Persona non grata
Ali Kamel 7 (3%)
Diogo Mainardi 49 (24%)
Reinaldo Azevedo 5 (2%)
Daniel Dantas 15 (7%)
Fernandinho Beira Mar 11 (5%)
Gilmar Mendes 85 (42%)
Galvão Bueno 26 ( 13%)
19 de out. de 2008
Polícia precisa mudar
18 de out. de 2008
Temos, todos, as mãos sujas de sangue
Jornal Folha de S.Paulo , quinta-feira, 22 de novembro de 1984
Somos todos culpados, porque temos sido omissos, ou, pior ainda, cegos diante da situação dos miseráveis deste País. Muitos dirão que a carapuça não lhes serve, que têm brigado, a vida toda, pela solução desses problemas.
Sabemos que há terror, muito terror, na periferia. Que crianças passam fome, e morrem – ou em “vendetas”, ou vitimadas por balas perdidas, ou queimadas no barracos onde ficaram trancadas porque os pais saíram para trabalhar.
Sabemos, mesmo? Não. “Temos notícia” de que isso ocorre, o que é muito diferente.
Não adianta ninguém querer se enganar: somos todos culpados pela escalada de violência que a todos assusta (egoisticamente).
É preciso mudar. Que Igreja, governos de Estado, Prefeituras, Associações de Moradores de Bairros, entidades empresariais e classistas tomem assento ao redor de uma mesa, e estabeleçam planos simples para reduzir a miséria – e, por extensão, a violência. Através da solidariedade, do trabalho voluntário, da mobilização da sociedade – além da pressão sobre os governos de Estado e seus secretários intelectualizados.
A muitos, a proposta parecerá “pequeno burguesa”. Não há nada mais “pequeno burguês”, no entanto, do que a recusa em abandonar o discurso “politizado”, e redescobrir a realidade.
16 de out. de 2008
Secretário ensandecido
15 de out. de 2008
Fascismo nas escolas
Além de asquerosa, é criminosa, porque afronta a Lei federal 8.069 - Estatuto da Criança e do Adolescente - por expor os alunos da escola pública a "tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor" (Art. 18 da lei).
14 de out. de 2008
O RECOMEÇO agradece
O blog Recomeço recebeu estes dois selos que passarei depois para a coluna fixa à direita do blog.
Agradeço o reconhecimento e o carinho da Mayalu Felix pelo meu trabalho.
Blog da Maya
13 de out. de 2008
Intervenção federal em Rondônia
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, solicitou nesta terça-feira (7) intervenção federal no estado de Rondônia em virtude das sucessivas violações de direitos humanos ocorridas na Casa de Detenção José Mário Alves, popularmente conhecida como presídio Urso Branco, na cidade de Porto Velho. Essa é primeira vez que uma violação sistemática de direitos humanos resulta em um pedido de intervenção federal.
A ausência de controle do Estado sobre o presídio e os recorrentes casos de tortura foram denunciados em 2002 pela JUSTIÇA GLOBAL e pela COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ da Arquidiocese de Porto Velho à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ainda em 2002, o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da (OEA) a cumprir medidas provisórias que garantam a proteção à vida e à integridade pessoal dos internos do Urso Branco, a investigação dos acontecimentos e a adequação do presídio às normas internacionais de proteção dos direitos humanos às pessoas privadas de liberdade. Desde então, o descumprimento das determinações motivaram cinco novas resoluções da Corte que reafirmam a sistemática violação dos direitos humanos e a incapacidade do Estado brasileiro em implementar tais medidas.
Em 13 de novembro de 2007 a Justiça Global e a Comissão Justiça e Paz encaminharam ao Procurador Geral da República o relatório “Presídio Urso Branco: A Institucionalização da Barbárie”, que subsidiou o pedido de intervenção federal junto ao Supremo Tribunal Federal (leia a íntegra do relatório AQUI)
Baseados em dados dados da Justiça Global e da Comissão Justiça e Paz, o Procurador ressalta que, apenas de 2000 a 2008, mais de 100 presos foram assassinados no interior do presídio, sob a tutela do Estado.
