Elizabeth Almeida é professora do projeto EJA dentro da cadeia de Cataguases e agente voluntária na APAC* de Leopoldina. Há anos enfrenta todas as pedras no caminho (riscos, resistência das autoridades, sacrifícios físicos e financeiros, etc) para estar lá, atrás das grades junto com os presos, cumprindo sua missão de "tranformar vidas", resgatar o potencial humano de homens e mulheres enquadrados na seletividade do nosso sistema penal.
Aí chegamos ao que deveria ser o mais fácil, o mais simples: fazer a inscrição dos alunos.
Engana-se, leitor!
Chegamos à pedra intransponível: a burocracia.
Depois de toda essa luta, com os alunos preparados, cheios de sonhos e intenções com a possibilidade de obterem seus diplomas dos estudos que não puderam ter na época certa, são barrados pela força de um papel, de um número. Falta CPF para a inscrição.
A professora luta, corre, esperneia, vai em mil lugares, telefona, procura autoridades. Mas o papel tem a força de um tsunami. E ouve NÃO, NÃO, NÃO!
Sua majestade, o PAPEL!
A facilidade com que os presos são marcados por um número de processo criminal acaba quando se trata de obter um número para fazerem os exames supletivos.
Este país é marcado pela burrice: se o curso é para jovens e adultos, ou seja, estudantes fora da faixa etária do curso, como enquadrá-los nas exigências para os alunos regulares?
Segue o desabafo da professora Beth. Se alguém neste país souber como se vence um papel, aceitamos conselhos e sugestões.
"Estou enojada disso, pois de fato a burocracia é um sistema tão poderoso que aniquila todos os direitos individuais e coletivos.
Fui impedida de fazer inscrições para os Exames Supletivos, que ocorrem semestralmente, de pelo menos 18 recuperandos da APAC de Leopoldina e dos detentos da Cadeia Pública de Cataguases porque eles não tinham o tal do CPF.
Liguei para a agência do correio, onde o Sr. Dimas, embora tenha me atendido com muita urbanidade, disse que não bastava ter a certidão de nascimento, tinha que ter o título de eleitor. Fica mais complicado ainda, pois todos sabemos que preso não vota.
Enquanto a gente faz um esforço hercúleo para tentar mudar o rumo da história de vida de alguns através da educação, vem o estado com sua máquina mortífera da burocracia, com sua indiferença e arrogância, detonar todo um processo de construção de cidadania e dignidade.
Tentamos pedir prorrogação do prazo das inscrições, mas foi em vão, assim como pedimos abrir mão desse documento, já que a maioria tinha carteira de identidade, mas também foi em vão.
Fui impedida de fazer inscrições para os Exames Supletivos, que ocorrem semestralmente, de pelo menos 18 recuperandos da APAC de Leopoldina e dos detentos da Cadeia Pública de Cataguases porque eles não tinham o tal do CPF.
Liguei para a agência do correio, onde o Sr. Dimas, embora tenha me atendido com muita urbanidade, disse que não bastava ter a certidão de nascimento, tinha que ter o título de eleitor. Fica mais complicado ainda, pois todos sabemos que preso não vota.
Enquanto a gente faz um esforço hercúleo para tentar mudar o rumo da história de vida de alguns através da educação, vem o estado com sua máquina mortífera da burocracia, com sua indiferença e arrogância, detonar todo um processo de construção de cidadania e dignidade.
Tentamos pedir prorrogação do prazo das inscrições, mas foi em vão, assim como pedimos abrir mão desse documento, já que a maioria tinha carteira de identidade, mas também foi em vão.
Concluo: é assim que de vão em vão a cadeia enche o "papo".
* APAC - Associação de Proteção e Assistência ao Condenado CLIQUE AQUI
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