“Não se fala aqui em 3 presos linchados. Fala-se aqui em dezenas de mortes e dezenas de lesões corporais, frutos de motins, rebeliões, maus tratos, torturas, abandono, falta de cuidado médico e de condições mínimas de saneamento. Isso sem falar na precariedade de assistência jurídica, odontológica, social, educacional, religiosa e laboral.” (parágrafo 57)
O documento da Procuradoria Geral da República (PGR) também chama a atenção para a manutenção da situação de barbárie encontrada no presídio:
“Também não se fala aqui em um fato ocorrido em uma determinada data. Fala-se em atos de barbaridade, violência, crueldade que se arrastam por mais de oito anos. Isto considerando o que se tem por noticiado e documentado, fora, é claro, aquilo que fica encoberto pelas mais diversas razões, facilmente presumíveis.” (p. 58)
(Leia a íntegra da petição AQUI)
URSO BRANCO:
Construído no final da década de 1990 com a função de abrigar apenas presos provisórios, o presídio Urso Branco começou a figurar nas manchetes dos principais jornais do país em 2000, quando uma rebelião terminou com três presos mortos. A COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ passou a acompanhar mais de perto a situação dos internos e denunciar à imprensa e às autoridades a total ausência de controle do Estado sobre a casa de detenção.
Em março de 2002, dois meses após o massacre de trinta presos em mais uma rebelião, a JUSTIÇA GLOBAL e a COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ solicitaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA medidas cautelares para a proteção à vida e à integridade física dos detentos. A despeito da concessão das medidas, o Estado brasileiro não realizou ações efetivas para evitar novos assassinatos, que voltaram a acontecer nos meses de março abril e maio. Diante do descumprimento das recomendações, em junho a CIDH recorreu à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Outras rebeliões ocorreram entre 2002 e 2006. Os presos denunciaram por diversas vezes as condições precárias a que são submetidos e reivindicaram direitos básicos como provisão de material higiênico, acesso à água e respeito às visitas.
Em outubro de 2006, a Secretaria de Administração Penitenciária do estado de Rondônia (SEAPEN/RO) e o Comando de Operações da Polícia Militar do estado de Rondônia (COE) iniciaram o que foi chamado de “Operação Pente Fino”. Durante seis dias, os presos foram obrigados a dormir no chão da quadra de futebol, ao relento, vestidos somente de roupas íntimas. A partir desta operação, há uma intensificação da repressão violenta, , com a adoção da tortura e de execuções sumárias como forma de garantir um “controle” da população prisional.
Foi a rebelião de julho de 2007 que iniciou a discussão sobre uma possível intervenção federal no estado de Rondônia. Na ocasião, o preso José Antônio da Silva Júnior foi executado por agentes do Estado com um tiro na cabeça. Em outubro de 2007, a COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ e a JUSTIÇA GLOBAL escreveram o já citado relatório “Presídio Urso Branco: a institucionalização da barbárie”, que relata casos de tortura e execuções sumárias. Em dezembro do mesmo ano, um motim terminou com o assassinato de dois detentos e um agente penitenciário por armas de fogo. O Governo do estado de Rondônia afirmou em nota oficial que um dos presos havia sido morto por armas artesanais usadas pelos próprios presos, discurso repetido pelo Estado brasileiro junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos. No entanto, o atestado de óbito do detento – documento a que as autoridades públicas tinham acesso – desmente essa versão e confirma a morte por arma de fogo, indicando a possibilidade do crime ter sido cometido por um agente do Estado.
Os casos de tortura e os maus tratos continuam. Em agosto de 2008, a JUSTIÇA GLOBAL esteve no Urso Branco e recebeu informações da COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ de que um preso, W. S., tinha sido barbaramente torturado. Mais uma vez foram constatadas a alta insalubridade do local, a precariedade das instalações, a ausência de atividade laboral e educacional, e a falta de água, de ventilação nas celas e de banhos de sol, além da evidente superpopulação do presídio que afeta os presos e os funcionários.
Até hoje, a despeito dos inúmeros crimes cometidos por agentes do Estado no presídio Urso Branco, ninguém foi responsabilizado.
Pérolas da justiça
11 de out. de 2008
Não ao tratamento cruel nas prisões
O Projeto de Lei 3730/08, do deputado Silvinho Peccioli (foto), estabelece pena de reclusão de três a seis anos e multa para a autoridade policial ou carcerária que submeter preso sob sua responsabilidade a tratamento cruel, desumano ou degradante. A proposta acrescenta um artigo à Lei de Execução Penal (7.210/84).
Ainda há juízes em Berlim (digo, Brasil)
Laerte Braga
Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado do Exército brasileiro não difere em nada de nenhum dos carrascos nazistas nos campos de concentração espalhados por países da Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Comandante do DOI/CODI em São Paulo no período mais duro da barbárie instalada com o golpe de 1964, (1970/1974), é o responsável direto por várias mortes e toda a sorte de violências imagináveis ou não contra presos por crime de opinião.
Janaína de Almeida Teles, Edson Luís de Almeida Teles, César Augusto Teles, Maria Amélia de Almeida Teles e Criméia Alice Schimidt de Almeida, todas vítimas de crime de tortura (hediondo), ajuizaram Ação Declaratória no fórum de São Paulo contra o carrasco Brilhante Ustra.
O juiz Gustavo Santini Teodoro julgou procedente o pedido para decidir que entre as vítimas e Brilhante Ustra “existe relação jurídica de responsabilidade civil nascida da prática de ato ilícito gerador de danos morais”. Condenou o réu às custas e despesas processuais e honorários advocatícios. A decisão do juiz cinge-se a três dos autores, César Augusto, Maria Amélia e Criméia Alice.
“Ato ilícito gerador de danos morais”, na espécie, é tortura.
Para o carrasco, em sua defesa, além dos benefícios da lei de Anistia, a negativa da prática de tortura. Ustra é autor do livro “Rompendo o silêncio, a verdade sufocada”. Tenta negar as barbáries e atrocidades praticadas rotineiramente no DOI/CODI de São Paulo e desqualificar os que o denunciam como um dos monstros mais perversos e cruéis da ditadura no Brasil.
Ligado à Operação Condor (nome dado a operação que uniu os açougues das ditaduras do chamado Cone Sul - Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile), foi parte ativa em seqüestros e assassinatos de líderes da oposição a esses regimes.
A prática de tortura pelo regime dos generais já havia sido reconhecida pela Justiça brasileira no processo movido por Clarice Herzog contra o Estado pela morte de seu marido Wladimir Herzog, mas nunca um dos carrascos havia sido apontado com precisão como agora Brilhante Ustra.
Os presos mortos no DOI/CODI de São Paulo eram entregues às famílias em caixões lacrados e com o aviso que haviam sido vítimas de atropelamento. E nem todos. muitos figuram como desaparecidos.
A decisão do juiz Santini não significa perspectiva de condenação de Brilhante Ustra pelos crimes praticados contra cidadãos sob sua responsabilidade e guarda no sombrio período ditatorial, já que a lei da Anistia busca proteger criminosos como o coronel. Mas incide em responsabilidade civil, o que, na prática, vale como reconhecimento da contumácia odiosa e vergonhosa da tortura.
É um passo expressivo na luta pela abertura dos arquivos da ditadura. Indispensáveis a que os brasileiros das gerações presentes tenham idéia da estupidez e da boçalidade que governaram o Brasil entre 1964 e 1984. E principalmente para desmoralizar o “patriotismo” de figuras abomináveis como Brilhante Ustra. É aquele que o pensador inglês Samuel Johnson chama de “último refúgio dos canalhas”.
Serve para que se possa conclamar à reflexão sobre o período da ditadura militar, oriunda de um golpe contra um governo constitucional, o de João Goulart, ele próprio assassinado pela Operação Condor. A tortura hoje não mudou no que diz respeito às formas e meios, mas usa métodos ditados pelos avanços tecnológicos, sobretudo os da Comunicação.
Cria um mundo em que algozes e vítimas assentam-se à mesma mesa e nenhum dos dois tem ânsias de vômito. É o quem faz e quem deixa fazer.
As Forças Armadas brasileiras resistem à abertura dos arquivos da ditadura com o argumento que o passado deve ser esquecido e que as atitudes dos militares foram necessárias à democracia. Mas a deles. A que implantaram pela força das armas e pela truculência de gente como Brilhante Ustra, escoimado em instrumentos ditos legais como o Ato Institucional número cinco, o famigerado AI-5.
A decisão do juiz Santini, malgrados os limites estabelecidos pela lei da Anistia, escancara uma porta e cria a perspectiva para que famílias de vítimas desaparecidas da ditadura possam continuar lutando para que seus mortos sejam devolvidos e possam ser sepultados de forma decente. E torturados postos na cadeia.
Há quilômetros de distância entre a decência dos presos políticos e a canalhice de torturadores.
Torturadores são os “heróis da covardia”. Brilhante Ustra não é mais que isso.
Um Pastinha da vida, mas é preciso que sejam mostrados em sua dimensão real. A de canalhas.
A decisão coincide com os 41 anos do assassinato de Ernesto Chê Guevara por esbirros do nazi fascismo na Bolívia. Lá já deram a volta por cima, aqui ainda não. Brilhante Ustra está solto.
Aberta a página do site do Tribunal proceda da seguinte forma:
a. Clica em CONSULTAS;
b. " processo;
c. " 1ª Instancia;
d. " capital;
e. " processo civil;
f. " pesquisar;
g. " Fórum Civil João Mendes Júnior;
h. " pesquise só pelo nome CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA;
i. " aparecem dois processos - clique no primeiro(o de 2005);
j. Aparece o resumo do andamento do processo. Clicando em Sentença Completa, cujo link está neste resumo, na parte inferior esquerda.
CRIME É DENUNCIAR
Na prática, além da tortura ser praticada livremente pelo próprio estado, quem denuncia é condenado.
Foi o que aconteceu com o Grupo Tortura Nunca Mais. Leiam:
Campanha Parcerias Solidárias ao Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, movimento suprapartidário criado em 1985, tem assumido nesses 23 anos de existência um claro compromisso na luta pelos direitos humanos. Vem lutando, portanto, pelo esclarecimento das circunstâncias de morte e desaparecimento de militantes políticos durante o período da ditadura militar, pela afirmação de outras memórias históricas, pelo afastamento imediato de cargos públicos de pessoas envolvidas com a tortura, contra as violações que hoje ocorrem cotidianamente e pela construção de uma postura ética, convicto de que estas são condições indispensáveis na luta hoje por um país efetivamente comprometido com a Vida.
Em 2007, o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ foi condenado a reparar, a título de danos morais, os policiais federais Roberto Jaureguiber Prel Júnior, Luiz Oswaldo Vargas de Aguiar, Luiz Amado Machado e Anísio Pereira dos Santos.
O Judiciário entendeu que o GTNM/RJ teria extrapolado no relato dos fatos, acusando os policiais federais da prática de tortura sem que estes tenham sido condenados. O processo foi arquivado sem que se entrasse no mérito da questão. Por esse motivo, foi necessário depositar em juízo a quantia de R$ 46.541,72 (quarenta e seis mil e quinhentos e quarenta e um mil reais e setenta e dois centavos), paga da seguinte forma: a primeira parcela em 11/05/07, no valor de R$ 13.962.50, e 06 parcelas de R$ 5.429.87, pagas em 11/06/07, 11/07/07, 09/08/07, 11/09/07, 11/10/07 e 12/11/07.
Por tudo isso, iniciamos uma nova campanha de parcerias solidárias já que não conseguimos o necessário para cobrir os pagamentos já efetuados. Solicitamos a todos(as) que queiram entrar nesta Campanha que, mensalmente, seja depositada qualquer quantia em nossa conta no Banco Itaú, agência 0389, conta 77791-3, em nome de Tortura Nunca Mais.
Mais uma vez agradecemos o apoio e a parceria solidária de todos(as) neste difícil momento de nossa luta e nos comprometemos a, todo início de mês, lembrarmos via e-mail dessas contribuições.
Pela Vida, Pela Paz
Tortura Nunca Mais!
Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2008
10 de out. de 2008
Desabafo da professora Beth
Fui impedida de fazer inscrições para os Exames Supletivos, que ocorrem semestralmente, de pelo menos 18 recuperandos da APAC de Leopoldina e dos detentos da Cadeia Pública de Cataguases porque eles não tinham o tal do CPF.
Liguei para a agência do correio, onde o Sr. Dimas, embora tenha me atendido com muita urbanidade, disse que não bastava ter a certidão de nascimento, tinha que ter o título de eleitor. Fica mais complicado ainda, pois todos sabemos que preso não vota.
Enquanto a gente faz um esforço hercúleo para tentar mudar o rumo da história de vida de alguns através da educação, vem o estado com sua máquina mortífera da burocracia, com sua indiferença e arrogância, detonar todo um processo de construção de cidadania e dignidade.
Tentamos pedir prorrogação do prazo das inscrições, mas foi em vão, assim como pedimos abrir mão desse documento, já que a maioria tinha carteira de identidade, mas também foi em vão.